— O que tá rolando aí? — Jane pergunta do outro lado, provavelmente colada à porta, e eu não imaginava que ela era do tipo que se preocuparia.
Tudo bem. Não sabia que seria hoje, mas aconteceu. Sinto uma cólica que parece que vai me derrubar no chão, e a parte de trás da minha saia está manchada — o que significa que sair desse banheiro com alguém olhando está fora de questão —, porém tenho que manter a calma.
Acabei de falar para Jane que tinha visto sangue, mas, num ato de desespero e tentativa de escape, oro para ela esquecer os últimos dois minutos e finjo que nada aconteceu:
— Jane... você pode me esperar no corredor? Eu já saio do banheiro, aí a gente conversa.
Quase tenho a convicção de que Jane realmente perdeu a memória e vai seguir como se nada tivesse acontecido, mas então ela solta:
— Tá mudando de assunto por quê?
— Hã? Mudando de assunto? Não, eu tô falando pra você me esperar só um pouquinho porque vou usar o banheiro.
— Você acabou de dizer que viu sangue e agora tá mandando eu sair. Tá mudando de assunto.
— O quê? Sangue? Não. Espera só um pouco, e, quando eu sair daqui, a gente conversa.
— Acha que eu tenho Alzheimer?
— Claro que não! Por quê?
— Porque é o que parece.
— É que eu só preciso de um pouco de tempo pra terminar aqui.
— Terminar de limpar o sangue?
Suspiro. Parece que me enganei se pensei que poderia distrair ela.
— Você quer conversar daí mesmo? — pergunto, para adiantar as coisas.
— Você menstruou. Não foi? Pela primeira vez.
Já sem nenhuma outra carta na manga, me rendo:
— Sim. Mas eu queria que você não contasse pra ninguém.
— Você acha que eu sou desocupada assim, é? Tenho coisa melhor pra fazer.
— Entendi.
— Eu tenho absorvente na bolsa. Espera aí que eu vou pegar um pra você.
Quando Jane me socorre com o absorvente, e eu limpo a tampa do vaso para não deixar vestígios, ela volta para a cantina, mas eu, não. Com a saia manchada com algo que claramente todo mundo se toca do que realmente é, como eu vou dar as caras?
Claro. Eu poderia simplesmente dizer que sentei acidentalmente em uma bisnaga de ketchup, mas, sabendo que mentir é pecado, sou impossibilitada de usar essa estratégia, e, por isso, minha primeira atitude é ir até a secretaria relatar o que aconteceu à professora mais apta para ouvir meu segredo e sussurrar no seu ouvido com a maior cautela.
— E você tá com muita dor? — ela pergunta, depois da minha explicação sobre minha situação, minha saia e como não vou saber lidar com isso durante as próximas três aulas.
— Sim — admito, assentindo com a cabeça.
— Tadinha. — Ela passa a mão no meu cabelo com cara de pena. — Vou te dar uma dipirona, e você vai melhorar, mas, como sua saia manchou e é sua primeira vez, vou pedir pra te liberarem.
Meus olhos se iluminam:
— Obrigada mesmo, professora.
— Por nada. E melhoras, viu? Até amanhã. Pode pegar suas coisas e ir. Eu resolvo aqui.
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Abençoada Lana Lis
RomanceLana Lis passa dificuldades financeiras e é importunada pelas colegas da escola desde muito tempo por causa da sua religião, mas tudo muda quando um viúvo rico pede sua mãe em casamento e decide tirar as duas do interior. Agora na cidade grande, alé...