No dia seguinte, como esperado, a primeira coisa que Sue e Bárbara fazem ao me ver quando chego na escola é me abordar — e eu nem preciso perguntar por quê.
Com a minha saída repentina da escola no dia anterior, é claro que as duas se assustaram e quiseram entender a história. E eu, como alguém que não consegue manter segredo meu por muito tempo, conto tudinho.
— Olha só a Lis... Virou mocinha — Sue diz entusiasmada, dando um soquinho leve no meu braço e, claro, usando um tom discreto o suficiente para que ninguém ao nosso redor ouça.
Já eu dou um sorriso amarelo. Apesar de isso ter sido tipo um desastre ontem, Sue falando isso hoje faz parecer uma coisa bem menos assustadora do que pareceu.
— Relaxa. Logo você se acostuma — Bárbara fala, e eu fico um pouco conformada.
Como provavelmente as duas já passaram por isso antes e estão tranquilas, quem sou eu para me desesperar?
— Bom dia, donzelas — Daniel diz assim que aparece no corredor da escola, de mochila nas costas, se aproximando. Então fica entre Bárbara e Sue. — Já cedo aqui em reunião? Falando de quê?
— Nada que seja da sua conta. — Sue cruza os braços e olha para o lado oposto.
— E você também chegou cedo — Bárbara fala.
— Ah... oi, Lis... — Daniel diz assim que olha para mim, provavelmente porque percebeu agora que eu estava aqui, e eu fico tensa.
É a primeira vez que a gente se vê depois de eu sair chorando ontem, e eu não sei nem um pouco como reagir. Daniel está olhando para mim como se tivesse dificuldade de soltar as palavras. Acho que ele está constrangido por causa daquilo, e isso não é nada bom.
O coração começa a acelerar, e o meu mecanismo de defesa para ele não explodir é dar passos para trás e fugir o mais rápido possível, mas, dessa vez, de forma civilizada:
— Oi. Tudo bom? Tô indo pra sala, pessoal. A gente se vê na aula!
Antes que Daniel e as meninas possam dizer mais alguma coisa, eu aceno com a mão e deixo os três plantados no corredor.
Já na sala de aula, o professor chega em pouco tempo, e eu ponho meu material na mesa tranquilamente. Mas, quando Daniel entra e fecha a porta atrás de si, escondo a cara dentro do livro de geografia enquanto ele passa na minha frente.
Daniel querendo ou não falar comigo, ele não consegue, e eu o vejo, pelo canto do olho, sentar na sua carteira olhando para mim. Fixo minha cara no livro e finjo estar procurando a página, mas a tensão continua.
Não era evitando Daniel que eu me imaginava estar, pouco tempo atrás. Só que, pelo jeito, é dessa forma que vou ter que me virar nas próximas horas, até estar pronta psicologicamente para falar com ele.
Quando finalmente o intervalo chega, dou uma breve visita à cantina e vejo que Daniel está na fila do lanche. Sabendo disso, vou à biblioteca, mas, em vez de pegar um livro, decido só me esconder lá até a barra ficar limpa.
Quase vazia, tranquila e silenciosa, a biblioteca não tem nem cinco pessoas, e eu sento à uma das mesas suspirando de alívio, mas tomo um susto quando noto que tem alguém do meu lado.
— Ai, meu coração. — Ponho a mão no peito quando vejo que é Bárbara quem está ao meu lado na mesa e respiro fundo.
— O que você tá fazendo aqui? — Ela está com fones de ouvido e um livro aberto nas mãos.
— Eu que pergunto o que você tá fazendo aqui. Não vai comer?
— Tô sem fome. Comi bem no café da manhã e preferi vir aqui pra ler.
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Abençoada Lana Lis
RomanceLana Lis passa dificuldades financeiras e é importunada pelas colegas da escola desde muito tempo por causa da sua religião, mas tudo muda quando um viúvo rico pede sua mãe em casamento e decide tirar as duas do interior. Agora na cidade grande, alé...