Capítulo 14

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Como? — Daniel gagueja após minha pergunta nada esperada, piscando e dando uma risada de nervoso, de tão surpreso que está. — Desculpa. É que foi de repente.

É claro que foi de repente. Que tipo de pessoa perguntaria para um garoto que conheceu há menos de duas semanas se ele casaria com ela? Ah, não, Lis. Tinha mesmo que fazer isso? Falo em mente para mim mesma, querendo esconder minha cara.

— Não. Sem problema! Realmente foi uma pergunta estranha — falo e ponho o cabelo para trás da orelha, de bochechas quentes. — Eu nem quis perguntar isso pra valer. Eu só quis saber... hipoteticamente. Sabe?

Hipoteticamente... Que piada!

— Saquei, saquei.

— Pois é.

— Bem... quem sabe?

Nesse momento, coro completamente e, ainda sentada na arquibancada, me viro um pouco para Daniel. Ele põe o pacote de salgadinho ao lado e olha para mim.

— Hã? — Fico atenta a ele, para não perder nenhuma palavra.

— Você é uma garota legal... a gente provavelmente vai estudar junto até o terceiro ano, então...

— Sim — gaguejo.

Continua... penso, ansiosa para ouvir o resto, mas, quando menos espero, Daniel põe a mão na testa e franze as sobrancelhas, falando:

— Ah, não. Quê que eu tô dizendo? Foi mal. Não posso mentir pra você e pra mim mesmo.

— Como assim?

Ele abaixa a mão e olha para o chão.

— A verdade é que, se eu fosse estar com outra pessoa, eu ainda não teria superado a Sue e acabaria magoando esse alguém...

— Ah... entendi...

Eu já deveria ter esperado esse tipo de resposta. Do jeito que Daniel gosta de Sue, é claro que ele vai demorar bastante até tirar ela da cabeça. Isso que é amor verdadeiro.

E o pior é que, mesmo sabendo que ele gosta muito dela, ajudei Sue propositalmente para juntá-la com Jonathan e conseguir me aproximar de Daniel, o que me faz sentir uma culpa tão grande que nem sei descrever. Como eu pude ser tão egoísta?

Até pouco tempo, eu imaginava que minha primeira desilusão amorosa demoraria muito para acontecer — ou que nem aconteceria, já que eu acreditava que me casaria com meu primeiro amor e viveríamos felizes para sempre.

Só que ultimamente aprendi que nem tudo são flores. E aqui estou eu, levando minha primeira rejeição e chorando igual uma criança, como se eu não já soubesse que isso poderia acontecer.

Mas espera um pouco... Chorando? Pergunto para mim mesma, e é aí que passo o dedo nas bochechas e sinto as lágrimas descerem.

— Você tá chorando? Tá tudo bem? — Daniel toca meu ombro e se inclina na minha direção. — Desculpa. Foi o que eu disse?

— Não. Desculpa. Eu tenho que ir! — Escondo meu rosto, levanto e começo a descer as arquibancadas.

— Lis, espera!

Sem coragem alguma de deixar Daniel me ver chorando, começo a correr, enquanto passo o antebraço no rosto, e saio da quadra antes de passar mais vergonha do que eu já passei.

Eu ser uma pessoa fraca não é novidade, mas chorar no primeiro fora já é demais. E nem foi um fora, levando em conta que eu não exatamente me declarei.

Mas o problema é que agora eu já sei a resposta antes mesmo de dar a investida. E eu ainda chorei, o que me deixa péssima, já que, depois dessa, ficou na cara que fiz aquela pergunta a Daniel porque gosto dele. E agora ele sabe, então game over para mim.

E é com esse sentimento de derrota que vou ao banheiro da escola, entro em uma das divisórias, fecho a porta e me sento na tampa do vaso para continuar chorando.

— Lis? É assim que você se chama, não é? Você tá aí dentro?

Entre um soluço e outro, não esperava que alguém aparecesse no banheiro enquanto eu choro — e, ainda por cima, falando meu nome —, então fico nervosa e começo a sentir uma dor no pé da barriga, que pode ser consequência do medo que sinto quando reconheço a voz da pessoa.

— Oi — respondo, de voz trêmula, fungando o nariz.

A garota que ouço do outro lado da porta é Jane, a prima do Jonathan, e eu não faço ideia do que ela quer comigo, mas, pelo tom rude da sua voz, tenho certeza de que não é coisa boa.

— Vi você entrando e segui. Olha aqui: eu não falei nada na hora, mas sei que você tava escondida ouvindo minha conversa com o Jonathan pra contar alguma coisa pra sua amiga ruiva apaixonadinha e não gostei nada disso — Jane diz, e então posso ouvir passos. — Então fala pra essa sua amiga procurar o que fazer e deixar o Jonathan em paz, senão vocês não vão gostar do que eu vou fazer.

Quando ouço as palavras dela, desabo mais. Agora pronto: Jane está brava comigo por eu ter sido cúmplice de Sue, e meu plano de me dar bem com todos os novos integrantes da família automaticamente vai por água abaixo.

— Desculpa... — falo.

Com tudo isso, a sensação de que eu perdi o controle da situação aumenta ainda mais, e fico levemente desesperada quando percebo que deixo escapar um pouco da minha choradeira.

— Ei. Você tá chorando? — Jane pergunta, e, no chão debaixo da porta, vejo sua sombra se aproximando. — Alguém da sua sala mexeu com você? Eu sempre soube que aquela turma não presta.

— Não. Não foi isso — falo tentando normalizar a voz.

Fico de pé para sair e dar as caras antes que Jane pense que realmente alguém mexeu comigo, mas aí percebo que preciso enxugar o rosto e me viro para pegar papel higiênico, me assustando assim que vejo uma mancha de sangue na tampa do vaso onde sentei. Sim. Sangue.

O meu grito de susto é assustador o suficiente para assustar Jane também, e eu consigo imaginar sua cara confusa quando ela pergunta:

— Menina, você quer me matar de susto?! O que foi? É uma barata?

— Não! É... é... é sangue!

Quando olho para a mancha em cima da tampa do vaso e, logo em seguida, pego a parte detrás da minha saia, encontrando a mesma cor vermelha e escura no tecido, ligo todos os pontos.

Sangue? Sangue onde?

Eu sempre soube que um dia isso aconteceria, mas não fazia ideia de que, quando chegasse a hora, eu estaria tão despreparada como nunca antes.

É igual quando tem apresentação de trabalho em grupo marcado para a próxima semana: você sabe com antecedência que vai acontecer, mas nunca está totalmente preparado quando começa a apresentar e acaba gaguejando horrores.

Do mesmo jeito, é a minha situação atual. Descobrindo agora que a dor que estou sentindo é cólica e que minha choradeira pode ter sido minha primeira TPM, absorvo tudo e chego na seguinte conclusão: fiquei mocinha e, no momento, nada me alegraria tanto quanto um absorvente.












Nota da autora: ihhhhh! Sujou! 😂😂😂 Como será que a Lis vai lidar com essa situação, hein? Descubra no próximo capítulo, que sai sábado! Beijão! 😘

Abençoada Lana LisOnde histórias criam vida. Descubra agora