Capítulo 13

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É aula de língua portuguesa, e o professor passou uma atividade. Eu, como uma aluna normal, vejo um questionário sobre figuras de linguagem na minha mesa, mas Sue enxerga outra coisa: uma desculpa perfeita para falar com Jonathan.

O professor se senta à sua mesa e começa a digitar no notebook, enquanto todos da sala iniciam a atividade. Daí, mal passam-se os minutos, e Sue já chama minha atenção, mexendo os lábios silenciosamente e dizendo: "bora?".

Assinto com a cabeça e levanto do meu lugar, indo até a carteira dela. De pé ao seu lado, olho para o final da sala. Jonathan está sentado em sua carteira resolvendo as questões, então levanto o braço, aceno para ele, e o show começa mais rápido do que eu imaginava.

— Jonathan — sussurro com a mão ao lado da boca, fazendo uma paredinha. E, quando Jonathan levanta a cabeça e olha para mim, continuo: — Você tem um minuto?

Faço sinal com a mão para Jonathan vir até nós, e surpreendentemente ele se levanta mesmo. Quando chega, pergunta:

— O quê?

Olho para Sue, que está paralisada olhando para ele. Do jeito que ela está tímida, é claro que eu que vou ter que falar.

— É que a Sue tá com dificuldade em responder uma questão do dever de português. Você pode ajudar?

Sue acha que, por eu e Jonathan morarmos na mesma casa, eu devo ser muito próxima dele. E faz sentido. Mas o que ela não sabe é que, apesar de ser comunicativo com os amigos na escola, ele é totalmente o oposto dentro de casa. E é muito difícil se aproximar de alguém que praticamente não fala.

— Que questão?

Mas, apesar da minha insegurança, ele recebe a folha de atividade da mão de Sue e começa a analisar.

— É a questão quatro — Sue finalmente fala alguma coisa, corada. Então aponta no papel: — Aí, olha.

Por um instante, observo ao nosso redor. Daniel ergue a cabeça e começa a olhar na nossa direção, e eu logo tiro a vista. O que será que ele está pensando?

Jonathan lê a pergunta que Sue indicou, e eu naturalmente olho também. A questão quatro quer saber qual fenômeno linguístico aparece na frase "sujei a manga comendo manga", e Jonathan não demora muito para responder:

— Ah. É polissemia.

Polissemia? — Sue reage. Ela normalmente só colocaria a resposta que ele deu sem questionar, mas, para prolongar um pouco mais o precioso tempo com Jonathan, ela pergunta: — Mas o que é isso?

Jonathan abre a boca para responder, mas é interrompido por Bárbara na mesma hora, que toma a folha das mãos dele — ela senta exatamente na coluna ao lado de Sue, então estava lá vendo e ouvindo tudo desde o início — e começa a ler a questão:

— Deixa eu ver.

— Pode confiar. É o que eu disse. — Jonathan põe as mãos nos bolsos.

Ignorando o fato de que Bárbara se meteu numa coisa que normalmente ignoraria, eu e Sue ficamos esperando qual o veredito, até que Bárbara decide falar alguma coisa.

— Pode esquecer. — Ela devolve a folha para Sue. — O fenômeno linguístico é ambiguidade.

Jonathan franze a testa:

Ambiguidade? Como você se confundiu assim?

— Eu não me confundi. A palavra "manga" tem sentidos diferentes na frase, então é ambiguidade.

Eu e Sue nos entreolhamos. E agora?

— Não. Ambiguidade é quando uma frase pode ter mais de uma interpretação, dificultando o entendimento. Nessa questão, é só a palavra que se repete com dois significados.

Abençoada Lana LisOnde histórias criam vida. Descubra agora