Capítulo 10

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— Eu sou cristã! — falo para Sue e Bárbara, que parecem surpresas.

São sete e quinze da manhã do dia seguinte, e nem acredito que finalmente consegui dizer o que tanto estava entalado na minha garganta.

Ao ouvir o que digo, as meninas se olham, olham também para os lados e franzem a testa, e Sue pergunta:

Okay, mas... tá tudo bem, Lis? Você literalmente acabou de correr até a gente e falar isso, sem mais nem menos.

— É. Você tá legal? Você tá ofegante — Bárbara também fala.

Bem. Sim. Estou ofegante, com as pernas trêmulas e pouquíssimo fôlego. Acabei de chegar na escola, encontrar as garotas e surpreender as duas com essa notícia no lugar do bom dia que eu sempre digo, então é esperado que elas estejam me achando lelé da cuca agora.

Mas só agora eu fui perceber, então pigarreio e me recomponho, soltando um sorriso amarelo:

— Ah, desculpa! Não queria assustar vocês. Eu nem dei bom dia, né? Bom dia. Como vocês estão?

— Bom dia. A gente tá bem. Mas e você? Acordou agitada... — Sue não esconde que está confusa e também preocupada.

— É. Chegou aqui e gritou o óbvio — Bárbara diz e dá uma risadinha.

— O óbvio? — Franzo a testa.

— É! Tá na cara que você é da igreja. Não leva a mal, mas as suas saias longas e todo seu jeito te denunciaram — Sue diz rindo e olha para Bárbara, que aparentemente concorda.

— E vocês não se incomodam? — pergunto.

Sue ri e franze as sobrancelhas:

— Claro que não. Por que a gente se incomodaria? Minha família também é cristã. E isso é completamente normal!

Tudo bem. Acho que me precipitei e já deveria saber que aqui não é minha escola antiga, a realidade é diferente e as pessoas ainda podem me respeitar. Sinto uma pressão gigante sair do meu coração. Senhor, obrigada! Penso.

— Ah, que bom — falo e ponho as mãos na região do coração.

— Você pareceu desesperada pra falar isso — Bárbara comenta.

Rio, sem jeito.

— É que eu queria saber logo se a gente ainda poderia ser amiga mesmo depois de eu contar — explico.

— E por que a gente não seria? É sua religião.

Faço um sorriso leve e olho para os pés.

— É que, na minha antiga escola, houve uma discussão porque opinei com base na Bíblia, então passei a ser atacada por ser cristã.

Sue me dá um abraço de lado.

— Poxa, Lis. Não fica assim. A gente jamais faria isso. E esquece tudo, porque aqui não é mais sua antiga escola — ela fala.

— Exatamente. Bora pra aula — Bárbara chama.

— Bora. Obrigada, meninas!

Ao chegar na nossa classe, tiramos nossas mochilas das costas e sentamos em nossos lugares. Ao observar o horizonte, avisto Thaís, Nicole e Gabriela conversando do outro lado da sala, Jonathan sentado na última carteira em um papo envolvente com seus amigos e, por fim, Daniel chegando agora, com a mochila no ombro esquerdo.

Exatamente. Uma única semana foi suficiente para eu me apaixonar por ele, o que automaticamente significa que Daniel é uma pessoa incrível.

Mas tem uma pequena questão: apesar de ele ser, sim, incrível, também é verdade que não sei se ele é cristão, e, na minha tradição — ou, melhor dizendo, na Bíblia —, se apaixonar por uma pessoa que não tem a mesma fé que você é uma das coisas menos recomendadas.

Abençoada Lana LisOnde histórias criam vida. Descubra agora