Capítulo 4

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Como eu era a única garota cristã e com opinião diferente dos outros jovens na escola em Aurora, me tornei alvo de críticas e olhares pela sala de aula e, ao decorrer do tempo, também por toda a escola.

E, agora que eu e minha mãe viemos para Fortaleza, minha vida escolar finalmente mudou.

Só que eu não sei se fico feliz, porque acabei de voltar a ser alvo de críticas e olhares, mas por ter derramado café na roupa de um dos garotos mais bonitos da escola, e mais da metade dos alunos viu.

— Me... me desculpa! — falo e tapo a boca com a mão.

Estou diante de Jonathan. Olho para sua farda e vejo a mancha grande de café que provavelmente está queimando sua pele. A partir daí, minha ficha cai mais ainda: meu primeiro contato com ele foi um fiasco.

— Eita, Lis! — Thaís dá um passo para trás de queixo caído, fazendo minha consciência pesar mais ainda.

Olho ao redor, e toda a cantina está parada só olhando para a gente. Ai, não! Que clima de caos! Penso.

Mas, inesperadamente, um dos amigos de Jonathan começa a gargalhar de mãos na barriga, apontando para ele:

— Eu falei que a farda nova do Jonathan não ia durar uma semana e ele já ia sujar.

Os outros garotos começam a rir, e eu fico olhando para cada um sem entender.

— Léo, você prevê o futuro mais do que os Simpsons! — outro diz.

Jonathan se vira para eles.

— Ah, cara. Perdi a aposta de novo? — ele pergunta rindo, e eu fico no mundo da lua.

Então o grupinho de amigos dele continua a gargalhar, e ele faz a mesma coisa. É impressão minha, ou o clima ficou mais leve?

— Você tá legal? — Jonathan pergunta para mim.

— Eu que devia perguntar! — falo.

Vou ao balcão de vendas do meu lado e pego bastante guardanapo, mas, quando volto para limpar a camisa dele, Jonathan já está a alguns metros de distância com seus amigos barulhentos. E, como provavelmente estão a caminho do banheiro, não tenho mais o que fazer.

— Você tá bem, Lis? Se queimou?! — Sue chega do meu lado junto com Bárbara e pega no meu ombro.

— Não. Ele foi o único que se sujou.

— Ah, desculpa a gente, Lis. Não foi intenção nossa fazer você tropeçar — Thaís fala com as mãos juntas.

— Não precisam se desculpar. Tá tudo bem.

— Ainda bem que você esbarrou no Jonathan. Se fosse noutro garoto, poderia ter sido um escândalo — Sue diz.

— Por quê? Ele é legal? — pergunto.

— É claro que é legal. Ele é o garoto de quem eu tô a fim.

— Quê?

Depois dessa, fico sem palavras.

É óbvio que Sue gostaria dele. Por que não pensei antes? Ele é bonito, alto, tem os olhos claros... Só que ela também é perfeita, então como os dois ainda não estão namorando?

A questão é: não sei como Sue pode reagir ao saber que sua paixonite e eu logo seremos da mesma família, então, para evitar seja lá qual for a consequência, prefiro deixar isso em segredo.

Daí, uma outra coisa invade minha mente. Quando derramei café em Jonathan e ele olhou para mim, tive certeza de que ele não me reconheceu. Com isso, dou fim ao mistério e sei que ele não está tímido coisa nenhuma; na verdade, ele nem sabe quem eu sou.

Abençoada Lana LisOnde histórias criam vida. Descubra agora