Capítulo 22 - Não é um bom momento

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O sol se põe no horizonte, lançando raios amarelos e laranjas pelos céus, refletindo um degradê em rosa e azul pelas nuvens. A coloração venusta lembrava a transição do verão para o outono.

O doutor Robert e eu chegamos à Instituição após a nossa caminhada juntos. Poucos alunos transitavam pelo campus. A luz solar iluminava uma parte, e o vento trazia folhas secas pelo caminho.

Robert se despediu de mim e foi para o prédio central, onde a equipe médica ficava, uma área reservada com pequenos quartos para cada um deles. Percebi que Robert não carregava mais a lança com ele, o que despertou minha curiosidade.

Qual seria a razão para ter deixado a lança para trás?

- Ei, você está bem? - perguntou Kenji, que surgiu de repente.

- Oh! Sim... estou bem - falei, mordendo os lábios, tentando evitar que minha frustração ficasse aparente.

- Hum... bem, aquele convite de apresentar a Instituição ainda está de pé?

Ele estava na expectativa, muito animado.

- Sim, eu preciso fazer outra coisa agora, mas já venho te ver.

Kenji concordou com a cabeça e sorriu.

- Eu te espero aqui - falou.

Então me apressei a ir para meu dormitório. Meu quarto estava limpo e organizado. Estranhei esse fato e me lembrei que o grimório estava com Valentyn. Suspirei de alívio.

No entanto, uma onda de culpa invadiu meu peito. Eu feri Valentyn com essa chama que queima dentro de mim, e não me perdoaria por isso, principalmente se ele não se recuperasse. O fogo pode ser mortal para os vampiros, acredito que até para os puros-sangues como ele.

Apesar das preocupações e de tudo que vem acontecendo, especialmente comigo e essa coisa azul que sai de mim, preciso distrair meus pensamentos para focar em minhas obrigações como guardiã. A Instituição Helsing precisava de mim, e Joseph também. Suspirei longamente, pronta para seguir meu papel.

Encontrei a camiseta de frio de Kenji no cabideiro de roupas e notei que havia um furo nela, como se tivesse sido feito por uma lâmina.

- Droga... rasguei a blusa dele - falei, batendo na testa.

Ele terá que se contentar com isso.

Assim que encontrei meus pertences de segurança guardiã, me aprontei. Meu uniforme era um blazer, saia xadrez e meias compridas até o joelho. Coloquei o lenço de identificação como guardiã no antebraço e amarrei meus cabelos com uma fita preta, deixando algumas mechas caírem sobre meu rosto.

Era como tirar um peso dos ombros, estar neste posto de guardiã novamente. Foram tantas coisas que aconteceram que nem pude notar a saudade que sentia dessa sensação, estar à frente da segurança da Instituição Helsing. Deixei o coldre da pistola preso na minha cintura.

Eu não costumava usar minha arma secundária, uma adaga que pertenceu à minha mãe, como Armin dizia. Então, a mantinha guardada em uma caixa de madeira escondida no closet. Não gostava de mantê-la próxima de mim pela dor que me causava. Eu não conseguia lembrar do seu rosto, por isso não me sentia digna de usá-la.

Antes de sair do quarto, voltei para pegar a camiseta de Kenji e a depositei no meu antebraço machucado, que estava cicatrizado o suficiente, restando apenas uma cicatriz. Ele realmente se recuperou rápido demais. Sorri com isso.

Segui para o campus, onde deveria apresentar a Instituição para Kenji e outros novatos. A caminho de lá, notei que havia mais três pessoas com ele. Estavam conversando e rindo. Dois garotos gêmeos negros, altos e fortes, com cabelos trançados e olhos cor de mel. A terceira pessoa era uma garota de cabelos pretos enrolados até os ombros, com olhos escuros. Não que fosse da minha conta, mas ela parecia dar em cima de Kenji.

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