— é sério? — as palavras me fazendo voltar para o mundo real depois de uma longa viagem em meus pensamentos enquanto eu encarava os olhos azuis que me examinavam. Daryl se levanta, se virando para o outro lado, ficando de costas para mim. As costas largas me fazem pensar no que eu acabei de admitir, ou talvez me façam pensar em coisas diferentes demais para a conversa de agora, e por um momento, eu desejo tão grandemente que ele diga que sente o mesmo para que eu possa encostar nas costas dele, mas não de um jeito comum, como para tratar um machucado ou dar um abraço. Do jeito diferente. — Você não precisa dizer isso para que eu... — a desconfiança de Daryl.
— eu estou falando sério, Daryl. — eu o interrompo antes que ele possa dizer o que diria, e antes que eu diga que era mentira só para cessar a vergonha, mas agora, parece que minha vergonha é jogada de lado, e tudo o que eu penso, é sobre o que sinto por ele. Ou o que acho que sinto, mas agora tenho quase certeza. Como se o zíper estivesse quebrado e agora eu já não conseguisse mais tampar a boca. Eu me encontro vermelha com tudo o que sinto por Daryl pairando no ar em que nós dividimos. As coisas que eu tentava esconder de mim mesma, as coisas que fingi não ver nem sentir.
Eu escuto o suspiro de Daryl quando ele se vira para mim novamente, o azul me encarando. Ele se aproxima, e meu corpo gela. Ele se senta ao meu lado no sofá velho rosado, eu continuo olhando para qualquer coisa, menos para Daryl. A respiração fazendo minha pele arrepiar, e o encontro da coxa dele com a minha me dando um leve choque, o qual eu tento fingir que não acontece.
— você não precisa dizer que sente o mesmo...
— eu sinto. — Daryl me interrompe. As palavras me atingem como se eu estivesse caindo do terraço de um prédio de quinze andares, e eu posso ver o paraíso durante a minha queda. É, talvez eu tenha certeza do que sinto, mas ainda tento esconder de mim mesma que pode ser maior do que eu quero que seja.
— você não precisa dizer isso para que eu me sinta melhor, você sabe, quero que seja sincero... — eu respondo, preciso que seja real, e não apenas uma fantasia que ele diz para não me magoar.— estou falando sério. — eu viro o rosto para Daryl. Meu Deus. O que é isso? Meu coração parece acelerar por um segundo. Minhas costas ficam eretas, pareço ansiosa, nervosa. O que diabos é isso, Daryl?
Eu respiro fundo, um sorriso alegre se formando lentamente em meu rosto enquanto Daryl ainda não me encara, e eu tento controlar o frio na barriga que surge como... Borboletas voando sem rumo dentro de mim.
Daryl ergue seu rosto e o vira para mim até que azul esteja em meus olhos, e as borboletas se agitam.
— isso é tão... — confuso e inexplicavelmente bom... São tantas coisas, que eu não posso contar nos dedos.
— estranho. — Daryl diz, e comprimo os lábios em um sorriso. O meio sorriso de Daryl volta, e eu enxergo o meu próprio reflexo nas pupilas de Daryl.Tudo se mistura, eu penso em perguntar, penso em pedir, mas não consigo fazer isso, não consigo pedir, porque antes de dizer qualquer coisa, já me vejo me aproximando.
É rápido, mas eu me arrisco a dizer que é a melhor coisa que eu sinto em anos. Em um movimento rápido, meus lábios estão nos de Daryl. Eu fecho os olhos, e enquanto sinto os lábios de Daryl, posso ver nuvens, mesmo que com os olhos fechados. Um, dois... Talvez mais de cinco minutos se passam, até que eu desgrudo meus lábios, afastando um pouco seu rosto.
E eu enxergo olhos azuis quando abro o olhos. O brilho aparece, e eu não sei se são dos olhos de Daryl ou se é o brilho tão forte dos meus que refletem nos dele, mas eu não o vejo por muito tempo, já que minha boca já está na dele de novo.
Eu nem ao menos sei como, não sei se foi eu mesma quem me aproximei de novo, ou se foi Daryl. Mas agora, a mão de Daryl toca meu pescoço, e minha pele parece queimar. O que era um simples selinho, se transformou em um beijo lento e reconfortante. Isso não é uma metáfora, não mais, porque o mundo está realmente acabando, o mundo acabou, mas agora, é como se já não existisse mais nada além de mim e Daryl, nem mesmo os mortos.
É um beijo calmo, que me faz envolver os dois braços em volta do pescoço dele enquanto me inclino com o quadril, a dor da minha perna se torna algo tão pequeno e insignificante perto da sensação que é estar beijando Daryl, que eu só sinto uma leve pontada quando me inclino para frente. Daryl passa os braços por minha cintura, as mãos grandes e firmes segurando minhas costas contra o corpo dele que está tão perto quanto jamais esteve. É quente, e me faz acelerar o beijo tão... Romântico, que acaba se tornando desejável de muito mais. Parte de mim me diz para ir devagar, me alerta que deveria ir com calma com Daryl, mas a outra parte... Bom, ela é como o diabinho em meu ombro esquerdo me dizendo para agarrá-lo loucamente, mas sou incapaz de fazer isso já que o anjinho me lembra de que minha perna está ferida e que Daryl não é esse tipo de homem, ou pelo menos eu acho que não. Daryl é angelical demais para colocar desejo à frente de um sentimento que é muito mais profundo.
Talvez seja por isso que é diferente e que eu não tinha certeza se realmente sentia algo. Porque Daryl é diferente.
Eu afasto minha boca, e minha respiração pesa. Daryl enterra o rosto entre meu pescoço e meu ombro, me fazendo sorrir, e ele me abraça. Eu não sei como me sinto, mas sei que é algo tão bom quanto chocolate.
— é melhor que chocolate. — eu murmuro, sorrindo.
— melhor que macarrão com queijo. — Daryl diz, a voz sendo abafada por minha pele, me fazendo rir por ele ter usado macarrão com queijo como exemplo, e eu acaricio a nuca de Daryl, apenas deixando-o confortável com o rosto enterrado em meu pescoço, minha pele sensível se arrepiando por completo com apenas um suspiro de Daryl. É diferente.Eu não sei como, não sei nem mesmo o porquê isso aconteceu, mas o peso que saiu das minhas costas quando eu assumi o que achava que sentia por Daryl, e a sensação de ter borboletas de todas as cores enchendo minha barriga de calafrios deliciosos e sensações arrepiantes me fez me sentir tão leve quanto uma nuvem. Foi melhor que chocolate, ou bom... Melhor que macarrão com queijo.
Me fez sorrir. Me fez sentir frio na barriga. Me fez reviver do mundo morto onde eu, às vezes, me sentia um dos mortos. Me fez sentir viva.
[...]
— eu posso dormir no chão. — Daryl oferece.
— Daryl... — eu sorrio, a forma que Daryl se preocupa mais com o conforto do que com o prazer me encanta. — O sofá é grande o suficiente. — eu ofereço, e ele assente. Daryl vai até o lado de fora, a carteira de cigarro em mãos e o isqueiro. Eu me levanto, a dor ainda está ali, mas eu consigo andar me apoiando nas paredes, até chegar ao lado de fora. Daryl está sentado na escada de dois degraus em frente ao chalé. Ele se vira para trás, e quando me vê se levanta.
— você não deveria estar aqui fora. — ele diz, coloca o cigarro ainda não aceso na boca e o isqueiro no bolso, segura uma das minhas mãos e apoia minhas costas com a outra mão, me ajudando a me sentar em um dos degraus.— tudo bem, eu tenho que andar, preciso mover mais a perna. — eu digo, me sentando e esticando a perna. Daryl se senta ao meu lado, pega o isqueiro e acende o cigarro, soltando a fumaça pela boca enquanto guarda o isqueiro.
— pode me dar um? — eu peço, segurando meus próprios braços, com frio.
Daryl põe o cigarro na boca e tira o próprio casaco, e antes mesmo que ele me entregue, eu sorrio, me lembrando dos milhares filmes em que os homens fazem isso. Pensei por muito tempo que os homens desses filmes eram fictícios, assumo, mas então, conheço Daryl, que por baixo de todas as camadas duras e grossas, e toda a coragem, força e brutalidade, tem o homem mais bondoso que já conheci. — você ainda não desistiu da ideia de fumar? — ele pergunta, jogando o casaco sobre meus ombros, e eu o seguro, me cobrindo.— obrigado. — eu agradeço. — Fumar não é a pior coisa do mundo. — eu dou de ombros. Apesar do gosto, me sentir uma adolescente que fuma porque seus amigos fumam me lembra das noites em que minha irmã me levava junto nas fugas de casa.
Daryl tira um cigarro da carteira amassada e me entrega. Eu encaro o cigarro por um segundo, e então desisto da ideia por me lembrar muito das noites de sexta-feira com minha irmã, devolvendo para Daryl.
— acho melhor... Não. — eu dou de ombros, e Daryl dá um meio sorriso com um som divertido saindo dos lábios, o que me faz sorrir.
Não acredito que estou vivendo isso com Daryl, mas de qualquer forma, parece tão certo...Sentimentos coloridos, sentimentos azuis. Talvez as borboletas sejam azuis.
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Blue Letter - Daryl Dixon
FanfictionDaryl Dixon, o homem de poucas palavras e um oceano azul de silêncio. Ele é capaz de coisas assustadoras para proteger quem ama. Está história é sobre o azul e o colorido, sobre o azul e o arco-íris, que sentia falta de uma cor, a cor que faltava, o...