08 - sorvete de creme

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— vocês não pegaram nada? — o homem dos cabelos loiros solta uma risada ácida. — Metade da pouca comida que tínhamos sumiu, e você diz que não pegaram nada? — ele se aproxima, e um dos que estavam atrás de mim agarra meus braços com força, me machucando, e deixando meus braços para trás assim que o outro tira a faca do meu cinto. O homem em minha frente tem um sorriso maldoso no rosto, mas os olhos mostram a raiva que está sentindo.

Os dedos ásperos do homem loiro passam por minha bochecha, como um carinho, mas parecem rasgar minha pele, e eu sinto repulsa. — você tem ideia do quanto demoramos para encontrar aquela comida? — ele continua passando os dedos pela minha bochecha, e eu me contorço, virando o rosto para o outro lado, quando vejo Daryl com sua besta mirando na cabeça do homem.

— largue ela. — Daryl diz. A voz rouca e confiante de Daryl sempre me dando calafrios.
— olha só... — o homem diz quando se vira para Daryl. — Então foram dois ladrões. — a ironia em sua voz me deixa com ânsia, esse homem tem o direito de ficar irritado, e é algo previsível, mas ele lida com isso de forma cruel, poderia simplesmente pegar o que nós roubamos e nos deixar ir, mas ele parece se divertir com o desespero.

— solte ela, e nós vamos embora. — Daryl continua com a besta apontada para o homem, e por um momento, me encara. Os olhos azuis estão raivosos, o que dá um leve medo até mesmo em mim.
— e como pretendem pagar pela comida que roubaram de nós? — o homem pergunta, eu posso ouvir o sorriso dele. E ele pega a pistola do cinto, apontando-a para Daryl. — Por que se você me mata, eles matam a garota e te deixam para os mortos-vivos, para você morrer lentamente enquanto se lembra da moça aqui morta. — ele diz e aponta a arma para mim, e meu medo cresce. — Mas se eu te matar... — Ele volta a mira da arma para Daryl. — A garota não pode fazer nada, e aí, os dois morrem. — Eu ainda posso perceber o tom de deboche no jeito que o homem loiro fala. — Mas eu quero nossa comida de volta antes. — ele diz, e guarda a arma no próprio cinto com um sorriso nos lábios. Ele se diverte com o desespero, com o medo, ele é cruel como Phillip.

— está na mochila preta. — eu digo, e o homem se vira pra mim mais uma vez.
— isso mesmo, — ele continua com o maldito sorriso nos lábios. — Obrigado, garota. — ele aproxima o rosto do meu, o nojo que eu sinto é palpável.
Ele caminha até a mochila e a abre, vendo a comida que tem ali dentro.
— tudo bem. — ele diz. Daryl me encara, os olhos cheios de preocupação, o que eu só vi uma única vez, quando Phillip matou Harshel. Mas agora, esse mesmo olhar voltou, e está sobre mim, o olhar cansado e preocupado. — Mas a garota... — o homem fecha a mochila e se vira para Daryl de novo. — Ah, ela fica com a gente. — O loiro limpa a garganta depois de diz.
— não. — Daryl dá um passo para frente, em direção ao loiro.
— Daryl. — eu chamo, e Daryl me encara mais uma vez, a arma de flechas ainda levantada na direção do homem. — Tudo bem. — eu digo. Não, não está tudo bem, eu jamais aceitaria ficar com esses homens, mas o único sacrifício que eu já fiz por alguém, foi quando me entreguei para Phillip pelas pessoas da prisão, mas a esse ponto, eu iria me sacrificar para que qualquer um daquela prisão voltasse a vida, iria me sacrificar para deixar Daryl vivo, me sacrificaria porque estou cansada disso tudo, me sacrificaria para esquecer das coisas que eu vivi.

Daryl me salvou inúmeras vezes, eu poderia retribuir. O que eles podem fazer comigo, afinal? Eu penso em várias possibilidades, mas em nenhuma delas eu me arrependo de salvar Daryl.
— o que? Não. — Daryl se aproxima mais do homem. — O que você quer? — ele diz, o fogo nos olhos azuis aumentando. O oceano de Daryl pega fogo, e eu nem sabia que isso era possível. O oceano está agitado, com raiva.

— isso não está claro, Daryl? — o homem diz, agora sabe o nome de Daryl, e provoca ele com isso.
— qual é a sua, cara? A sua comida está aí, e o seu armazém está intacto. Só nos deixe ir. — Daryl diz, irritado.
— abaixe sua arma, amigo. — o homem ainda sorri. — Nós precisamos dela. — o homem me encara, e minha pele arrepia de pavor, sem saber o motivo para que precisam de mim.
— Daryl... — eu murmuro. Daryl me encara, incrédulo.
— você não pode ficar com eles. — ele diz para mim, e volta a encarar o homem loiro.
— não vamos machucá-la, Daryl. — o sorriso do homem me dá raiva. Daryl me encara mais uma vez, e eu assinto com a cabeça, tentando fazê-lo desistir. Daryl suspira, e abaixa a besta.
— posso falar com ele antes? — eu peço, encarando o homem loiro que sorri e assente com a cabeça.
— é privado? — ele ri. O humor dele é inexplicavelmente ridículo.
— sim. — eu respondo.
— tudo bem. No banheiro. Não tem janelas nem lugar para vocês decidirem fugir, o que seria burrice, já que iriam morrer. — o homem da de ombros. — Vinte minutos. — O outro homem, o ruivo, ele agarra Daryl, levando-o para o mesmo lugar que o homem que me segura está me levantando, e o loiro fica para trás. Eles tiram a besta e as facas de Daryl.

Blue Letter - Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora