24 - lar doce lar

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— eles devem estar chegando. — Carol se aproxima. Eu e Daryl estamos na porta do prédio, esperando pelo assovio comum de encontro do grupo depois do sinalizador que foi lançado pelo amigo do tal Aaron, Erick.
— eu espero que sim. — eu respondo, e assim que acabo minha frase, o assovio de Rick enche meus ouvidos.
Daryl assovia de volta, e nós avistamos Rick, Michonne, Glenn e Aaron vindo na nossa direção.
Rick me dá um abraço suave.
— onde eles estão? — Rick pergunta.
— as crianças estão lá dentro. — Daryl diz assim que Rick sai do abraço.
Aaron tem os olhos banhados de preocupação.
— cadê ele? — Aaron me pergunta.
— Erick? Ele está lá dentro. — eu respondo e Aaron passa por mim, entrando direto. Eu encaro Daryl, que parece mais relaxado agora.
Todos entramos, e agora, Rick e Glenn estão em uma conversa sobre onde Aaron dormirá, mas Rick acaba aceitando a ideia de Glenn, até porque não tem mais como isso ser uma emboscada, ou pelo menos é isso que eu e todos achamos.

[...]

A estrada agora está limpa, o dia acabou de amanhecer e eu estou prestando atenção no que Eugene tenta explicar para mim e Daryl.
— e tem rei de copas? — eu pergunto.
— não, se joga sem o rei de copas. — Eugene diz, o rosto comum sem expressões demais.
Eu analiso o jogo, mas por um momento a minha atenção se direciona para o lado de fora. O sol se pondo, a vista é linda. Abraham está ao volante e Rosita ao lado dele.
— ei, Ayla, é sua vez. — Eugene avisa, e eu analiso as cartas em minha mãe, jogando o dois de espadas.
— eu preferiria pife. — eu digo, colocando a carta em cima da que Eugene jogou a pouco tempo.
— Daryl, sua vez. — Eugene diz, e Daryl encara as cartas.
— eu não quero jogar. — Daryl larga as cartas, revelando-as.
— Daryl, precisamos de três jogadores. — Eugene diz.
— talvez Glenn curta mais que eu. — Daryl diz e se levanta, saindo dali. Eu franzo o cenho, Daryl parece preocupado ou irritado.
— Eugene... Eu já volto, ache alguém pra jogar com a gente até que eu volte. — eu digo e largo as cartas viradas para baixo na mesa, me levantando e indo atrás de Daryl.
— Daryl? — eu chamo, Daryl está sentado no sofá ao lado da cama onde Erick está dormindo.
Ele me encara, os olhos azuis cobertos por um sentimento que Daryl não demonstra, não fala sobre, finge não estar ali. Ah, Daryl, me diga o que sente. Eu penso internamente, desejando que Daryl se sinta confortável para me dizer sem que eu peça.
— tudo bem? — eu pergunto, me sentando ao lado dele assim que ele tira a perna esticada para que eu sente.
— sim. — ele responde. Poucas palavras.
— Daryl... — eu sussurro, a cabeça tombada para o lado, pedindo para que ele diga.
— eu estou bem... Só... — Daryl suspira, coçando a própria testa com nervosismo.
— me diga. — eu peço.
— eu só estou pensando... E se esse lugar for como todos os outros? Uma farsa, onde só existem pessoas ruins fazendo coisas ruins? Como o Terminus, Woodbery... — assim que Daryl diz sobre Woodbery, todas as lembranças ruins vêem como uma facada pelas minhas costas e eu desvio o olhar.
— ei, Daryl... — eu tento tranquiliza-lo. — Você se lembra de antes? Depois da prisão? Lembra do que me disse? Você disse que eu só teria que acreditar, e é isso que você tem que fazer. Vai dar certo, pense assim. Ou pelo menos tente. — eu digo, mesmo que nem eu acredite muito em minhas próprias palavras. Mas o mundo é assim agora, você tenta tranquilizar pessoas que gosta com palavras que para você mesmo são falsas, tenta tranquiliza-los com os pensamentos que você não tem realmente, e esconde que o medo é maior que a confiança.

Daryl assente com a cabeça.
— eu quero que dê certo. Nós precisamos disso, merecemos isso. — Daryl diz, dando de ombros.
— sim... — sorrio. — Nós merecemos — eu concordo. — Sabe, Daryl... — eu dou um sorriso. — Pode me ajudar com algo? Duas coisas, na verdade. — peço, um sorriso no rosto.
Daryl assente com a cabeça.
— uma delas... Vamos ter esperança. — eu digo, e Daryl assente. — E a segunda, é ir jogar aquele jogo com Eugene. — eu peço com um sorriso envergonhado. — Por favor, não quero jogar aquilo sozinha, Eugene me dá medo. — Eu digo, e Daryl sorri.
— tudo bem. — ele concorda, eu me levanto, puxando-o para o outro lado do trailer.
Eugene está ainda no mesmo lugar, não achou ninguém para jogar, para falar a verdade, nem eu queria jogar isso, mas eu penso que, jogando, vou distrair meus pensamentos ruins.

Blue Letter - Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora