capítulo II - 11 - sorriso para dois

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Talvez se eu estivesse sentada em uma cadeira, cairia para trás na mesma hora. Um sorriso surge, quem sabe dois. Agarro o aparelho, colocando-o perto do ouvido, a ansiedade queimando minha pele.
— Daryl? É você? —  pergunto, e nem sei porquê eu pergunto, já que reconheço a voz.
— sim. Ayla? — ele pergunta. Daryl.
— sim, sou eu. — eu passo a mão pelo rosto, sorrindo.
— você está bem? — ele pergunta.
— sim, eu estou bem. Como você está? — eu respondo e pergunto logo em seguida.
— eu... Ah, eu estou bem. — ele diz. Eu desconfio por um momento, mas decido ignorar por enquanto. Suspiro de alívio. — Onde você está? — eu iria perguntar isso a ele, mas ele foi mais rápido.
— eu... Eu não sei, na verdade. É um hospital, fica em uma esquina de uma rua lotada de mortos-vivos, mas a entrada é livre. Eu acho que não está tão longe. Eu consigo ver um posto de gasolina da minha janela. — Eu não faço a menor ideia de onde estou, mas sei que estou perto de Daryl, já que o walkie-talkie está no alcance.
— vou encontrar você. Olha, Ayla, eu encontrei eles, todos eles. Eles estão vivos.
— o que? — minha voz treme, meu sorriso se alarga, e sinto vontade de chorar, mas não consigo, como sempre. — Eu te disse, eu disse que você ia encontrar eles. — eu solto uma risada.
— é, você disse. — eu não posso ouvir, nem ver, mas talvez, seja um sorriso para dois.
— eu... — eu não contenho minha felicidade. — Eu estou muito feliz que vocês estão vivos. — eu sinto um arrepio, por algum motivo.
— que bom que está viva também. — ele diz. As palavras de Daryl me surpreendem.
— você encontrou ela? Encontrou a Carol? — eu pergunto.
— é, eu encontrei. — ele diz, e sinto alívio. Todo o medo que eu sentia sumindo lentamente, a leveza voltando e a segurança por estar perto de Daryl e do meu grupo estar vivo também. Eu me sinto leve de novo, não sinto a pressão de não ter ninguém, não sinto a pressão de não ter segurança.
— e eu estava certa? — pergunto.
— sim, estava. Ela não me culpa pelo que aconteceu, ela entende. — posso ouvir Daryl suspirar.
— eu quero conhecê-la. — eu digo.
— eu sei, e você vai. — Daryl diz. — Preciso que me dê informações desse lugar, Rick quer saber como entrar e sair sem confusão. Estamos todos fartos de confusões. — ele diz.
— bom... — eu seguro o walkie-talkie um pouco mais perto. — A líder deles se chama Dawn. Ela é boa... Quer dizer, não tanto, mas é um grupo de médicos e policiais. Os polícias trazem pessoas e protegem os médicos, e os médicos cuidam da saúde dos pacientes. Quem vem pra cá, tem que trabalhar para eles, como se tivessem que pagar por eles terem salvado suas vidas. — eu explico.
— e esse hospital, ele é protegido? — Daryl pergunta.
— sim. Policiais rondam o lugar. Eles têm armas e pessoas. — eu respondo.
— tudo bem. Nós vamos dar um jeito. — Daryl passa a segurança da voz para mim, e eu confio.
— eu sei que vão. — eu murmuro.
— eu... preciso... — a voz de Daryl falha.
— Daryl? Repita o que disse. — eu peço.
— está... — o chiado do outro lado do aparelho volta. A voz de Daryl sumiu, e eu fico confusa.
— Daryl? Ei, está na escuta? — eu chamo, mas já não tem mais respostas. O meu sorriso lentamente some, eu me sinto sozinha de novo, mas sei que eles estão perto, mesmo um pouco longe.
— sorvete de creme? — eu suspiro, tenho que ter esperanças. O impossível pode ser possível, e agora, eu percebo isso. Sorvete de creme. Saudades? Talvez agora eu saiba o que é isso.

[...]

Assim que eu termino o que precisava fazer, largo os comprimidos em cima da mesa e saio da sala em que Logan estava depois de ter vomitado mais uma vez. Fecho a porta e começo a voltar para meu quarto.
— Ayla? — posso ouvir a voz de Dawn me chamando, e me viro. — Temos uma nova paciente. Alguns de nós acabaram atropelando ela. Pode resolver isso? — eu caminho até ela, preocupada com a mulher.
— sim, eu posso. — eu digo e Dawn me guia até a sala, e assim que entro, posso ver a mulher deitada na maca, os olhos fechados e a respiração lenta. Eu me aproximo rapidamente, coloco a ponta dos dedos sobre o pescoço dela, checando a pulsação que está fraca. Eu pego de uma gaveta um pacote do soro fisiológico e o prendo ao lado da maca, usando a agulha do scalp para aplicar o soro nela. Eu furo com cuidado, a pele da mulher é clara, os cabelos grisalhos e nem curtos... Isso me lembra algo. Assim que termino, observo a mulher por um segundo. Pareço sentir uma energia vindo dela. Nunca fui esse tipo de pessoa que sente energia vindo das pessoas, mas ela parece... Eu não sei.

Blue Letter - Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora