27 - esperar por você

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Daryl

Assim que termino de contar, meu corpo endurece com os pensamentos de que agora ela me odeia, de que agora.. Eu a perdi. Isso não faz o menor sentido. Não posso sentir isso, não deveria, e nem ao menos sei como sinto isso. Talvez ela pare de falar comigo ou continue me olhando com esse olhar de desgosto, e eu sei que posso lidar com isso, assim como sempre lidei com qualquer coisa, mas, dessa vez, eu tento pensar em mil possibilidades de tentar convencer ela a não sentir isso. De tentar fugir da possibilidade de lidar com o ódio dela.

Suspiro e fecho os olhos, depois voltando a encarar a paisagem seca e o clima terrível.
— eu vou entender se não quiser mais olhar na minha cara, só quero que saiba que... — coço minha própria testa, não sei bem como dizer o que quero dizer. — Vou estar sempre aqui. — dou de ombros. — Vou esperar até que você consiga me encarar sem toda essa raiva, mesmo que esse dia nunca chegue. — poucas palavras deixam meu corpo quando estou com ela. O que é ruim, às vezes não preciso falar tudo que quero. — Posso esperar por você, mesmo que você não queira. — digo, por fim, e então me levanto, jogando uma pedra do chão longe, e caminho até a cruz, me abaixo e pego minha faca, usando-a para escrever o nome da irmã dela na pequena placa que estava vazia desde o dia em que Merle me fez matar Sarah.

Sarah. Escrevo e guardo a faca, me levantando e caminhando até minha moto para esperar o tempo que for necessário para Ayla se despedir da irmã, porque encará-la e ver o quanto ela está sentindo raiva agora, me faz estremecer dos pés a cabeça. Talvez ela nunca mais sinta a mesma coisa. Ela com certeza nunca mais sentirá. Meu próprio subconsciente me sabota, me fazendo achar que a perdi de vez, e bom... Talvez tenha realmente perdido-a, e eu vou ter que saber lidar com isso.

[...]

Esperar até aqui

— Carol... — reclamo quando minha pele lateja com o caco saindo do meu braço, Carol tem a mão pesada demais.
— você deveria ter pedido para ela. — Carol diz, largando a pinça quando termina de tirar os cacos de vidro com que acabei me machucando. Ela está se referindo a Ayla. É uma possibilidade impossível, mas realmente, suas mãos são muito mais suaves e experientes, mas lembrar disso não me faz tão bem, então balanço a cabeça, afastando a lembrança de seu toque leve.

— ela não quer me ver. — digo, cobrindo meu braço com a manga da minha blusa. Já faz quase um mês que tudo aconteceu, e eu sei que ela não quer me ver. E talvez seja melhor assim. Tirando o fato de que sinto falta do que não deveria, de tudo, eu estou lidando bem com isso. Eu acho.
— Daryl, você sabe que não está lidando bem com isso. — Carol está certa. Não estou, mesmo que devesse. — E você não sabe disso, não sabe se ela não quer te ver. — ela diz, os olhos cobertos por uma empatia que eu não queria que Carol sentisse, porque me faz querer resolver logo o que me incomoda, e acaba incomodando ela também.

— sim, eu sei sim. Eu matei a irmã dela, Carol, por que ela iria querer me ver? — digo, me abaixando para pegar meu colete.
— porque eu converso com ela, e eu sei pelo o que vocês dois estão passando e o que os dois sentem. — ela dá de ombros, como se isso fosse algo para se orgulhar.
— então me diga o que ela sente, seria mais fácil assim. — me rencosto na cadeira. Eu daria tudo para saber o que se passa na cabeça dela agora, depois de tudo, mas ao mesmo tempo, tenho medo de saber o que ela pensa e sente sobre mim agora. É apavorante pensar que ela me odeia tanto quanto eu imagino.
— não posso. — Carol diz.

— então não me diga que sabe. — me levanto, pronto para sair dali e provavelmente sair da comunidade, para dar uma volta.
— você está umas dez vezes mais estressado agora. — ela diz, empurrando meus ombros para baixo, me fazendo me sentar de novo, e ela se senta em minha frente. — Ela sente sua falta. — as palavras de Carol causam um tanto de curiosidade sobre mim, e não só isso, não só curiosidade, eu admito.

Blue Letter - Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora