22 - clavícula rachada

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Carl segura-a firme, tentando acalmá-la, mas agora já não adianta mais.
— eu gosto noventa e cinco por cento mais de você agora, criança. — os passos se voltam para porta onde eu me encontro tremendo, enquanto acaricio a cabeça de Judith lentamente, mas ela continua chorando.
— Eu dei algumas boas chances para vocês... — o som da porta da igreja se abrindo bruscamente interrompe a fala do homem.
— afaste-se da porta. — eu escuto a voz raivosa que provavelmente é de Rick.
— olha Rick, nós estamos prestes a encher essa porta de balas, então se você não quer que seus filhos se machuquem, acho melhor você, se afastar da porta... — ele diz, dando êxtase a palavra "você", mas bom, não adiantou de muito, já que o gemido de dor dele ecoa pela igreja juntamente com o som do silenciador de uma pistola.
— mandei se afastarem da porta. — a voz ecoa novamente.
Eu não sei o que está acontecendo lá fora, não posso ver e não vou arriscar sair com as crianças lá. Alguns minutos de silêncio são o suficiente para que eu continue tremendo. A adrenalina percorrendo meu sangue junto com a preocupação de quem eu gosto estar lá fora.

— não vai adiantar implorar, não é? — a voz dolorosa chama mais uma vez.
— não. Você poderia até não voltar atrás de nós, mas você faria as merdas que faz com outras pessoas por aí. — Rick diz, a voz assustadoramente raivosa. — Além disso... Eu já tinha te feito uma promessa. — e essas são as últimas palavras que eu escuto antes do enorme silêncio que se estende por um bom tempo. Eu analiso as crianças antes de me levantar e caminhar com cuidado até a porta, porque não sei de fato o que está acontecendo. Michonne vem logo atrás, depois de dizer para que as crianças fiquem ali, quietas.
— estão todos bem? — as paredes ecoam as palavras de Rick, e então eu corro até a porta, abrindo-a, e quando Rick me vê, vem até mim, os olhos cheios de preocupação, com lágrimas presas em seus olhos, e as mãos cheias de sangue.

— eles estão bem, estão lá dentro. — eu o tranquilizo, tocando o ombro de Rick, mas antes que ele vá, eu seguro seu braço. — Vá com calma, Rick... — eu aviso, tirando o facão coberto de sangue das mãos de Rick, e ele assente, os olhos vermelhos, como se segurasse o choro.
— obrigado. — Rick sussura e entra na porta onde eu tremia a poucos minutos atrás.
Eu procuro com o olhar qualquer ferimento em cada pessoa ali, preparada para cuidar de qualquer ferimento que tenham. Posso ver os corpos caídos no chão mas os ignoro, vendo Carol. Assinto para ela com um sorriso e procuro por Daryl, e assim que não acho-o, me sinto um pouco mais nervosa, mas logo suspiro aliviada quando vejo Daryl entrando com a arma em mãos. Provavelmente ele ficou do lado de fora para ver se alguém sobrou para atacar, e ele fecha as portas. Se vira e encara meus olhos, começando a caminhar até mim enquanto encara o chão.

— você está bem? — eu pergunto baixo assim que Daryl está perto o suficiente, e ele ergue o olhar.
— você está bem? — ele não responde a minha pergunta, apenas faz outra por cima enquanto encara meus braços como se procurasse algum ferimento.
— eu perguntei primeiro, Daryl. — dou um sorriso fraco, enquanto largo o facão de Rick em um dos bancos, depois voltando a encará-lo.
— eu estou bem, eu só... — Daryl suspira. — Estou bem. — ele diz, sem me dizer o que realmente sente.

Eu encaro o oceano azul, e então me aproximo com um passo, tocando a nuca de Daryl e trazendo-a para mim. Daryl enterra o rosto entre meu pescoço e meu ombro e suspira.
— o que foi? — eu sussuro, acariciando a nuca de Daryl enquanto ele ergue os braços em volta de mim quando seu corpo lentamente relaxa, não tão rígido. Daryl parece frágil. Um Daryl diferente.
— não é nada. — ele diz, a voz rouca de sempre, mas eu não tenho certeza se acredito nisso.

Daryl deixa um beijo suave e ao mesmo tempo áspero em minha clavícula, fazendo minha pele arrepiar e meu estômago liberar espaço para aquelas mesmas borboletas inquietas, e eu sorrio de leve. Não reconheço mais o Daryl que conheci na prisão, e isso me deixa feliz.
— você pode me contar depois. — eu digo, baixo, e Daryl assente com a cabeça entre meu pescoço. Ele se afasta, mastigando o lábio inferior e então passa por mim e caminha até Rick, pegando Judith de seu colo depois de ver as mãos trêmulas de Rick que tentavam segurar o bebê. Este é Daryl atencioso, vulnerável, talvez, não o Daryl comum.

Blue Letter - Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora