Capitulo 9

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Estou deitada ao lado de Caio, terminando de editar o vídeo do trabalho que será entregue hoje, e se torna uma missão impossível não ver os erros de gravações e não sorrir ao ver Liya atuando.

Em uma das cenas, o seu sorriso é genuíno e expressivo. Percebi que, todas as vezes em que ela sorri, os seus olhos se perdem diante dele. E tem sido uma das minhas cenas favoritas até o momento. Viro a câmera para o Caio, mostrando a cena que tanto babo.

— É ou não é linda? - digo sem pensar duas vezes, hipnotizada.

Ele agora está com a cabeça apoiada em uma das mãos. Seus olhos se arregalaram um pouco, e suas sobrancelhas se ergueram minimamente. Sei muito bem o que a sua expressão quer dizer, então apenas viro-me de lado e continuo editando.

Sinto sua mão pesar em meu braço, virando-me para ele. Caio senta-se sobre a cama, me olha profundamente, e eu torço para que ele não pergunte o que ele especula.

— Você está interessada na Liya?

Cretino, isso que ele é. Um cretino.

porque chamei ela de linda? - Encaro-o, com o rosto curvado em impaciência.

Ele ri, me examinando lentamente, com as sobrancelhas quase juntas e o cenho franzido.

— Você está interessada na Lili, sim. - Ele afirma dessa vez, mas com um sorriso contagiante. — Não acredito, Floris! - Suas mãos cobrem sua boca que está aberta em um “o”.

— Quem disse isso foi você, não eu. - Me desvinculo dele e levanto, caminhando até a minha escrivaninha. — Ela é sim bonita, mas isso não significa nada. Até esses dias ela me detestava por tudo que aconteceu.

— Mas agora vocês estão bem, não estão? - pergunta.

— Não sei. Sei lá - dou de ombros — eu não me importo muito. Não temos tanta afinidade. Ela é muito linda, mas… sinto que não gosta de mim.

— Uai, mas por quê?

— Você ainda pergunta? - Olho-o, surpreso.

— Não acho que ela não goste de você. Ela é fechada na dela, só isso. E você sabe muito bem como conquistá-la.

Sei? - Olho para ele por cima do ombro. — Como?

— Livros. Liya adora ler, principalmente romances clichês.

— Romance clichê? Ah, não. Tô fugindo disso. - Faço careta em desaprovação, e me viro, saindo do quarto e indo até a cozinha.

— Você não precisa se apaixonar por ela, idiota. Tô te falando um meio para chegar nela, se você realmente estiver interessada nela…

Estou com uma faca na mão, cortando alguns pães para que possamos lanchar. A minha mãe mandou um pouco mais de dinheiro do que o normal, e eu agradeci-a. Este mês irei conseguir comprar algumas roupas que quero.

Minha mãe não conseguiu vir esta semana, devido a sua agenda. Para compensar, agradou-me com dinheiro. Não substitui a sua presença, mas ajuda a dona de casa que estou me tornando.

— Você quer quantos pães? - Tento mudar de assunto.

Caio se aproxima de mim, tira meu cabelo do ombro e aproxima sua boca do meu ouvido. Assusto-me com a sua atitude inesperada.

— Não duvido nada que você consiga ficar com ela. A Lili é linda, uma ruivinha que todos desejam. Eu acho que ela ficaria com você.

Tudo que ele diz mexe comigo, mas não reconheço as sensações. Até então, desconhecidas. Engulo em seco todas as suas palavras e, como mágica, meus pensamentos trazem à cena em que Liya encara a lente da câmera e sorri. Hipnotizante.

Não quero e nem posso ficar com ela. Nesta cidade, sou ninguém menos que Floris D’Ávila. Não posso. Seria uma traição absurda ter que ofuscar quem sou para ela. Liya é devota da minha mãe e, com certeza, ela me trataria diferente se soubesse disso. E eu não quero ser vista por quem minha mãe é, não. Eu quero ser vista e amada por quem sou.

Além do mais, também estou carente. Faz meses que não transo com ninguém, principalmente com mulher, onde tudo é intenso e deliciosamente bom. Não, com ela, não. Que seja com outra, mas com Liya, não.

E eu acabo de perceber que não sei sequer a sua idade, tampouco o seu sobrenome.

Caos.

Caminho até o centro da sala, a ansiedade pulsando em cada passo. A plateia expectante observa enquanto começo a apresentar o trabalho, mas é a lembrança de Liya que me dá força e ânimo. Lembro-me da sua disposição e animação, e é isto que acaba me impulsionando.

Quando termino, saio da sala, ainda um pouco nervosa. Em todos os meus 22 anos, durante todo o meu percurso escolar, jamais imaginei-me em uma faculdade. Planejava virar uma empresária, ou até mesmo uma escritora - mesmo odiando a possibilidade -, só para não ter que passar pelo estresse acadêmico de novo. E cá estou eu, caminhando pelos corredores da faculdade, perdida em meus pensamentos, com medo da aprovação. Com medo se fui boa o suficiente.

Estou com a cabeça baixa, mexendo em meu celular. Em um momento de distração, ergo o meu olhar e encontro Liya. E, inexplicavelmente, corro em sua direção, abraçando-a. Um turbilhão de emoções me invade. Sinto uma gratidão imensa e, impulsivamente, seguro-a pela cintura e a giro, depositando um beijo suave em sua bochecha. O momento parece congelar quando vejo a expressão surpresa nos olhos dela, e ambas ficamos estáticas, encarando-nos intensamente.

Meu coração dispara, as mãos trêmulas sentem a textura de sua roupa, e o toque de meus lábios na pele dela desencadeia uma avalanche de sensações. É como se todo o universo se concentrasse naquele instante: a alegria da conquista, e uma ousadia que, até então, era desconhecida por mim.

O olhar fixo trocado entre nós revela um oceano de sentimentos, uma conexão profunda que escapa das palavras e se prolonga em um silêncio composto de significados.

— Eu fui bem! - É tudo que consigo dizer. Apesar da minha ousadia de chamá-la de “gatinha”, neste exato momento não sinto nada além de timidez. — Obrigada por sua ajuda!

Liya segura em meu rosto, e sorri. Ela sorri do mesmo jeito que sorriu para as câmeras. Ela sorri do mesmo jeito que desmonta o meu coração, inexplicavelmente.

— Eu te devia uma! - Ela sorri tímida dessa vez, sem expor os dentes. — Fico feliz que tenha se saído bem. Recebeu alguma pontuação?

— Ainda não, mas acho que fui bem. O professor disse que era exatamente o que ele esperava. Isso é bom, não é? - Estou mexendo em meus dedos, inquietamente.

Não entendo o por quê fico nervosa em sua presença, afinal, diversas vezes fui eu quem a deixei, ao menos, irritada. Agora, sinto-me como uma adolescente conversando com uma garota pela primeira vez.

Inspiro fundo, ela me olha calmamente, sorrindo com os olhos. E, observando eles, percebo que eles são de um castanho claro. Como mel.

Acho que é isso que define ela: mel. Ela é doce como um, não no sentido sexual, claro… Merda, por quê pensei neste sentido?

Maneio a cabeça, buscando me livrar dos pensamentos intrusos.

— Parece bom. Uma fala representativa. Espero que você alcance uma boa nota! - Ela sorri, e antes que vá, puxo-a pelo pulso. Seus olhos encontraram os meus, e mais uma vez eu paralisei diante deles. — O quê?

— Quer sair comigo hoje? - sussurro, e ela pende a cabeça um pouco para o lado. — Quer dizer… comigo e com o Caio, claro.

— Que horas mais ou menos seria? - perguntou.

— Umas 20h dá pra você?

— Uhum. - Ela faz que sim, e sorri. De novo, ela sorri de novo. — Me manda a localização pelo WhatsApp.

Ela sai, deixando comigo um turbilhão de sentimentos indescritíveis e confusos.

Lembrei que já tenho o seu número. Ao menos não terei que pedir, em algum momento.

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