Capítulo 16

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                                 Liya.

Como lidar com os seus próprios demônios?

É isso que me pergunto quase sempre, porque eu não sei. Eu não consigo dormir, não consigo desligar a minha mente. Todas as vezes em que fecho os olhos, Floris reaparece — mas não de maneira assustadora, antes fosse. Ela reaparece como uma dominatrix; dominando todo o meu eu, o meu corpo e os meus pensamentos.

Não sei o que sinto; não sei como lidar com tudo que estou sentindo. Não faço a mínima ideia do que sinto. Só sei que é uma sensação estranha… Um embrulho no estômago, o nó dificultoso na garganta, as mãos trêmulas, o corpo incapaz de reagir diante de qualquer ato que seja. É, bizarramente, estranho tudo isso.

Não sei quais são os sintomas de uma paixão, então acabo decidindo pesquisar. Com o notebook em mãos, procuro por um site que, supostamente, deduz se você está apaixonado.

Aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos?”. Assinalo a alternativa.

Corpo quente, excesso de suor e sensação desconhecida?”. E mais uma vez aperto que sim.

Incapacidade de dormir?”. Puta. Que. Pariu. Sim.

Frio na barriga e nervosismos?”. S.i.m.

Abaixo, rapidamente, a tela do meu notebook. Me nego a pensar nisso. Não, é impossível. Eu gosto de meninos e… “Calma”, penso. Eu nunca transei com garotos e, todas as vezes em que estou beijando um, não sinto nada senão um vazio perpetuado e um tédio latejante.

Não é possível. Estou emotiva, não há outra resposta. A semana foi difícil, a lembrança da ausência da minha mãe. Não, impossível.

Levanto-me e decido ir até a janela, onde apoio as mãos e abaixo a cabeça buscando o ar. Quero gritar, ou falar com o Caio. Quero entender o que está se passando na minha cabeça, mas nem eu sei. Merda!

Ergo o olhar e fico admirando a lua. Às vezes adoraria ser como ela; fria, como uma noite estrelada. Mas compactuo com o sol; sempre ardo, como um dia caloroso regado por lembranças.

Sento em minha escrivaninha, com o livro da Sabrina em mãos. Decido folhear algumas páginas, apesar de já ter concluído. Deslizo o dedo por uma das suas citações: “A omissão do sentir nos leva a presumir o irreal.

E detesto ter que concordar com ela. E se eu estiver apaixonada, qual seria o problema?

O problema seria que ela é indisponível. Floris não se contenta em ficar somente com uma pessoa”, penso. Mas reluto. “Mas ela é solteira, não há problema em beijar”, penso. “As pessoas se beijam sem sentir. Você? sente sem ao menos ter beijado”, me condeno.

Infiltro meus dedos no meu cabelo, apertando os fios. Choramingo baixinho. Pelo visto, não dormirei esta noite. Entre suspiros, meus pensamentos se voltaram para Floris novamente, como se uma conexão invisível nos unisse naquela madrugada.

O meu celular está distante, então não faço a mínima ideia de quem esteja me ligando. Rolo os olhos em irritação, xingando seja lá quem for por me ligar. Travo completamente ao ver o seu nome reluzindo na tela do meu celular. Telepatia realmente existe? Porque não há outra explicação senão essa. Estava me lamentando há pouco, e agora estou com as mãos tremendo segurando o celular, relutando entre a razão e a emoção.

E se a minha voz sair atordoada? E se eu gaguejar durante a conversa?

— Liya, estou com medo… - sua voz está fraca, como se ela estivesse tremendo.

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