Floris.
— A Liya é uma escrota! - vocifero, ainda atordoada diante de tudo que ela me disse.
— Calma, Floris! Me conta, como tudo isso aconteceu?
Relato tudo para ele, até mesmo o que pressuponho ter acontecido. Ele me olha atentamente, mas um pouco distante. Tenho pra mim que ele sabe o por quê ela agiu desta forma.
— Será que é ciúmes? - Ele indaga, com as sobrancelhas um pouco arqueadas. Pensativo.
— Por que ela teria ciúmes de mim? Não tem sentido - Encosto-me na cabeceira da cama. — Nunca fiquei com ela. Ela sequer me dá abertura.
— Não há outra alternativa, Floris. Ela te viu beijando uma menina e… surtou. - diz. — Mas naquele dia ela estava sensível.
— E eu tenho culpa da sua sensibilidade?
— Faz 6 anos que a mãe dela se foi, Floris.
Me retraio, engolindo em seco o que ele diz. E, apesar do justificável, não consigo sentir nada além de raiva. Não suporto a ideia de ditarem algo sem que eu seja. Mesmo se eu fosse, não cabe a ela - ou a alguém - ditar quem sou só pelo que faço. Isto é invasão.
— Entendo, é complicado, mas ainda sim, não consigo digerir tudo que ela me disse. - Levanto, caminhando até a janela. Sento-me na borda. — Ela me chamou de carente, Caio!
— E você é? - perguntou.
— Óbvio que não! - respondo rapidamente, olhando em seus olhos.
— E então por quê está se torturando assim pelo que ela disse?
— Eu não sei! - esbravejo - Eu só queria uma justificativa… - Estou olhando a movimentação na rua, até que ele toca o meu ombro. — Hum? - Olho para a sua mão e depois para os seus olhos.
— Acho que ela gosta de você. E você também gosta dela. - Ele soa tão convincente que, outrora, acreditaria na hipótese. Mas não há possibilidade. “Gostar” é forte demais. Uma atração, talvez.
— Caio, não há possibilidade - Me afasto dele e vou até a cama. — Gostar… do nada? Não há possibilidade! Eu só acho que a Liya está sensível, mas eu não merecia ser tratada assim. - Solto uma lufada de ar, demonstrando a minha frustração.
— Tá, eu sei que acredito fielmente que vocês seriam um casal muito bonito - ele pigarreia - Mas não há outra alternativa, senão ciúmes. Boa! - Expressa, entreabrindo a boca. — Ela está com… ciúmes!
— Quê? - Olho-o com o cenho curvado em negação e confusão. Caio idealiza demais o irreal. — Você é mesmo louco! - Rolo os olhos e saio do quarto indo até a cozinha.
— Floris, por que ela ficaria brava com você sendo que você não fez nada? Ela te flagrou beijando outra e… sentiu ciúmes. - Caio diz, convincente, sorrindo diante da sua afirmação maluca. — Ela sente ciúmes de você!
— Você é louco.
— Não, a Liya que é louca por você.
Encontro seus olhos, semicerro os meus e o fuzilo. Eu posso até sentir atração por ela, mas não acredito na possibilidade dela sentir o mesmo. Sentir ciúmes. Muito, muito precoce afirmar isso.
— Acho que você acreditaria se fosse o contrário, não? A suposta lésbica aqui sou eu, não ela. - Estou terminando de lavar a louça. Caio se aproxima de mim, se encostando na pia, com os braços cruzados e um olhar instigante. — Quê que foi, Caio?
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Quase Confidencial - ROMANCE SÁFICO
RomanceLiya e Floris formam um casal cujo encontro foi intermediado por Sabrina Jenkins, a autora favorita de Liya. Liya é uma entusiasta apaixonada por livros, enquanto Floris nutre uma paixão fervorosa pela música. O que inicialmente floresceu como um re...