Capítulo 17

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                                 Liya.

Ao me deparar com a imagem reflexiva no espelho, ajusto a gola da blusa com um toque cuidadoso. O vestido que escolhi, um tom suave de azul, é uma escolha consciente para o jantar com meu pai e a mulher que entrou em sua vida.

Seis anos se passaram desde que minha mãe partiu, deixando um vazio que persiste.

Ao passar o pente pelos meus cabelos ruivos, pondero sobre a incerteza que envolve esse encontro. Uma mistura de emoções aflora, desde a curiosidade até a apreensão. Minha mãe, uma presença constante em minha memória, parece observar a cena, invisível, mas presente.

Cada movimento cuidadoso na maquiagem é uma preparação para enfrentar uma nova dinâmica familiar. Penso em como seria isso para ela, como lidaria com a presença de uma mulher na vida do meu pai. A incerteza paira, mas respiro fundo, buscando coragem para encarar o que está por vir.

Visto o colar que era da minha mãe, uma lembrança constante da sua presença que carrego comigo. Olho novamente para o espelho, encontrando nos meus olhos uma determinação mesclada com nostalgia.

— Mãe, espero que esteja orgulhosa - sussurro para o reflexo, como se ela pudesse ouvir.

Ao adentrarmos ao restaurante, os murmúrios e a suave melodia de fundo formam uma atmosfera que paira sobre nós. Escolhemos uma mesa discretamente iluminada e, ao me sentar, sinto a expectativa nervosa aumentar. É quando ela entra, e a luz reflete nos seus olhos, revelando um sorriso caloroso.

Nossos olhares se encontram pela primeira vez, e naquele instante, o tempo parece desacelerar. Ela estende a mão e eu a aperto, gesto simples, mas carregado de significado.

— Liya, é um prazer finalmente conhecê-la. - Diz ela com sinceridade, e sua voz ecoa como uma promessa de novos começos que me aterrorizam.

Sorrio para os dois, mesmo sentindo o meu coração partir-se, como se eu estivesse traindo a minha mãe. A repulsa corrói lentamente o meu peito, fazendo-me retrair logo em seguida. Não trocamos mais nenhuma palavra após a sua chegada, notavelmente ela percebeu que sou tímida e não insistiu.

A saudade da minha mãe é como o pôr do sol, trazendo consigo o esplendor do seu tardar, após um dia cheio. Ela era como um cobertor quentinho, capaz de abraçar-te para que não sentisse nada senão o conforto daquele momento. A minha mãe era como um banho gostoso após um dia longo de trabalho.

A minha mãe era, já não mais, senão uma dor latejante acorrentada às lembranças perpétuas.

Peço licença, com um sorriso frágil, alegando uma rápida ida ao banheiro. No corredor, a solitude momentânea permite que as lágrimas, contidas até então, deslizem silenciosamente pelo meu rosto. O eco distante das conversas no restaurante proporciona um refúgio temporário para as minhas emoções.

Ao chegar ao espelho do banheiro, encontro-me com meu próprio olhar, tentando reprimir a saudade que insiste em emergir. Contudo, ao virar-me para sair, sou surpreendida por ela, a garota que, secretamente, habita os meus pensamentos.

Meu coração dispara e, por um instante, esqueço a dor que me trouxe até aqui. Ela sorri, mas há algo em seus olhos ecoa uma compreensão silenciosa. Sem palavras, nossos olhares se conectam, e um misto de surpresa e alívio toma conta de mim. Corro em sua direção, abraçando-a fortemente como se fosse a âncora que eu precisava naquele momento turbulento.. É um momento de alívio, de sentir o coração acelerado dela batendo em sincronia com o meu. A presença de Floris traz um conforto inesperado, uma âncora em meio ao turbilhão de sentimentos que me assolam

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