Capítulo 10

3.2K 363 150
                                    

                         Liya.

Estou terminando de contornar os meus lábios. Não sou de usar batom fortes, acredito que não combina com a minha tonalidade, mas hoje decidi arriscar. Queria experimentar algo novo. Fugir do clássico é sempre bom.

Desta vez, optei por encontrá-los. A maioria das vezes o Caio vem me buscar, mas decidi ter autonomia e independência hoje. Apesar de ainda ser vista como um bebê para o meu pai, eu sei que não sou, não mais.

Hoje tem sido um dos dias em que eu penso muito na minha mãe. Dias aleatórios, carregados pela saudade nada aleatória. E por isso decidi sair. Não gosto de estar sempre me lamentando, acredito fielmente que isso não traz paz para ela.

O Uber está à minha espera. Beijo a bochecha do meu pai, enquanto ele reforça todas as medidas de seguranças que ele lembra. Eu detestaria isso, caso eu ainda tivesse a minha mãe. Os dois juntos pegariam muito no meu pé. Eu amaria isso.

Entro no salão de festas. O som alto sempre me assusta, não sei por quê. Meus olhos varrem o local, à procura de algum dos rostos familiares que conheço, mas não encontro.

Decidi então ir para os fundos. Estou aguardando a minha bebida, enquanto os meus olhos se distraem entre as inúmeras pessoas que há aqui. Algumas beijam entre si, outras dançam. Outras apenas curtem a sua própria companhia. E são essas, em específico, que eu centralizo a minha atenção.

A ideia de curtir a sua própria companhia, para alguns, é assustadora. Mas eu não vejo assim, não. Eu gosto. Gosto da minha particularidade, do meu canto. Das minhas coisas. Gosto de estar sozinha, em determinados lugares. E isso não me rotula como anti social, não. Pelo contrário, eu também adoro pessoas, mas gosto muito mais da minha própria companhia.

E talvez seja isso que assuste: gostar de si mesma ao ponto de ter que encarar-se. É desafiador, para muitos.

Estou inerte em meus pensamentos que acabo não percebendo que estou com os olhos paralisados diante dela. Diante das duas. Ambas se devoram, como se o que restasse naquela noite fosse isso.

Reviro os olhos em contrapartida, e me deparo com Caio, que está com a cabeça apoiada em suas mãos, me encarando.

— Que foi? - pergunto, e logo em seguida viro toda a bebida na minha boca. — Trem ruim da porra! - exclamo, entredentes.

— Ela não perde uma.

Ele se refere à Floris. Ele se refere à garota que não perde a oportunidade de beijar qualquer boca disponível. Não sei como consegue, já é a segunda vez em que a vejo beijar uma desconhecida, mas em prol de quê? De suprir a carência só por alguns minutos?

Geraçãozinha fraca e carente, viu.

Dou de ombros e ele ri. Espreito meu olhar por cima do ombro, analisando as duas. Ambas estão conversando, com os olhares fixos. Engulo em seco e desvio o olhar.

— Você ficaria com ela, Lili? - perguntou.

E eu engasgo com a saliva. Tusso duas vezes.

— Por que a pergunta?

— Uai, por nada. Ela é bonita, não acha?

— Sim, e? Continua sendo uma mulher, Caio. Eu não fico com mulheres.

— Nem um pouquinho de curiosidade? - Ele instiga, estendendo o seu corpo para perto de mim. — Vocês ficariam tão lindas juntas.

— Não, nela, não. Em outra, quem sabe. - Aponto com o olhar para uma das minhas colegas de classe. Ela é alta, possui cabelo cacheado e tem um baita sorriso encantador. — Essa ali, talvez.

Quase Confidencial - ROMANCE SÁFICO Onde histórias criam vida. Descubra agora