Medical Center Cabello

Transplante

— Hoje é um belo dia pra tocar em um coração, não acha senhorita Jauregui?

Ouvir Camila dizer aquilo, com um sorriso tão lindo no rosto, me aqueceu em todos os níveis, a minha vontade era de dizer que ela tocava o meu coração todos os dias, mas é claro que aquilo não iria sair da minha boca no meio da recepção do hospital.

— Acredito que sim doutora – Me limitei a responder apenas isso, com um sorriso baixo e envergonhado, aquela mulher tinha o poder de me deixar assim.

— Alguém já tocou seu coração, senhorita Jauregui? — Dinah perguntou fingindo estar vendo a lista de pacientes do dia, afinal começamos o plantão no mesmo horário.

Quando te falarem que hospital é um dos lugares que mais rola fofoca, acredite, nesse instante até mesmo as atendentes se calaram pra ouvir a minha resposta, do outro lado do balcão Camila parecia se divertir com isso, enquanto Dinah me apressava por uma resposta, ela sabia que eu gostava de Camila e provavelmente também já sabia que tivemos uma noite incrível, porque eu estava tão feliz que acabei contando tudo pra Mani no dia seguinte.

— Não perturbe a minha interna doutora – fui salva nos últimos minutos por uma Camila risonha que com certeza iria me pagar mais tarde — Vamos Jauregui, temos uma paciente pra atender hoje.

Acontece que hoje seria a cirurgia da paciente Clara Morgado, a senhora que atendemos alguns dias atrás, finalmente encontraram um doador compatível e ela conseguiu o seu tão esperado coração, fiquei feliz por ela não ter tido nenhuma recaída e parecer estar bem para o procedimento, é sempre emocionante esse tipo de cirurgia, pois é como devolver um sopro de vida para alguém, participar disso é uma honra para qualquer interno.

Hoje ela estava acompanhando por sua filha Taylor, uma garota linda de olhos verdes, me lembrava muito os meus, eu gostava de conversar com os pacientes e deixar eles mais a vontades, gostava de saber suas histórias de vida, mas infelizmente ainda não tive essa oportunidade com a senhora Morgado, depois do acidente no hospital e de passar uma semana de atestado, agora que realmente voltei a atender.

— Bom dia Clara, como você está hoje? – Um sorriso no rosto e uma voz animada, nem parecia a mesma Camila que conhecia a alguns meses atrás.

— Estou ótima doutora, e vejo que você também está muito bem – A mulher comentou sorrindo.

— É confesso que tive uma noite maravilhosa ontem – É sério que Camila vai falar sobre nossa noite pra uma paciente?

— Está apaixonada doutora? – Clara perguntou animada pelo rumo da conversa, falar da vida amorosa das pessoas era tão interessante assim?

— Talvez – ouvir Camila dizer aquilo acelerou os batimentos do meu coração e eu agradeço por não ter aparelho nenhum conectado nele, se não  todos da sala saberiam — E você Clara? Tem alguém?

— Ah não, no meu coração só tem espaço pra mais um amor, que é a minha outra filha – Sua voz mudou de repente, era uma mistura de tristeza com nostalgia.

— Ela não pôde estar aqui? — Perguntei com receio de estar tocando em um assunto delicado.

— Infelizmente não – ela respondeu olhando para mim e depois para Taylor que segurou sua mão e beijou com carinho.

Depois que eu acabei com o clima animado da sala me retirei para ir ver se estava tudo certo com a sala de cirurgia, os exames de Clara estavam ótimos e o coração já estava a caminho do hospital, o transporte estava sendo feito de helicóptero, por ser mais rápido e menos perigoso, vi no meu relógio de pulso que faltava 10 minutos para entrar na sala de cirurgia e aproveitei para ir até a lanchonete comer um sanduíche rápido, até porque esse tipo de cirurgia as vezes demora um pouco e eu já estava morrendo de fome.