CAPÍTULO 1

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As noites no meu quarto nunca foram tão sombrias. Estar tão ansiosa me faz querer arrancar meu coração para fora numa tentativa de fazer com que toda essa dor pare. Papai e Mamãe não andam bem, ou melhor, não me lembro de quando foi a última vez que os vi se beijarem ou ouvi-los dizer que se amavam. Casamentos, não é? Às vezes me pergunto se terei o mesmo destino. Brigar com alguém que já não amo pelo resto da minha vida e, mesmo assim, dormir na mesma cama, compartilhando o mesmo lençol. Sou ingênua demais por pensar que o amor dura para sempre? Eu acho que sim. Mas, no fundo, espero que não.

— Cala a boca, Joey, porra! — Escuto meu irmão gritar com o meu pai do lado de fora do meu quarto.

Quando essas coisas acontecem, meu irmão sempre tenta intervir para proteger mamãe e, no fundo, para evitar que eu escute toda essa merda.

— Eu já mandei você calar a boca, caralho! Se você ousar xinga-la novamente com essa sua boca imunda, eu juro que espanco você. — Meu irmão diz com a voz rouca, fazendo com que o som ecoe por toda a sala e chegue até o meu quarto, me causando uma sensação de ânsia. Sem saber o que fazer, eu apenas ponho o travesseiro em meu rosto para tentar fugir daquela realidade o mais rápido possível.

— Olha como o mimado do seu filhinho está, Jane! Esse desgraçado cresceu que nem um rebelde. — Meu pai diz, olhando no fundo dos olhos de Ethan, meu irmão, que se aproxima do meu pai sem um pingo de medo.

— Eu sai da porra do seu saco, caralho! Se eu tenho todos os defeitos que tenho, eles com certeza foram herdados de você. — Ethan diz, chegando tão perto do meu pai que o nariz dos dois se chocam.

— Filho da puta! — Meu pai diz, com o semblante furioso.

De longe dava para sentir a tensão que se espalhava pela sala, fazendo com que aquele grande cômodo parecesse pequeno e abafado demais para continuarem respirando ali.

— Faz alguma coisa, Jane! Ou você vai continuar agindo como uma desgraçada enquanto seu filho continua nessa rebeld... — Não escuto ele terminar a frase, apenas o som do seu corpo caindo no chão e um grito desesperado de minha mãe.

— O que você fez, Ethan? — Pergunta, com os olhos cheios de lágrimas, caída de joelhos ao lado do meu pai, que estava tentando entender o que havia acabado de acontecer.

— O que eu fiz mamãe? — Ethan ri sarcasticamente, arrumando os fios de cabelo que haviam se bagunçado durante o golpe que havia dado em meu pai. — Eu tentei te proteger, como todas as outras vezes. Mas você? você parece querer continuar com um idiota que te bate e te xinga de todos os nomes. — Ele ri baixo, em tom de deboche. — Tudo isso para quê? Para manter a imagem de família perfeita que você tanto almeja? — Ethan dá uma pausa, procurando as palavras certas para o que ele ia acabar de dizer. — Proteger o maridinho que te trai com uma mulher 15 anos mais nova, vale a pena, mamãe? — Ele diz lentamente a última frase, fazendo com que meus pais fiquem em um silêncio perturbador.

Mas isso não impediu que o constrangimento de mamãe gritasse mais do que qualquer palavra dita. Ela está devastada, arruinada, com o coração partido. Ajoelhada no chão da maneira mais humilhante possível. E papai? ele só vai fazer o que sempre fez, sair de casa e fingir que nada aconteceu nos próximos dias.

Por alguns minutos escuto passos pelos cômodos, algumas fungadas e suspiros baixos. Minutos depois todos os quartos estão com as luzes apagadas, em silêncio total. Não consigo conter as lágrimas que queriam tanto sair dos meus olhos.

Eu realmente não aguento mais.

Acordo no dia seguinte com minha gatinha lambendo meus dedos. Todos os dias ela faz o mesmo ritual, como se fosse programada para agir do mesmo jeito todas as manhãs. Me levanto e vou até o banheiro, pegando seu potinho de água que deixo perto do box para que ela não acabe derrubando a água em todo meu quarto.**

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