Filha do governador

22 Sem anestesia

Vallon

  A primeira coisa que sinto e dor, meu corpo dói,minha cabeça dói,até respirar dói.
  Tenho até medo de abrir os olhos e ver onde estou ou o que aquele brutamontes fez comigo.
  Sinto um edredom em cima de mim, macio e felpudo, é tão quentinho.
  Não ouço nada, então abri os olhos pouco a pouco, primeiro notando o branco da parede a minha frente, percebo que minhas mãos não estão amarradas, devagar me viro na cama em que estou. Percebo alguém sentado na poltrona a frente da minha cama,ele está sentado e lendo alguma coisa,não percebe os meus movimentos.
  Observo o quarto,não parece nada assustador,possui uma varanda com enormes portas de vidro do chão ao teto, olho para fora e vejo que já é noite. Olho para a mesinha ao lado da cama e vejo um copo com água,se eu conseguir pega-lo e acertar na cabeça do homem sem ele ver terei uma vantagem de sair daqui.
  Afasto as cobertas e percebo que minhas mãos estão muito cortadas, daí lembro-me do vaso ao qual fui empurrada. Afasto os pensamentos e tento executar meu plano, coloco meu pés no chão e fico de pé, o que não dá certo pois uma vertigem me bate e meu braço adormece,batendo no copo que eu ia pegar e o derrubando,espatifando tudo no chão.
  Não tenho nem tempo de reagir pois o homem que estava sentado agora está ao meu lado,me segurando. Ele me segura pela cintura com o antebraço e com a outra mão segura minha nuca, paro por um segundo e olho para seu rosto -com medo de ver os traços de Nathaniel-  e me assunto com quem vejo.

  -Aron? - ele me dá um meio sorriso discreto. Não aguento de empolgação e pulo em cima dele. -Aí meu deus,ainda bem. Pensei que estivesse perdida. Eu...ele...- ele cola sua testa a minha e eu paro de falar.

  -Tá tudo bem, eu consegui te tirar dele, não precisa ficar nervosa. - ele afasta a testa da minha e alisa meu rosto com o dorso da mão. - Vem,você tem que sentar,levou uma pancada na cabeça.

   Aos poucos ele me senta na cama e senta ao meu lado. Ele está vestido uma regata preta e calças jeans despojadas,seu cabelo está em um topete e usa tênis esportivos pretos.
  Olho novamente para a varanda,olhando para o céu brilhante,me lembro de Dominic e meu coração aperta com um só movimento.

-Dominic, onde ele está? Ele está bem? Por favor,me diga que ele não se machucou. - falo tudo de uma vez e sem pra para respirar.
  
     Sinto a mão de Aron na minha em cima da cama e paro de falar na hora,ele fica seus olhos nos meus.

  -Ele está bem, ele não estava no apartamento quando achei você lá. - ele desvia o olhar do meu para a porta de entrada do quarto. -O que estava fazendo na casa dele? - ele fala ainda sem me olhar nos olhos.

  Suspiro alto e faço carinho em sua mão que ainda permanece junto a minha.

  -Eu vou contar.

  E assim começo contar do dia em que Dom me resgatou do meu pai, tudo que ele fazia comigo e em como eu estava sofrendo.

  -O médico me examinou e foi isso. - falo sentindo uma certa angústia no peito.
 
  Sinto a mão dele apertar a minha com força,ele nem prece perceber que está fazendo isso,então coloco minha outra mão em cima da sua.

  -Me desculpe,Vallon. Eu nem percebi o que você estava passando,eu podia ter tirado você daquele inferno, mas ainda bem que Dom chegou na hora. - ele suspira.

  -Sim,ele me ajudou muito, sou eternamente grata a ele. Falando nisso...- olho para a parede ao lado da cama e depois volto meus olhos para o de Aron - Sabe o que Dom estava fazendo em minha casa aquela noite?

   Ele vacila,tão sutilmente que quase não percebo, mas o canto da sua boca treme por um milésimo de segundo e suas pupilas dilatam discretamente.

-Não sei, ele não me falou nada. - conheço Aron a pouco tempo,mas já consigo enxergar quando está mentindo.

  -Tá bem,eu pergunto ao Dom então. -mal termino minha frase e já me bate um outro aperto no coração,já é noite, Ele deve estar preocupado comigo. Levando em um pulo - Tenho que avisar ao Dom onde estou, ele deve estar preocupado, eu quebrei a casa dele inteira. Ele vai me matar.