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DULCE MARIA 📜

Fiquei naquela posição por incontáveis minutos, nunca chorei tanto na minha vida e agora me vejo exatamente assim depois de olhar sem parar para aquela foto. Notei que a porta havia sido aberta e era dona Alexandra que estava sorrindo, mas quando me viu sua expressão mudou no mesmo segundo, acabei chorando novamente e então ela se sentou ao meu lado e me abraçou de uma maneira que me senti acolhida.

— Querida, o que houve? — ela me perguntou após desfazer o abraço e me acariciar com uma de suas mãos.

— Eu estava olhando as coisas dele e me deparei com isso em uma das gavetas. — eu disse com a voz embargada enquanto enxugava minhas próprias lágrimas.

— Não acredito que ele ainda guarda essa foto. — ela disse olhando surpresa.

— Ele ia jogar fora? — perguntei após sua observação.

— Teve um dia que ele quis se desfazer de tudo que lembrava de vocês, especificamente na época em que você estava em Nova York. Essa foto sempre foi a preferida dele, estava em um porta retrato, mas ele tirou depois.

— Não o culpo por querer se livrar de tudo, eu deixei ele pensando que eu não queria mais nada.

— Por favor, não volte a remoer esse assunto.

— Dona Alexandra, esse foi o motivo das nossas inúmeras discussões e ele me disse o quanto toda essa situação foi difícil pra ele.

— Me chame apenas de Alexandra e sim, eu sei que foi difícil porque estive com ele durante toda aquela fase de alguém que teve o coração partido.

— Eu sabia que tinha o machucado, mas depois que ele me disse como se sentiu, tudo mudou.

— Devo admitir que me impressiona ele ter falado diretamente sobre isso, por um bom tempo evitou tocar no assunto e quando você voltou aconteceu exatamente o mesmo.

— No dia antes do acidente, quando estávamos discutindo ele me disse tudo que estava sentindo. Eu não soube reagir, mandei ele ir embora. — abaixei a cabeça e ela tocou minha mão.

— Nem pense em voltar a dizer que você foi culpada, ok? Não cometa o mesmo erro que eu.

— Me desculpe, mas é inevitável não pensar assim.

— Dulce, você foi magoada assim como ele e fez exatamente o mesmo reagindo da maneira que reagiu e pronto.

— Queria enxergar as coisas dessa maneira, mas sinto que poderia ter sido diferente.

— Infelizmente as coisas aconteceram como tinha que acontecer, a gente não entende, mas tudo acontece por um motivo.

— Será que ele vai acordar logo? — perguntei.

— Eu não sei, mas estou torcendo que sim.

— Obrigada por estar comigo e me ouvir. — sorri e ela me abraçou novamente.

— Eu te disse uma vez e volto a repetir, vou estar com você sempre que precisar e pode contar comigo. — sorriu.

No dia seguinte fomos novamente ao hospital, depois da conversa que tive com Alexandra senti que nossa relação mudou completamente e prometi para mim mesma que não iria sair do lado dela, mantendo a mesma promessa que fez para mim nas vezes que precisei de apoio.

— Bom dia, doutor. — ela disse para Henrique que acabava de chegar.

— Bom dia a todos! Trago a tão esperada notícia, o Christopher já pode receber visitas.

— Ótimo, graças a Deus! — disse Alexandra.

— Podemos ir agora mesmo? — perguntou Claire.

— Claro, podem ir todos se preferirem.

Meu coração começou a acelerar ainda mais seus batimentos conforme eu sabia que estávamos chegando ao quarto onde ele estava, o doutor abriu a porta e já vimos ele com a máscara de oxigênio e completamente imóvel em cima daquela cama. Não aguentei e comecei a chorar, Alexandra foi a primeira a se aproximar.

— Filho, é a mamãe. — ela disse muito emocionada enquanto tocava o rosto dele. — Ele pode me ouvir, doutor? — perguntou em seguida.

— Infelizmente não. O coma é um estado de sono profundo onde a pessoa não pode ser despertada, mesmo com estímulos dolorosos, sonoros ou visuais. Ela fica de olhos fechados e não tem nenhuma interação com o ambiente.

— Eu já ouvi pessoas dizerem que eles podem nos ouvir quando estão nesse estado. É verdade? — perguntou Claire.

— Ainda é uma causa indefinida, estudos têm sido feitos para tentar entender o que se passa no cérebro de pessoas que estão nessa condição. Mas aconselho que vocês conversem com ele, quem sabe não é possível que ele reaja a algum estímulo. — assentimos ao ouvir.

Todos ficamos no quarto enquanto cada um ia conversando, quando chegou na minha vez quase não consegui sair de onde estava.

— Melhor deixarmos a Dulce sozinha com ele um pouco, te vemos lá fora. — disse Alexandra após segurar meus ombros.

Assim que ouvi a porta fechar caminhei até a cama e sentei um pouco próximo a ele, o olhei por alguns segundos sem dizer nenhuma palavra e naquele momento foi impossível não chorar estando diante da condição dele. Levei minha mão de encontro a dele e a segurei, o olhando novamente na tentativa de conseguir que ele me mostrasse que estava sentindo minha presença.

— Oi, é provável que você não esteja me ouvindo, mas mesmo assim eu vou dizer. Christopher, me desculpe por aquela noite e eu espero do fundo do meu coração que você se recupere logo pra que eu possa te ver bem. — minha voz embargou e o choro apareceu.

Beijei sua mão com cuidado, admirei seu rosto e pude notar alguns arranhões e aquilo me partiu o coração. Quão machucado ele estava para ter se arriscado daquela forma? Me fiz essa pergunta, mas só ele poderia me dar a resposta. Decidi ir embora, fiquei de pé e o olhei novamente.

— Não se preocupe porque eu vou vir te ver muitas vezes ainda, até você acordar. — dei um beijo em sua testa, com o rosto coberto por lágrimas e saí do quarto depois daquilo.

Parei no corredor e chorei mais ainda, eu só queria que ele acordasse logo. Eu o amo tanto e me dei conta exatamente naquele momento, porque nada do que ele fez foi o suficiente pra me fazer odiá-lo tanto quanto eu gostaria.

Fighting for Love (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora