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CHRISTOPHER UCKERMANN 📜

Eu estava me esforçando, não conseguir lembrar de muitas coisas que fazem parte da minha vida era horrível. Pelo o bem das pessoas ao meu redor e de mim, eu queria muito poder lembrar de tudo em um passe de mágica, mas o médico disse que leva tempo e eu posso demorar para ter de volta essas lembranças. Segui minha rotina de tratamentos por meses agora estando em casa com fisioterapeuta, nutricionista, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, entre outros.

O meu corpo parou assim como minha mente durante o tempo que passei em coma, ainda não processei tudo que aconteceu comigo antes e depois do acidente. Tenho me concentrado em tentar conseguir lembrar das coisas, o que tem sido difícil já que estou forçando isso.

— Oi. — disse Alfonso assim que entrou em meu quarto logo que o doutor saiu.

— Oi, amigão. — sorri para ele.

— Como você tá, brother? — sentou-se em minha cama de frente para mim.

— Tenho me torturado em busca de conseguir me lembrar das coisas.

— Quando você diz coisas, está se referindo a Dulce, não é?

— Bom, ela também. Mas digo isso em relação a tudo que eu fazia, eu não sei mais quais são meus gostos e tenho medo de nunca mais saber.

— Não fica assim cara, o doutor disse que leva tempo. Enquanto isso você pode se estimular.

— E como eu faço isso?

— Por exemplo, você pode ouvir os seus discos, olhar suas fotografias e também tentar se descobrir em algo novo.

— Eu não lembrava de você ser tão bom dando conselhos. — rimos.

— Isso é porque você só me ouvia falar sobre mulheres, agora as coisas são diferentes.

— Diferentes, tipo Anahi?

— Sim, conhecer ela me mudou completamente.

— Isso é ótimo cara, você me disse que ela me odeia.

— Odiava, ela ficou com dó porque você quase morreu e resolveu deixar as diferenças de lado.

— Muito gentil da parte dela.

— O seu lado sarcástico e bem humorado permanece mais vivo do que nunca.

— A Dulce também me disse isso.

— Vocês saíram juntos, não foi?

— Sim, semana passada fomos em um restaurante e ficamos conversando durante horas.

— E como você se sentiu?

— Diferente, a única certeza que tenho de que fomos próximos é a foto que ela me mostrou.

— Vocês foram muito próximos! Não preciso nem contar a história, né? Ela deve ter feito isso já.

— Ela me contou tudo, mas ainda sim é um borrão na minha mente e tenho me torturado com isso.

— Você não precisa forçar nada, dê uma olhada nas fotografias. Tenho certeza de que vão ter outras fotos de vocês dois juntos, acredite.

— Acha que algum dia vou lembrar dela?

— Eu tenho certeza que sim.

Alfonso e eu ficamos conversando por algumas horas ainda, Christian apareceu logo depois e foi incrível poder ter os meus dois melhores amigos ao meu lado novamente. Fizeram questão de me contar histórias loucas de quando estávamos na faculdade e até da minha ex-namorada que pareceu ter se preocupado comigo quando soube do acidente. Depois que eles foram embora, resolvi fazer o que Alfonso me disse e que há meses não pensei nisso já que os médicos estavam sempre me dizendo, então fui revistar o meu quarto inteiro em busca de algo que pudesse me ajudar nesse processo.

Me surpreendi quando encontrei anotações do meu tempo na faculdade, fotos com amigos e professores e não demorei para chegar nas fotos do ensino médio e muito antes disso devo dizer pela minha aparência nas fotografias. Aos poucos comecei a lembrar de algumas dessas pessoas e de momentos em específico, chorei quando vi uma foto minha ao lado da minha mãe, meu pai e minha irmã mais velha. Naquele momento tive uma espécie de flashback de todos os acontecimentos daquela época, comecei a olhar mais fotos desejando que aquilo continuasse porque eu finalmente estava me lembrando.

Achei um caderno com anotações feitas para Dulce e não acreditei no que acabava de ver, eu era um cara muito romântico e fazia questão de demonstrar isso toda vez que me sentava para escrever algo relacionado a ela. Vi novas fotos nossas de todos os tipos, em todas era possível ver a felicidade estampada em nossos rostos e eu pude perceber que aquilo era real. Eu a amava e nunca fiz questão de esconder isso.

Continuei olhando aquelas fotos e foi quando me deparei com uma em que estávamos debaixo de uma árvore de mãos dadas e vestidos de branco, era a nossa despedida do último ano do colégio. Dulce usava em sua cabeça uma tiara de flores e nas mãos um anel que me chamou a atenção desde do momento em que bati os olhos naquela foto, lembranças me invadiram novamente.

“Eu te amo, Christopher! Não importa o que aconteça, onde vamos estar próximo ano. A única certeza que terei é que sempre irei amar você.”

Ela havia me dito isso com os olhos cheios de lágrimas enquanto estava deitada em meu colo.

— Christopher? — era a voz dela e eu me assustei quando vi que ela estava na porta.

Fui surpreendido por centenas de lembranças que passavam rapidamente em minha mente, mas que eu conseguia lembrar com clareza cada acontecimento em específico e tudo isso veio quando olhei para ela naquele instante. A última delas foi o momento do acidente, depois da nossa discussão na festa de ano novo e eu indo em uma boate comprar bebida para tentar esquecer toda a dor que eu estava sentindo.

Dulce me chamava sem parar preocupada com a minha reação, depois de ver tudo abri os olhos lentamente e me deparei com o seu rosto tão próximo do meu que não pensei duas vezes em beijá-la naquele momento. E foi ali que tive a certeza de que sempre a amei, que mesmo não me lembrando de nada, eu estava certo de que tínhamos algo mais forte do que nunca.

— Eu lembrei de você, de nós. — eu disse após pararmos o beijo e estarmos ofegantes demais.

— Sério? — seus olhos marejaram.

— Segui um conselho do Alfonso, visitei o passado e lembrei de tudo ou pelo menos quase.

— Você lembra do que aconteceu antes do acidente?

— Sim, a gente discutiu na festa de ano novo depois que eu tentei fazer você me perdoar.

— Eu não acredito que você lembrou, esperei tanto pra poder te dizer tudo que eu não tive coragem de falar naquela noite.

— Você pode me dizer agora. — toquei sua mão e ela me olhou já aos prantos.

— Agora que eu estou na sua frente não sei por onde começar, sofri tanto por te ver daquele jeito.

— Vamos colocar as cartas na mesa, estou te ouvindo agora. — sorriu e eu assenti.

Eu estava pronto para ouvir e também para dizer todas as coisas que ficaram por alto naquela noite, temos muito a dizer e ela apareceu justamente no momento certo para que isso acontecesse.

Fighting for Love (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora