Capítulo XXXIII - Cores terrosas

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POV: HARRY STYLES

Cada passo que eu dava até Liam parecia uma pequena tortura. Ao trocar o peso entre uma perna e outra, uma pontada de dor percorria minha espinha. Meu corpo protestava, uma onda de incômodos me atingia por todos os lados. A saia, que momentos atrás parecia uma escolha divertida, agora me envergonhava. Aqueles olhares curiosos, alguns oferecendo ajuda que recusei, só aumentavam o sentimento de humilhação.

Agora a sós, eu já prevejo uma repreensão do professor. O constrangimento era palpável, e eu mal podia encarar Liam nos olhos, então mantive meus olhar fixo no chão. Minhas unhas marcavam a palma da minha mão, em um aperto firme em punhos dentro da manga do moletom. Era como se toda a confiança que tínhamos construído desmoronasse naquele momento. Eu só queria que aquilo acabasse logo, desejando sair dali o mais rápido possível.

— Des...desculpa... e-eu não queria atrapalhar... e-eu... desculpa. — Falei com a voz trêmula entre respiradas fundas.

Ele tocou delicadamente meu ombro, transmitindo um sinal de conforto. Busquei manter meu olhar no chão, ainda constrangido pela situação.

— Harry, você não precisa se desculpar. Apenas quero saber se está bem. — O professor disse buscando meus olhos.

Deixei escapar um suspiro pesado, tentando encontrar as palavras certas. Entretanto, apenas respondi assinalando um 'sim' com a cabeça.

— Se há algo errado, quero que saiba que pode contar comigo. — Ele prosseguiu, enquanto me analisava. — Notei que você saiu várias vezes da sala hoje, algo incomum para você. Se fosse qualquer outro aluno, já teria chamado atenção, mas vi que você não parecia bem...

Liam deixou um aperto no meu ombro, que era para ser de conforto, mas me arrancou um grunhido de dor. Em resposta automática, levei uma das minhas mãos até a dele em meu ombro. A ação fez a manga do moletom e da camisa branca deslizarem até a metade do meu antebraço.

— Desculpe por... — Meu murmuro foi interrompido, enquanto sentia meu ombro arder.

— Meu Deus, Harry! O que foi isso? — O mais velho perguntou-me assustado.

Foi nesse momento que olhei para a minha pele: hematomas se espalhavam como manchas de tinta roxa e azul. Alguns eram pequenos, outros maiores, todos bem aparentes. Além disso, haviam alguns arranhados, principalmente em meu pulso.

— Ah, isso? — Tentei minimizar, notando a expressão horrorizada de Liam. — E-eu... caí... estava distraído... e caí... — Respondi, culpando-me mentalmente por gaguejar. Minha única vontade era sair daqui correndo.

O professor franziu o cenho, evidentemente duvidando da minha explicação. Afinal, quem acreditaria?

Observei, assustado, enquanto Liam levava as mãos até o próprio cabelo, deslizando-as pelo rosto, balançando negativamente a cabeça.

— Foi ele, não foi? — Perguntou-me, parecendo já saber a resposta. Por alguma razão, um pânico me consumiu, e eu só queria negar.

Tentei articular uma resposta, mas as palavras pareciam prender-se na minha garganta. Senti meus olhos arderem, e as lágrimas começaram a escapar.

— Foi sem querer... ele não queria... me machucar... — Balbuciei, sem a certeza se minhas palavras eram entendidas em meio à voz nasalada e salgada. — Foi... foi o pozinho... não foi culpa dele... eu juro... — Desespero-me em defesa do meu Daddy, ele nunca me machucaria intencionalmente assim...

Liam aproximou-se, envolvendo-me em um abraço que parecia envolto em compreensão e cuidado. Não era forte, mas era reconfortante, como se eu fosse uma porcelana frágil, e ele cuidadosamente evitasse qualquer pressão excessiva.

The Birth of Venus || L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora