Capítulo 4: O encontro

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[Nome Hanagaki]

Tem alguém me observando durante a madrugada.

Não consigo mais dormir tranquilamente desde da noite que recebi a ligação de um homem chamado Izana Kurokawa, me convidando para um encontro onde trataremos assuntos importantes demais para serem deixados para depois, foi o que ele disse do outro lado da linha do telefone. Mas esse não é o maior motivo. Há duas noites atrás, escutei gritos vindo da casa do meu novo vizinho. Não quero saber o que aconteceu naquela madrugada, porque quanto menos eu saber, melhor. Só espero que não tenha sido nada grave.

Vejo o porta retrato do meu irmão virado de cabeça para baixo em cima da escrivaninha. Não tenho coragem de erguer ele, e nem de jogá-lo fora. Não aguento encarar aquela foto por muito tempo sem sentir o meu estômago revirar, por isso ela fica oculta. No lado do porta retrato tem um cartão de despedida deixado pela Hinata, outra coisa que ainda não consegui me livrar. Balanço a cabeça tentando me tirar dos meus próprios devaneios e retoco o batom pela última vez antes de ir ao lugar onde vou me encontrar com o homem da ligação.

Passei pelas grandes portas do restaurante sofisticado, o lugar em si já é a definição do perfeito significado da palavra “elegância”. Nem mesmo o vestido caro foi capaz de me fazer sentir a vontade no ambiente. Percorri todo o restaurante com o olhar, até encontrar a figura de um homem com as mesmas características ditadas por Izana. 

Ele falou que comprou flores para mim, eu só não esperava que as flores fossem na verdade uma samambaia.  Cruzei o salão e me sentei em uma mesa próxima a uma grande janela de vidro com quadros pendurados ao lado. Meus ombros ficaram ligeiramente tensos devido a tensão que paira sobre a mesa.

— A senhorita parece um pouco nervosa. — Ele sorri, mostrando os caninos. — Não se preocupe. Eu sou Izana Kurokawa. 

— Eu me chamo [Nome] Hanagaki. 

Estendi a mão na sua direção, esperando que ele correspondesse ao meu cumprimento, mas ele não fez isso. Izana segura a minha mão e acaricia as linhas dos dedos com o polegar, beijando o meu dorso em seguida. 

— Eu sei bem quem a senhorita é. 

— ah… .

— Você gostou das flores?.

— São lindas. — menti.

Samambaias são lindas. Mas essa samambaia está murchando e ficando ressecada. A cena é tão estranha, que eu não sei se rio, se choro ou se molho a samambaia.

O garçom se aproximou da nossa mesa com o cardápio em mãos e uma prancheta onde ele pretende anotar os pedidos. Não pude deixar de admirar a beleza daquele funcionário; o cabelo alvo e comprido se destaca entre a multidão que preenche o salão, não pude deixar de olhar de relance para o crachá do uniforme. Kokonoi, é o nome dele.

— Eu vim anotar o pedido de vocês, mas acho que vocês já trouxeram a comida de casa. — diz ele, observando a planta que ocupa a metade da mesa. 

Izana bufa e franze o cenho.

— O que vocês pretendem pedir para comer?. — Pergunta o garçom. 

— Qual é a coisa mais gostosa desse restaurante?. — Izana responde a pergunta com outra.

— Provavelmente, a sua acompanhante…. — Me engasgo com a taça de água. O garçom sorri de canto —  provavelmente a sua acompanhante pode te ajudar a escolher, eu não costumo degustar a comida daqui. 

Kurokawa relaxa os músculos e direciona o olhar na minha direção, esperando alguma recomendação da minha parte. 

— Cuscuz. — Sugiro. 

Kokonoi torce o nariz, e retira delicadamente o cardápio da minha mão.

— Nós não servimos comida de baixa renda. 

— Baixa renda?. — pergunto confusa.

— Comida de pobre. Vou trazer um caviar para vocês dois. — Ele sai caminhando em direção a cozinha. 

Estou esperando Izana revelar o motivo de ter me convidado para esse encontro, que até então, se trata de apenas  interesses. Mas ele não parece estar disposto a abordar esse assunto. Me vejo na obrigação de tomar atitude.

— Porque você me chamou aqui?. 

Ele sorri e passa a mão nos cabelos brancos, deixando eles levemente bagunçados. 

— Não tenha pressa, minha rainha. Você saberá no tempo certo. 

Ergui uma sobrancelha e desviei o olhar. O cara deve ser muito emocionado para já estar me chamando de rainha no primeiro encontro, se bem que isso não é totalmente um encontro. Kokonoi trouxe a comida poucos minutos depois. Comi o meu prato em silêncio, enquanto Izana falava um pouco mais de si mesmo. O moreno parou de falar, percebendo o meu tédio.

Saímos do restaurante, indo em direção a minha casa, Izana não estava de carro nesta noite, então ele teve que carregar a samambaia para mim. O estabelecimento é perto da minha casa, e por coincidência, da dele também. A noite está mais linda do que o normal. O céu está coberto por estrelas e as luzes da cidade iluminam o nosso caminho. Paramos na frente do portão da minha casa. Izana segurou o meu rosto com a mão que não estava carregando a planta.

— [Nome], Você é especial.

Meu Deus, ele é muito emocionado. Apenas sorri sem mostrar os dentes e balancei a cabeça.

— obrigada. — ele riu.

— Não, você não entendeu. Você é especial porque carrega um poder dentro de você. Um poder poderoso o suficiente para conquistar o mundo inteiro apenas usando as suas palavras.

— Igual político?. — brinquei. Ele não riu da piada, apenas afastou a mão do meu rosto. 

Seu rosto tomou um semblante impassível. Os olhos roxos, assustadoramente perderam o brilho, e as suas pupilas dilatam. Estremeci.

— Seu irmão está vivo. 

Dei um passo para trás, chocada demais. Arregalei os olhos e olhei para qualquer lugar que não fosse onde ele estivesse. Minhas mãos começaram a tremer e a minha garganta a secar. 

— Isso é impossível. E-eu estava lá quando ele morreu. — sussurrei. 

— É óbvio que você está. — Engoli em seco. — Você nunca se perguntou o motivo dos seus poderes falharem muitas vezes?. 

De repente tudo fez sentido.

— Seu poder foi dividido em duas partes quando você e o seu irmão nasceram. A única forma do poder funcionar corretamente, é se um de vocês dois morrer. Mas é claro que você já sabia disso.

— Então ele não morreu…. .

— Escute, vamos nos encontrar de novo. Precisamos de um plano para eliminar o Takemichi. 

— Não!. Eu não vou deixar você encostar um dedo no meu irmão. 

— Eu não posso matar ele, apenas você pode. Vamos lá, não vai ser a sua primeira tentativa. 

— Sai daqui, agora!. — Gritei com raiva.

— Eu vou. Você pode me procurar se mudar de idéia, vou estar te esperando. 

Franzi a testa e apertei os punhos, afundando as unhas na carne. 

— Vou levar a samambaia também. Você não está merecendo ela. 

Kurokawa vai embora, levando a planta murcha consigo. Ele entra em um beco escuro e desaparece na escuridão. 

Escuto uma movimentação vindo da casa ao lado. Inclinei a cabeça para ver melhor, e me deparei com o meu vizinho estranho me observando pela janela. Ele percebe e fecha as cortinas imediatamente.

Continua...

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