capítulo 24: O fim é apenas o início

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[Nome] Hanagaki


3 anos depois....

Meu estômago gorgoleja exigindo suprimentos para matar a minha fome, mas não consigo comer. Nada fica dentro do meu estômago por muito tempo. Eu vômito tudo o que entra pela a minha boca como se o alimento fosse veneno. Eu estou envenenada, e o meu corpo não se sente bem. Pelo menos é o que os outros pensam.

Kai está sentado no sofá após ter tomado um longo banho de espumas na banheira. O terninho que ele está vestindo faz com que ele se pareça um homenzinho grande, mas o ursinho felpudo em suas mãos quebra essa imagem de seriedade, o deixando mais infantil. Seus olhos de lantejoulas estão hipnotizados pelo desenho na televisão, ele está concentrado demais nas imagens coloridas para perceber o vulto que passa por trás dele.

Está chovendo muito do lado de fora. A chuva tem caído sem cessar nessas últimas semanas. Quase não consigo me lembrar da sensação de ter os raios de sol aquecendo a minha pele, mas não posso negar que prefiro mil vezes a chuva do que o sol escaldante de verão. 

— Mamãe, o desenho acabou. — Kai levanta do sofá, e vem cambaleando até mim. Ele esfrega os olhos com as a costas das mãos e estende os bracinhos na minha direção.

— Tudo bem, nós vamos sair agora. —  Pego o pequeno no meu colo. Ele circula o meu pescoço com os braços e esconde o rosto no meu pescoço.

— A filha do tio Souya vai estar lá também?. — Sua voz é sonolenta.

— Ela vai. — Sinto a sua boca se mexer contra a minha clavícula. Ele está sorrindo. — Você sabe que não é para correr em volta dos túmulos, não sabe?.

— Sim mamãe... devemos ter respeito com os mortos — Ele boceja antes de responder, me fazendo sorrir.

Kai está crescendo como uma criança normal deveria crescer. Ele não tem traumas para mantê-lo acordado durante as madrugadas, ou para deixá-lo chorando escondido pelos cantos do apartamento. Ele é feliz. Ele é feliz porque eu decidi que seria assim. Não sou a sua mãe verdadeira, mas isso nunca o impediu de me chamar por esse título. Não importa se a minha relação com Sanzu não tenha passado de uma linda amizade. Nos olhos de todas as pessoas que nos cercam, eu criei e eduquei o garoto sozinha. Sou digna de ser considerada a sua mãe.

Kai dormiu no meu colo antes mesmo de eu conseguir chegar dentro do carro. Tive que usar de toda a minha agilidade para conseguir abrir a porta sem derrubar ele ou as chaves no chão. Algumas coisas ficam menos difíceis de conseguir se fazer, ainda mais quando você faz com frequência. O garotinho passa a noite toda acordado, brincando com o seu "amiguinho imaginário". Não gosto muito disso, mas é o único horário que eles podem se divertir juntos sem a vizinhança pensar que o meu apartamento é assombrado por uma alma penada. Em compensação, ele acorda na hora do almoço, ou dorme durante a tarde toda.

Dirigi pelos subúrbios durante a manhã inteira. Os corpos foram enterrados em outra cidade. A Bonten ficou muito famosa por cometer crimes repulsivos, não seria de se admirar se alguém tivesse a coragem de desenterrar os corpos como uma forma de expor a sua indignação. Esse foi o principal motivo pelo qual o  enterro ter acontecido em um área rural. Bem longe da cidade.

As mesas estão espalhadas mais afastadas do cemitério. Tem garçons servindo café e petiscos para os lamentadores de plantão, que não deixaram as lágrimas secarem mesmo após 3 anos da morte dos falecidos. Mais adiante tem uma cozinha cheia de pessoas trabalhando para manter o fogão a todo vapor.

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