Seguindo

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─ Ei, garota, volte aqui! ─ Escutei um dos homens gritar atrás, mas obviamente não parei para obedecer.

─ Pare ou sofrerá as consequências, bruxa! ─ O segundo também gritou, não tão distante quanto eu gostaria.

Já estava cansada de tanto correr, no entanto, ao olhar por sobre o ombro, vi que eles estavam em pleno pique. Não aparentavam ser tão jovens, pois tinham longas barbas negras desgrenhadas, com os cabelos compridos e malcuidados, além da avantajada barriga. Tecnicamente, pensei, eu deveria estar mais distante do que agora. Deveria, mas o fato de já ter vindo de uma outra fuga antes desses homens cismarem em me perseguir, fez com que eu estivesse mais cansada, e, consequentemente, mais propícia a ser capturada; tinha que haver uma forma de despistá-los.

Foi quando avistei um casal mais a frente, sentados no que pareceu um tronco de árvore caída, posicionada numa clareira. Não sabia se poderia confiar neles para me ajudar, mas era minha única opção, ao menos para conseguir tempo e me concentrar em meus poderes, só assim poderia me defender.

Corri em sua direção, eles logo se colocaram em pé ao notarem a movimentação. Escondi-me atrás da mulher que tinha quase minha altura, cabelos negros e compridos, trajando roupas aparentemente de camponesa, sobressaindo apenas um arco em sua mão e uma aljava em suas costas, com várias flechas. Ela virou-se para me olhar enquanto o homem ao seu lado, de cabelo loiro curto e com boas roupas, empunhava sua espada e mirava à frente, para o grupo de homens que me seguia. Imaginei que não iriam se intimidar diante da presença de outras pessoas na sua perseguição.

Quando encarei a mulher a minha frente, notei que em seus olhos verdes havia uma leve preocupação, além da sua feição tão suave esbanjar uma ruga na testa. Ela tocou o meu ombro e falou de forma tão delicada, que meu coração fez uma pausa a mais entre as batidas aceleradas, ocasionadas pela recente corrida.

─ Você está bem? ─ Ela indaga-me, e diferentemente de tudo que já havia visto, sua solicitude era verdadeira; de fato estava interessada na resposta. Aquilo não devia ter me surpreendido tanto, nem ter me tirado algo tão simples como eram as palavras para responder; mas ela não pareceu se importar de esperar, ficou ali à minha frente, olhando-me com genuína preocupação.

─ Entreguem a garota! ─ A voz grossa e embargada de um dos homens cortou o ar e adentrou meus tímpanos de forma violenta. Inclinei a cabeça para olhá-lo, notando sua postura tão ofensiva quanto sua voz. Aquilo me fez querer vomitar, tamanho meu nojo pelo seu ser.

─ Ela nos pertence! ─ Outro, com voz igualmente grossa, gritou, embora numa entonação mais voltada ao humor.

─ Você está segura conosco, pode nos contar o que houve. ─ A mulher retomou, e eu a olhei, ainda naquela mesma calma apreensão. Eu precisava falar, precisava mostrar que não fiz nada de errado para estarem me seguindo.

─ Eles estão me seguindo desde que me viram comprando frutas na cidade. ─ Consigo por fim dizer, minha voz soando estranhamente trêmula e baixa. ─ Eu juro que não fiz nada de errado! ─ E, de repente, um líquido frio escorre pelo meu rosto, então a mulher passa o dedo gentilmente no mesmo local, abrindo um pequeno sorriso, que de alguma forma, confortou-me.

─ Está tudo bem, querida. Eles não irão te levar a lugar algum. ─ Ela acariciou-me mais uma vez. ─ Eu prometo. ─ E, dito isso, ela virou-se na direção do grupo. ─ Ela está conosco. Vocês não irão levá-la!

─ Ela é uma bruxa! ─ Responde o primeiro homem, em tom de puro nojo. ─ Vocês não querem uma criatura como essa perto de vocês.

─ Nos dê a garota e se livrem desse fardo! ─ Outro concorda.

Ascensão das ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora