Silêncio

22 6 0
                                    


Red acordou animada nos próximos dias; parte por causa da nossa troca de confiança, que nos tornou mais próximas; e parte por causa dos meus poderes, que agora eram dela. Quando comecei a aprender a usar, na Terra do Nunca, sentia-me animada e cheia de energia, capaz de qualquer coisa. Labaredas saltitantes, basicamente, bastando uma fagulha de incentivo para criar um incêndio de empolgação.

Combinamos de não falarmos para ninguém sobre o que fizemos, pois quanto menos testemunhas, melhor; dessa forma ganhávamos mais chances de enganar nossas inimigas. Nem Emma ou Regina precisavam saber nossos planos, já que também não revelavam o que estavam pensando em fazer sobre a prisão de Lilith depois que as obras no antigo prédio do Granny's terminassem. O "sentar e aguardar" enquanto tentava interagir com Malévola continuava sendo a estratégia delas, que obviamente eu fingia seguir. Não era meu plano principal, eu queria investigar mais a fundo; se tivesse sorte, encontraria o feijão mágico e impediria qualquer uma delas de usar.

No fundo, eu tinha medo de que fosse tudo em vão, e eu tivesse o mesmo fim da profecia. Talvez atrapalhasse os planos de quem me daria o golpe final, mas não mudaria o desfecho, mudaria? Eu cruzei a linha, direto para as trevas, então me coloquei dentro daquela profecia, sem caminho de volta. Por mais que buscasse ser uma pessoa melhor e não machucar ninguém atualmente, isso não desfazia a escuridão no meu coração; nada me tornaria pura.

Com isso em mente, minha estratégia real em dar todo o meu poder para Red, era torná-la minha herdeira direta, de forma a poder proteger nosso filho e se manter forte, mesmo que eu não esteja mais presente.

Com o passar dos dias e das semanas, fui treinando Ruby para explorar todo o potencial das minhas chamas. Seu corpo foi se fortificando e ficando mais resistente ao fogo, ela era incrível por ser tão dedicada. Em menos de quatro meses, já conseguia ficar imersa em fogo e ainda criar as mesmas asas para sobrevoar a cidade como eu costumava usar. Era ela a aquecer meu dia e meu corpo, principalmente por estarmos entrando no inverno.

Foi também com o passar do tempo que o antigo Granny's foi reerguido, já na primavera. Com a ajuda de muitas pessoas na cidade, nosso bar-restaurante pôde ser inaugurado, agora sob o nome Red's. Lanchonete de dia, bar a noite, como tínhamos planejado. Demos uma festa de abertura, parecia que metade da cidade tinha comparecido, compensava até o dinheiro que tínhamos investido ali. Claro que teve o fato que Lilith fazia parte da história daquele novo prédio, pois além de derrubar o antigo, tanto ela quanto eu tivemos que trabalhar juntas para que a inauguração acontecesse. Não foi a convivência mais pacífica e discutimos várias vezes, não nos tornamos amigas, mas encontramos um meio termo para podermos trabalhar sem sermos presas por sair na mão outra vez.

Emma estava sempre de olho em nós, e parecia manter a vigia em Lilith depois que decretou a liberação dela, permitindo que morasse com Malévola. Eu ainda guardava meu rancor em relação à salvadora por ter me mantido presa, mas não discutimos mais. Regina era uma presença constante na minha vida, quando não era para me vigiar, era para verificar meu estado e o do bebê dentro do ovo, ainda na minha sala de estar, sob o calor da lareira. A rainha sempre seria uma amiga, preocupada comigo, e talvez a única que se mantivesse atenta a qualquer possibilidade de perigo na sua cidade. Se não fosse por ela, desconfiava que estaríamos todos sob o efeito de alguma maldição e correndo um grave perigo.

Depois que voltamos a trabalhar, Red e eu começamos a nos ver menos no dia a dia. Ela costumava pegar o turno da manhã e eu o da noite, de forma que pudéssemos ter um cuidado com o nosso bebê, além de também não nos exaustarmos fazendo tudo junto. De vez em quando trocávamos os turnos, para variar e testar o que ficava melhor para cada uma. Era uma fase de testes, mas confesso que já sentia falta de termos o mesmo turno para que eu pudesse olhar para ela quando eu bem entendesse. A vida normal era assim, não é?

Ascensão das ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora