Vingança

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─ Por que eu serei treinada por ela, e não por você? ─ Questionei à minha irmã, pois tinha acabado de receber a notícia de que Mulan iria morar conosco e me treinar.

─ Porque agora é o seu corpo quem precisa de força. ─ Ela me explicou. ─ Temos pouco tempo para isso acontecer. Você ouviu o mago. E eu não sei nada sobre luta física, então é melhor que você tenha uma profissional.

─ Você disse que me ensinaria feitiços.

─ E você se mostrou ótima em aprender com os livros. Vou mantê-los atualizados, e você lê, no tempo que não estiver treinando com Mulan, mas tenha em mente que a prioridade agora é o seu corpo, não os feitiços. Mulan já foi instruída a não te deixar estudar quando deveria estar praticando com ela. E não faça essa cara, sabe que estou certa. Terá tempo depois para aprender o feitiço que quiser.

─ E o que você ficará fazendo enquanto isso?

─ O que faço de melhor. ─ Ela sorriu para mim. ─ Vou garantir que o seu futuro seja grandioso sem que precise ter o coração corrompido. Afinal, você também tem sangue de rainha, tem o poder para ser uma, eu só tenho que limpar terreno para que você tenha um reino para governar.

─ Por que você quer que eu seja rainha? Eu nunca disse que queria.

─ Porque ter o poder e não o exercer é burrice, querida, e você não tem esse grau de estupidez no sangue. Não se preocupe, eu cuidarei de tudo. ─ Ela se afastou, mas continuou falando. ─ Agora comece a praticar. Te vejo em breve.

Ela me deixou sozinha, o que me fez bufar, irritada. Para completar, Mulan chegava com os próprios pertences e sua espada na cintura, os olhos finos analisando o ambiente antes de pararem em mim. Eu não sabia o que esperar dela após meses sem ter notícias, e não conseguiria dizer o que significava ter outra pessoa que não minha irmã por perto. Malévola realmente confiava que essa mulher não tentaria nada contra mim, como me levar de volta para Stefan? Ou confiava em mim para me defender? Era difícil dizer.

─ Deve ser estranho. ─ Mulan falou.

─ Eu te digo o mesmo. Achei que você fosse amiga das pessoas que tentam impedir Malévola de queimar o reino deles.

─ E eu achei que nós pudéssemos ser amigas enquanto estou aqui.

─ Por que você me ajudaria? Ainda sou irmã de Malévola e posso ser uma ameaça ao reino.

─ O que importa é que você não é um perigo agora, e eu farei tudo para te manter assim.

Era estranho que, de maneiras distintas, tanto Malévola quanto Mulan queriam manter meu coração puro. Naquela altura, eu não sabia o que queria, só tinha consciência de que precisava me manter viva se quisesse fazer qualquer escolha futuramente sobre qual caminho seguir.

Como não podíamos sair do castelo, Mulan foi criativa em esvaziar alguns salões inúteis e modificar os móveis para servirem de alvos. Então me ensinou tiro com arco, luta corpo a corpo e com espada. Não sei se fiquei boa em alguma dessas práticas, mas a frequência, seguida de incontáveis exercícios físicos, fez com que meu corpo ganhasse massa e músculo conforme crescia. Ela também me incentivava a comer nos intervalos, alegando que eu precisava repor a energia e acumular o bastante, já que eu ainda estava me desenvolvendo. Era estranho passar todo esse tempo com alguém que não fosse Malévola, desde antes do amanhecer até o anoitecer, era como ter uma babá e governanta.

Com o passar dos meses, ela achou importante que eu aprendesse anatomia humana. Também trouxe material de arte, literatura e um livro que continha a árvore genealógica de todos os reinos. Eu não sabia se Malévola aprovava, pois dificilmente a via no castelo, e quando estava, não conversávamos como antes.

Ascensão das ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora