Exaurida

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Após alguns dias, comecei a ficar familiar com a rotina das pessoas naquela cidade. Regina saía cedo e ficava o dia todo na prefeitura, enquanto seu filho ia para a escola e voltava de tarde. Ele gostava de ficar na casa dos avós, lá podia ter aula de espada, então nem era novidade suas motivações. Eu passei a frequentar a casa de Snow e David, então sabia que também iam trabalhar cedo e voltavam no meio da tarde. Red era a pessoa que eu via com maior frequência, pois além de babá, também era dona do Granny's, já que sua avó finalmente se aposentou, então sempre que ia comer algo lá, ela me fazia companhia.

Também comecei a seguir Zelena e Robin, querendo entender o tipo de pessoas que eram com e sem minha filha junto. O ex-bandido era o mais tedioso, pois trabalhava no celeiro e fazia um bico de serralheiro. Já a ruiva tinha um bar, então trabalhava entre o meio da tarde e à noite, até a madrugada, o que a deixava com a manhã livre. Ou ficava em casa, ou ia para a casa de Lilith – que não trabalhava ou o fazia online – fazendo eu não sei o quê. Tinha as perambulações pela cidade, mas eu nunca conseguia entender o que fazia nessas ocasiões, pois ficava difícil a seguir sem ser detectada, alertada por causa dos olhares das pessoas ao redor.

Jackie também não ficava do lado de fora de casa, sempre acompanhada por um dos seus pais ou por Lilith, e sempre com Roland, seu irmão. Comecei a considerar a me aproximar de Lily, a única que até agora tinha uma abertura para me deixar chegar perto de minha filha, embora eu desconfiasse de suas motivações. Ninguém concordava com isso – achavam arriscado demais. Emma não conseguia desvendar a origem da ex-amiga e nem conectar a ligação entre ela e Zelena, irmã de Regina, e tudo isso me deixava impaciente.

Morar na casa de Regina também se provou uma péssima decisão quando eu sempre estava sozinha lá. Ela ficava na prefeitura até o anoitecer, e muitas vezes esquecia da vida e que tinha uma casa para voltar. Não foi difícil associar que poderia ser por minha causa, já que eu era a única a esperar por ela; e não só pelo seu retorno, mas por uma aproximação espontânea. Eu a sentia em conflito, como se não soubesse se ficava comigo ou sozinha, então eu evitava forçar uma aproximação e esperava por algum sinal dela – que demorava.

─ Por que está dormindo no sofá? ─ Ela me questionou certa noite, quando chegou tarde do trabalho e me encontrou na sala, olhando para o teto. ─ Tem um quarto de hóspedes lá em cima. ─ E para isso a olhei, erguendo a sobrancelha. ─ Ou pode dormir comigo, nunca disse que não podia.

─ Você nunca diz exatamente o que quer, majestade, e eu fico em dúvida com o que interpretar dos seus sinais.

─ Meus sinais? ─ Ela fez uma expressão confusa, deixou a bolsa na poltrona e se sentou no sofá, próxima de mim. ─ Que sinais?

─ Até seu filho está estranhando que você esteja passando tanto tempo fora de casa. Está fugindo de mim?

─ Claro que não. ─ Para isso ergui a sobrancelha, e ela suspirou, por fim parecendo se desarmar um pouco. ─ Eu não estou acostumada a ter alguém aqui, além de Henry.

─ Imaginei que estava incomodada com a situação. Não era a minha intenção ficar aqui por tantos dias.

─ Você também não tem para onde ir. Você não precisa sair por minha causa. É bom que esteja aqui, onde posso ficar de olho em você.

─ Você não é minha babá.

─ Não foi o que quis dizer. ─ Sua mão subiu para o meu rosto e ela acariciou minha bochecha. ─ Gosto que esteja aqui, Sam. Eu só estou aprendendo a lidar com o que isso significa.

─ Aprendendo a deixar de fugir? Da sua própria casa? ─ Sorrio ao pegar sua mão e depositar um beijo. ─ Eu não quero acelerar nada, Regina, mas tem sido cansativo ficar aqui com essa sensação de que estou fazendo você se sentir incomodada na sua casa. Também sou péssima em disfarçar o que sinto por você, as pessoas vão perceber, cedo ou tarde, que ainda estou aqui nessa casa por sua causa, e não por não ter para onde ir, mas sei que você não acha agradável a ideia de assumirmos o que temos.

Ascensão das ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora