Capítulo 10 - Ludri

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Luisa está sentada em um dos banquinhos que ficam ao lado da bancada que divide a cozinha da sala de estar. Ela toma café em uma xícara — o cheiro é inconfundível — e eu consigo ver um sanduíche no prato sobre a bancada.

— Bom dia! — é estranho a forma alegre que sorri para mim a essa hora da manhã.

— Bom dia — dou a volta e a cumprimento com um abraço, que sai torto, mas aconchegante — acordando tão cedo em um sábado?

Dei a volta novamente e busquei uma xícara para também me servir com café. Eu tinha horário de trabalho reduzido no sábado, mas entrava na mesma hora que nos outros dias da semana e, por isso, tive que levantar cedo para ir trabalhar. Mas não esperava o mesmo de minha amiga, afinal ela nunca acordava cedo aos sábados.

— Não que eu seja tão preguiçosa como você está insinuando... — ela ergueu as sobrancelhas enquanto tomava outro gole do café — mas... eu só acordei cedo porque tenho um almoço com meus pais. Você sabe... precisamos de comida, pagar aluguel... e eu preciso ser uma boa e atenciosa filha para conseguir viver longe, mas com o dinheiro deles.

— Seus pais são ricos ou algo assim, é? — me encosto na pia, do lado oposto a ela.

— Digamos que eles têm dinheiro demais para gastar no tempo de vida que lhes resta — ela ri, fazendo pouco caso, e eu acabo rindo com o quão mórbido isso soou — eu sou filha única, sabe?

Eu não sabia disso, afinal nós não conversamos muito sobre nós mesmos desde que nos conhecemos. Nossos assuntos geralmente são relacionados à faculdade e às pessoas que conhecemos desde então. Saber de coisas pessoais — família — me faziam pensar que logo eu começaria a falar coisas sobre mim, sobre meu passado não tão distante, e isso não me agrada tanto. Prefiro viver o agora.

— Você deve estar pensando que sou um sanguessuga oportunista — seu sorriso me faz franzir o cenho, então ela fala, com a voz tranquila — Eles sempre diziam que queriam pagar um curso de medicina ou de direito, mas essas áreas meio que me incomodam um pouco, sabe? E ganhar isso de meus pais me faria sentir como se devesse muito a eles, aí estudei muito, muito mesmo, e consegui a bolsa integral para Engenharia, como você — ela solta um risinho.

Luisa mastiga seu sanduíche tranquilamente, depois dá outra mordida e me encara. Ela então levanta, vem até perto de mim e me entrega o resto do que estava comendo. Depois, enquanto lava a xícara, o prato e a pouca louça da noite anterior que estavam na pia, ela volta a falar, distraída:

— Comemoramos muito quando saiu o resultado do vestibular, mas eu disse que teria de morar longe de casa, porque era inviável pegar três ônibus diferentes todos os dias. Então eles não pensaram duas vezes em me garantir uma boa grana para o aluguel e tudo o mais. — ela dá de ombros e me empurra com o quadril — Gosto de pensar que sou uma boa filha visitando eles de vez em quando. Mas me diz, mudando de assunto, está gostando do emprego na academia do Lucas?

A forma com que ela fala me faz rir, por que sempre será engraçado para mim alguém se referir a um lugar em que a pessoa trabalha como dela.

— Espera, você está achando que estou brincando e não fazia ideia de que o meu namorado era dono da academia? — ela ri, enxugando as mãos.

— Como assim? — a encaro, com olhos arregalados — mas a Ludri não é da Drica? — paro para pensar um pouco, e meus ombros caem quando me dou conta — claro, é tão óbvio, o Dri é dela...

— Uhum, e o Lu, do Lucas — a garota balança a cabeça ao ver minha surpresa — inclusive achei bem legal da parte dele te oferecer o emprego.

De início, achei que minha amiga tinha algo a ver com isso, afinal ela tinha notado, de início, que ele não estava tão à vontade comigo e Lucas poderia ter comentado sobre a vaga para tentar agradá-la. Agora, deixando de pensar nisso, passo a me perguntar por qual motivo o garoto ocultou a informação de que é dono do estabelecimento.

A Liberdade de Davi (Romance Erótico)Onde histórias criam vida. Descubra agora