A Liberdade de Davi (Romance Erótico)

Capítulo 24 - Carro

Lucas não se importava que as outras pessoas nos olhassem ou cochichassem sobre estarmos parecendo dois adolescentes apaixonados no meio de um barzinho cheio de homens "metidos a jogadores". Ou pelo menos não deixava que transparecesse caso estivesse incomodado, e eu gosto disso, me faz bem.

O grupo estava se divertindo, principalmente devido a Drica estar bem solta depois de ter bebido mais cerveja que o restante de nós juntos. Seu marido, Paulo, se mostra ser um cara legal e, no mínimo, tranquilo com tudo. Ele é a pessoa mais velha do grupo, com seu corte de cabelo curto destacando as entradas nas laterais, sempre fazendo sua esposa — e consequentemente todos da mesa — rir com qualquer piada idiota.

Mari interagia com todos de forma natural, mas sempre checando suas mensagens no celular, então logo precisou ir embora para encontrar uma garota em que estava interessada.

O fato de Adriana ter vindo em seu carro enquanto Lucas veio no dele junto de Paulo facilitou a logística quando todos fomos embora. Então, depois que minha colega de trabalho foi, não demoramos a encerrar a noite.

— Você se importa se a gente passar em um lugar antes de irmos pra minha casa? — meu namorado ajusta o cinto de segurança com um olhar curioso.

— E em que momento eu concordei que a gente ia pra sua casa? — estreito os olhos, esperando sua reação.

— Eu pensei que... — ele olha para a frente, sem graça, até que volta a me olhar e, ao notar o meu sorriso, também sorri — claro.

— Pra onde vamos?

— É um lugar com uma vista legal, quase do tipo daqueles filmes românticos... não é grande coisa, mas acho que você vai gostar — então ele passa a se concentrar no caminho enquanto dirige.

Passamos por uma parte da cidade na qual eu não conhecia — afinal eu não conhecia quase nada nesse lugar. Então, depois de deixar a grande maioria das casas e prédios da cidade para trás, Lucas entra em uma estrada de terra um pouco íngreme. Há algumas árvores ao redor da estrada e, logo ao fim dela, uma espécie de morro descampado, de onde podemos ver as luzes da cidade agora um pouco distante de nós. A área é iluminada pelo brilho das estrelas — as que não estão encobertas por nuvens — e pela própria luz vindo dos prédios bem abaixo de nós.

Saímos do carro, estacionado do lado oposto à estrada de onde viemos, e posso sentir que o chão está coberto por um capim curto o suficiente para ser confortável sentar ali. Está um pouco frio, mas não chega a ser incômodo, também não há todo o barulho com que estou acostumado desde que cheguei do interior. Tudo o que ouvimos são grilos e pássaros noturnos e o barulho das folhas das árvores que se movem com o vento.

— Não é uma linda paisagem, mas...

— É calmo e... — o interrompo, pensando em como estranhamente me sinto bem aqui — gostoso?

— Acho que esse é o meu lugar favorito de toda a cidade — ele diz, sentando no chão, com as costas na lateral do carro, então o acompanho e sento ao seu lado. Ele olha para frente um pouco, se demorando ao respirar fundo e, só depois, voltando a falar — quando eu era mais novo morei com minha avó aqui perto. Uma noite meio que fugi de casa por algum motivo bobo e achei esse lugar — ele solta uma risada nasal e passa o braço por meu ombro, aconchegando meu corpo no seu — às vezes gosto de vir aqui para esvaziar a cabeça e meio que geralmente funciona.

— Como você está depois da loucura que deve ter sido hoje? — eu não o olho, apenas continuo a encarar as luzes à nossa frente. Acho que é um bom momento para conversar a respeito disso.

— Foi uma boa ideia voltar a fazer algo que eu costumava fazer antes de minha avó falecer, mas acho que fui ingênuo demais em pensar que o que os caras costumam falar durante os jogos não fosse me afetar — ele faz uma pausa e consigo ouvir sua respiração em meio aos sons ao nosso redor — Antes eu sempre tentava ignorar, fingir que não era comigo, deixava de lado, mas agora... não acho que um dia eu vá conseguir relevar isso, porque...