Capítulo 19 - Encontro

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Ao chegarmos em frente a Ludri, agora fechada, Lucas encosta no carro branco estacionado logo à frente do estabelecimento. Pelo nome na lateral, é um Gol, não diria que novo, mas muito bem cuidado. Eu me aproximo dele, ficando ao seu lado, mas afastado do carro.

— Você quer ir a algum lugar específico?

— Eu... — penso por um instante, mas não vêm muitas opções à cabeça — você mora aqui a mais tempo, e o carro é seu, então...

— Ok — ele destrava o veículo e abre a porta e, quando entramos, ele volta a falar — tem um barzinho legal que costumo ir com a Drica e o marido dela, acho que acho você vai curtir.

Lucas contou que o lugar não ficava muito longe, além de ter dito que, apesar de ser frequentado em sua maioria por homens — e héteros —, o lugar era reservado e tranquilo o suficiente para comer, beber e conversar.

Lucas parece nervoso, mesmo que dirija com cuidado, e fica repetindo que eu não devia me preocupar, pois por mais que fosse estereotipadamente hétero, o lugar ao qual iríamos era tranquilo e ele tinha certeza de que seríamos bem recebidos. Na verdade, isso parecia preocupar mais a ele que a mim, afinal não é fácil sair do armário quando se vive toda a vida dentro dele, por isso sorrio, tentando mostrar que ficaremos bem lá.

— Fala Lucas — um homem de avental se aproxima e estende a mão vazia para ele, me cumprimenta com um aceno, enquanto segura uma bandeja na outra mão — cara, você sumiu.

O homem tem um porte físico grande — alto e forte, com costas largas —, com uma barba cheia e cabelo escuro, curto, com alguns fios brancos. Ele havia saído de perto do balcão onde conversava com uma mulher baixinha — também mais velha — que parece ser cozinheira do lugar.

Lugar o qual é caracteristicamente simples e aconchegante: uma espécie de pavilhão, com uma das laterais aberta para uma quadra society; há muitas mesas e cadeiras de madeira dispostas de um lado, enquanto o outro é ocupado por uma mesa de sinuca onde três caras riem dando tacadas; também há uma grande televisão de plasma na parede.

— É, andei ocupado com uns assuntos aí... — ele tenta desconversar, forçando um sorriso — como vai o time?

— Não sou de puxar saco de ninguém, mas ninguém merece depender do Luizinho no gol — Lucas ri, fazendo sinal negativo com a cabeça — bom, espero que volte logo... vocês vão pedir agora?

Por estar dirigindo, Lucas diz que não vai beber nada com álcool essa noite, então o acompanho no refrigerante — mesmo que não costume tomar. Também pedimos algo para jantarmos, o que minha barriga agradece, afinal não lembro sequer qual a última refeição que fiz.

O homem se afasta depois de anotar os pedidos e o garoto então se volta para mim, sorridente e sem jeito. Ver essa mistura em seu rosto me causa um frio na minha barriga — e eu tento me convencer de que se trata de fome.

— Você curte? — ele aponta para a TV atrás de mim, onde só agora percebo exibir um videoclipe de pagode.

— Eu gosto de música — dou de ombros — tipo, de qualquer tipo, e você?

— Acho que tudo sobre mim se resume a comportamentos heterossexuais — sem graça, ele emenda — mas eu curto outros tipos de música também, além de sertanejo ou pagode, tipo música infantil — ele sorri.

— Eu... — "gosto do seu sorriso", foi o que eu pensei em dizer, gosto quando seus olhos quase se fecham enquanto os dentes brancos se mostram, e gosto quando as covinhas quase imperceptíveis aparecem também — confesso que não sou muito fã de funk, mas não desgosto totalmente.

A Liberdade de Davi (Romance Erótico)Onde histórias criam vida. Descubra agora