Capítulo 11 - Moleque

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Encontrar a casa ainda vazia faz ser inevitável não pensar em como Luisa e Lucas estão se divertindo — seja lá de que forma — depois que ele a buscou na casa dos pais. Também me pego pensando em como a Mari fez uma confusão só de ver a provável tensão entre nosso chefe e eu e começo a me culpar por dar a ela tal impressão.

É estranho sentir um embate interno com diversos sentimentos para com as coisas que vêm me acontecendo — mudança, faculdade, novo emprego, pessoas novas, sentimentos que eu não posso me permitir sentir e até mesmo os que devo me permitir sentir. Mas, ainda assim, não deixo de pensar em tudo, pelo menos agora, durante o banho. Tenho uma pequena esperança de que a água escorra por mim e carregue tudo pelo ralo.

A verdade é que eu sei que me sinto atraído pelo Lucas e sei também que, no mínimo, ele tem curiosidade para comigo, mas ao mesmo tempo em que me sinto confuso em relação a se pode haver algo mais, que possa envolver sentimentos, também me sinto angustiado em pensar que nós sequer poderíamos nos envolver. Não é certo. Primeiro que ele é comprometido, depois, namora minha amiga mais próxima desde que cheguei aqui.

Também me pego pensando em como decidi que preciso curtir um pouco — coisa que não fiz durante toda a vida — e não me envolver com ninguém de forma séria. Algo dentro de mim faz eu querer me aproximar do Lucas, mesmo que me maltratasse o fato de não poder ficar com ele, mas eu sei que isso não é sensato. Então preciso lembrar a mim mesmo que me envolver demais está fora de cogitação. Romances não são aconselháveis nesses momentos da vida, certo?

No fundo eu sei que, caso eles chegassem a terminar, não seria errado se acontecesse de eu me envolver com ele — ou com ela, claro, mas não estou pensando nisso agora. Ainda assim, tenho certeza de que as coisas ficariam no mínimo estranhas entre minha amiga e eu, e não gosto de pensar em ter que sair desse apartamento — afinal ela chegou primeiro — ou perder alguém que, no fundo, gosto muito.

Deixo os pensamentos rolarem, mas sei que a água não está mesmo lavando-os para o esgoto. Continuo a pensar demais quando me sento na cama, de toalha, e seguro meu celular nas mãos, sem saber ao certo o que fazer. Tudo o que sei é que não posso deixar que esses pensamentos tomem de conta de mim.

Com certeza o cansaço de uma primeira semana — quase que completa — de trabalho está me afetando e eu preciso de algo para relaxar, afinal é sábado, e pessoas normais que decidiram ser sociáveis costumam sair nos sábados.

— Fala, Davi — Geeber atende o celular no segundo toque.

— Ah, oi — tento formar uma frase que não pareça tão egoísta quanto estou me sentindo agora — é... por acaso você tá livre essa noite?

— Uhm, uau — ele parece cochichar algo, fora do telefone, então depois de alguns segundos, retorna — desculpa, mas meio que tenho um compromisso.

— Ah, tudo bem.

— Eu... um minuto — ele parece hesitar e, ao falar por último com alguém onde está, eu entendo.

— Você está com alguém, não é? — forço um sorriso, mesmo que ele não o veja — Pode falar se estiver, nós não... Caralho! Eu te interrompi?

Eu com certeza pareci um idiota ao querer saber se ele estava com alguém, então precisava contornar a situação. Afinal não estou apaixonado pelo meu colega de aula, mas me sinto frustrado por não ter com quem me divertir essa noite — claro, se somar isso a tudo o resto que passa por minha cabeça, talvez eu convença alguém de que isso não é puro egoísmo.

Consigo ouvir alguns barulhos, baixos, como sons de grilo ou música. Então Geeber ri do outro lado da linha, e me concentro nisso, ou no que vai falar. Não quero pensar muito.

A Liberdade de Davi (Romance Erótico)Onde histórias criam vida. Descubra agora