Capítulo Cinco

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Theodoro Vinro:

Na parte da tarde, encontrei Fred no lugar de sempre. Ele me lançou um olhar amigável, o que me acalmou na medida do possível. Dessa vez, estava calmo de verdade e sorri em sua direção. Simon era bom em ficar ao meu lado conversando, mas quando ele me perguntava se eu estava bem, às vezes era demais para aguentar.

Me sentei na frente dele com um sorriso. O tabuleiro estava esperando para ser jogado, e isso era o que mais me acalmava nos dias turbulentos que vinha enfrentando, com o estresse dos espíritos me atacando constantemente nos últimos meses desde que comecei a ver os fantasmas. Tinha que agir como se quisesse conversar com eles por pura vontade, sem que ficassem em cima de mim como se implorassem para serem ouvidos até o fim e realizar seus desejos inacabados. Era cansativo demais, mas jogar xadrez com Fred era muito melhor, chegava a ser algo completamente mundano, e isso me dava alegria.

— Está um pouco adiantado demais, Vossa Majestade — Fred disse com o seu jeito de me chamar desde sempre e olhou para o céu. — Devo dizer vinte minutos adiantado.

Ri do comentário de Fred, apreciando a leveza que sua presença trazia para minha vida. Era reconfortante ter um amigo com quem pudesse compartilhar momentos de tranquilidade, mesmo que fosse apenas por algumas horas.

— Bem, eu prefiro estar adiantado do que atrasado, não é mesmo? — respondi, movendo uma peça no tabuleiro. — Você está pronto para mais uma partida?

Fred sorriu e concordou, e mergulhamos na concentração do jogo, deixando para trás as preocupações do mundo exterior por um momento. Enquanto as peças se moviam pelo tabuleiro, senti uma sensação de paz interior se instalar, afastando temporariamente os fantasmas que assombravam minha mente.

Por algumas horas, conseguimos escapar das sombras do passado e das incertezas do futuro, imersos apenas na estratégia e na camaradagem que o xadrez nos proporcionava. E, por esse breve instante, eu me permiti esquecer as provações que me aguardavam lá fora, encontrando conforto na amizade de Fred e na simplicidade do jogo.

No movimento seguinte havia ganhado dele de lavada e sorri para sua direção.

— Pode começar a contar — Falei e o mesmo suspiro, mas deu um sorriso.

— Vossa alteza, me diga o que está pensando nessa ocasião? — Fred perguntou. — Mas me diga por que razão está desse jeito?

Eu fiquei em silêncio, mas ele simplesmente me olhou com calma. Fred então soltou uma risada.

— Não é nada demais — Falei.

— Quando alguém diz isso acaba sendo algo completamente o oposto da situação que vira um caos — Fred disse e sorriu. — Estou aqui para conversar sem julgamentos.

Pisquei repetidas vezes, tentando afastar a vontade de chorar e gritar ao mesmo tempo. Eu me senti desesperado pela primeira vez em meses desde que vi os primeiros fantasmas ou quando os espiritual chegaram na minha vida.

Porque tudo isso tinha que acontecer comigo? O que eu fiz pra os espíritos, mas isso era algo que não poderia perguntar à ninguém em específico ou muito menos entrar em detalhes com o Fred ou qualquer outra pessoa.

— Tem alguém atrás de você — Fred disse e soltou um bocejo.

— Quem está atrás de mim? — perguntei e senti o coração acelerando, não havia sentindo nele dizer isso mas isso me deixou ansioso por alguma razão.

— Sei lá. — Fred respondeu com um sorriso calmo. — Talvez só esteja brincando com você, vossa alteza. — Diminuiu seu tom de voz. — Deveria descansar um pouquinho sobre as coisas que passam pela sua cabeça — sugeriu.

Livro dos ocultosOnde histórias criam vida. Descubra agora