Capítulo Nove

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Theodoro Vinro:

Voltamos a andar, e eu sentia a energia espiritual ao meu redor com uma intensidade crescente. Ela pulsava com força, como se estivesse se preparando para algo grandioso, e essa sensação era libertadora. Pela primeira vez, tudo parecia tão incrível, cada sensação era vívida e emocionante. Então, de repente, ouvi um barulho estranho de galhos quebrando. O ruído aumentava à medida que os galhos pareciam agarrar algo ou alguém que estivesse por perto, criando uma atmosfera de mistério e expectativa.

— Theo — chamou Madara, próximo a mim, segurando minha mão enquanto eu ouvia um risinho de Simon, que me fez querer socá-lo novamente. — As companhias desagradáveis que mencionei capturaram nosso cheiro e estão vindo. — Embora sua voz soasse casual, pude sentir a tensão em seus olhos. — Se você não quer que seu primeiro dia aqui seja o último da sua vida, sugiro que nos mexamos rapidamente.

Corremos para o lado mais distante da clareira, em direção a um emaranhado de galhos com espinhos amarelos tão longos quanto meu polegar. Meu coração batia rápido, imaginando que seríamos cortados em pedaços pela vegetação hostil. No entanto, à medida que nos aproximávamos, os ramos estremeciam e se abriam, revelando um estreito caminho entre as árvores.

Parando no limiar, observei maravilhado enquanto os galhos se entrelaçavam novamente, ocultando a trilha e protegendo nosso rastro. A floresta parecia viva, reagindo à nossa passagem de uma maneira que eu mal conseguia compreender. À medida que avançávamos, os galhos se fechavam, criando uma barreira verdejante que nos separava do mundo exterior. Madara mantinha um ritmo constante, nem apressando-se nem caminhando devagar, e o som de perseguição gradualmente se dissipou.

O caminho diante de nós se bifurcava várias vezes, levando em diferentes direções, mas Madara sempre escolhia uma rota sem hesitar. Eu percebia movimentos periféricos, flashes de cores nos ramos, figuras de silhueta entre as árvores, mas ao me virar, não havia nada além do silêncio da floresta. O tempo parecia dilatado enquanto caminhávamos, horas se arrastando ou, pelo menos, assim parecia para mim. A floresta mantinha sua penumbra constante, e quando perguntei a Madara sobre a hora em que a noite cairia, ele apenas ergueu uma sobrancelha, afirmando que a escuridão viria quando fosse a hora certa. O rumor de cantos e música sussurrava nos recantos da floresta, desaparecendo sempre que eu tentava focar. O ambiente era surreal, como se estivéssemos imersos em um sonho onde a normalidade não se aplicava.

Meus pés estavam doloridos, minha barriga roncava, e minhas pernas queimavam de exaustão quando o eterno crepúsculo finalmente começou a escurecer. Madara parou, olhando para cima para o céu, onde uma enorme lua brilhava sobre as copas das árvores. Notei que ela girava entre si mesma, brilhando como se fosse feita de água, antes de assumir a aparência mais convencional de uma lua.

— Essa lua é incrível — disse Simon, admirando-a por um momento antes de se virar na direção de Madara. — O que está nos seguindo, ou, para ser mais específico, quem está atrás do Theo?

— Não tenho certeza — respondeu Madara, ponderando. — Há muitos espíritos que poderiam desejar o livro ou uma parte do Theo. — Ele olhou para mim com uma expressão culposa. — Talvez eles só queiram conversar e descobrir para onde poderiam ir em busca de um lugar incrível. — Sua última frase soou falsa, uma tentativa desajeitada de tentar me tranquilizar, e eu o observei atentamente, percebendo sua hesitação.

— Você está tentando me acalmar ou me deixar ainda mais nervoso? Porque essa sua frase foi a pior das duas coisas — perguntei calmamente, sentindo a vontade de socá-lo crescer dentro de mim. — Esqueça isso, estou cansado de correr. Preciso descansar um pouco e recuperar o fôlego. Lembre-se que sou humano e não consigo me recuperar tão rápido quanto você, e não estou sem fôlego como o Simon.

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