Capítulo Vinte e Oito

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Theodoro Vinro:

Quando os outros finalmente terminaram de me revistar, verificando se eu estava bem, respirei fundo e estalei os dedos, sentindo o poder correr por mim. No instante seguinte, o castelo inteiro tremeu violentamente. O chão sob nossos pés vibrou com força, e todos ao redor ficaram paralisados de medo e surpresa, as paredes ecoando o tremor. Olhares preocupados se espalharam, e o murmúrio da multidão se transformou em uma onda de pânico silenciosa.

Mas ao meu lado, ouvi algo inesperado: uma risada leve e descontraída. Virei-me rapidamente e vi o antigo rei, Daymon, agora livre de seu cativeiro sombrio, com um sorriso largo e genuíno no rosto. Ele parecia aliviado, quase radiante. O som dos fogos de artifício que estouravam lá fora alcançou o salão, mas o que realmente chamou atenção foi a atitude inusitada de Daymon, que, para meu choque e de todos, chegou a dar pequenos pulos de alegria. Uma figura imponente como ele, celebrando como uma criança, era uma visão completamente surreal.

A multidão, que antes estava em completo alvoroço, parou de imediato, todos ainda processando o que estavam vendo. Os outros monarcas, rainha Dy e rei Quil, observavam a cena com expressões incrédulas. O antigo rei finalmente parou, recuperando a compostura, e lançou um olhar divertido para eles.

— Posso dizer que estão com uma aparência... péssima. — Ele disse, a voz ainda carregada de leveza, mas com uma ponta de ironia.

O sorriso em seu rosto, no entanto, desapareceu quando seus olhos se fixaram em Drengsus, que estava ajoelhado e derrotado. A leveza de sua expressão foi substituída por uma frieza glacial, seus olhos se tornando duros como gelo. A atmosfera no salão mudou imediatamente, o ar ficou denso com a tensão.

— Agora... — Daymon começou, sua voz baixa e cheia de uma autoridade pesada. — Vamos conversar sobre o fato de você ter me aprisionado por dois anos e tomado para si um papel que eu jamais te dei.

Drengsus, que até então mantinha uma postura desafiadora, encolheu-se sob o olhar gélido do rei. Sua arrogância de antes se dissolveu, e ele parecia menor, vulnerável diante da presença de Daymon, que agora era a personificação do poder restaurado.

O silêncio no salão era absoluto, e todos aguardavam o que viria a seguir. As consequências daquele momento seriam profundas, e ninguém sabia o que Daymon faria com seu traidor. Mas uma coisa era certa: a verdadeira batalha de Drengsus estava apenas começando.

Drengsus estava imóvel, seus olhos arregalados enquanto encarava o antigo rei, agora livre e irradiando uma aura de poder quase sufocante. O salão inteiro mergulhou em um silêncio tenso, quebrado apenas pelo som distante dos fogos de artifício que continuavam a explodir no céu. A confiança e a arrogância que Drengsus exibia momentos antes evaporaram diante da presença avassaladora de Daymon.

— Não... — Drengsus murmurou, suas mãos tremendo levemente. Ele tentou levantar-se, mas o peso do olhar de Daymon parecia mantê-lo no chão. — Eu... eu fiz o que precisava ser feito.

Daymon deu um passo à frente, seu semblante inexpressivo, mas seus olhos continuavam gelados, cravados em Drengsus com uma intensidade implacável.

— O que precisava ser feito? — a voz de Daymon cortou o silêncio como uma lâmina afiada. — Você me prendeu, Drengsus. Me acorrentou àquele quarto, roubou o reino, e tentou usurpar um poder que não era seu por direito. — Sua voz foi crescendo em fúria controlada, cada palavra carregada de um peso ancestral. — E tudo isso... por quê? Por uma coroa? Por poder? Você sacrificou nosso povo, nossos aliados, por sua ambição míope!

Drengsus abriu a boca para responder, mas nada saiu. O medo em seus olhos era palpável. Daymon se aproximou mais um pouco, agora a poucos metros dele. O rei, com toda sua estatura imponente e seu poder recuperado, olhou para Drengsus como se ele fosse nada mais que um traidor insignificante.

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