Theodoro Vinro:
A escuridão se desfez, revelando lentamente um quarto majestoso, adornado com móveis opulentos e tapeçarias luxuosas, como se pertencesse a um rei de tempos antigos. Cada detalhe parecia saído de uma lenda, do lustre dourado que balançava suavemente no teto ao veludo pesado que pendia das janelas, abafando os sons do mundo exterior. No centro do quarto, sobre uma cama grandiosa com colchas de seda escura, repousava um homem cuja figura me era estranhamente familiar — uma visão que já havia habitado meus sonhos mais perturbadores.
Ele estava sentado à beira da cama, seu olhar fixo na janela à sua frente, como se estivesse absorto em pensamentos impossíveis de alcançar. Mas o que realmente capturou minha atenção foram seus olhos. Olhos de um tom roxo profundo, misteriosos e hipnotizantes. Fiquei imóvel por um instante, a respiração presa no peito, como se o ar ao redor tivesse se tornado denso demais para ser inalado.
Quando ele se virou lentamente em minha direção, fui tomado por uma onda de choque que fez meu coração disparar. Não era apenas o movimento que me assustava, mas a maneira como seus olhos reluziam com uma luz etérea, uma intensidade sobrenatural que parecia penetrar na minha alma. Havia algo terrivelmente familiar, quase ancestral, naquelas íris roxas, como se contivessem segredos sombrios e incontáveis eras de sofrimento.
Um arrepio gélido percorreu minha espinha, e a sala, apesar de sua grandiosidade, de repente parecia pequena e sufocante, como se eu estivesse sendo envolvido por forças invisíveis e opressoras. Senti uma tensão crescente no ar, como se o tempo tivesse parado e tudo estivesse à espera daquele momento, daquele encontro.
As palavras estavam presas em minha garganta, e a única coisa que eu conseguia fazer era encarar o brilho ameaçador em seus olhos, sentindo o calafrio de medo e fascinação me envolver por completo.
— Devo dizer que não esperava que você se entregasse tão facilmente, especialmente depois de ter invadido as masmorras em busca do meu filho — ele falou com um sorriso malicioso, a voz carregada de uma mistura de diversão e ameaça. A risadinha que se seguiu foi como o som de vidro quebrando em uma sala vazia, fina e cortante. Seus olhos continuavam fixos em mim, penetrantes, como se pudessem ver cada segredo que eu tentava esconder.
Eu engoli em seco, sentindo o peso das palavras dele me pressionar, cada sílaba impregnada de uma autoridade fria que fazia o ar ao redor parecer mais denso, quase sufocante. Ele levantou-se com uma elegância quase sobrenatural, como se fosse feito de sombras e poder, a figura alta e imponente refletida no brilho suave do quarto.
— Mas, devo admitir, foi uma falta de cortesia da minha parte não me apresentar adequadamente, — ele continuou, com um toque de sarcasmo envenenado em sua voz. — Eu sou Daymon, o Rei de Scrapbooks.
Quando ele pronunciou seu nome, algo dentro de mim se agitou. O nome carregava um peso antigo, uma força que parecia reverberar pelo próprio tecido do tempo e do espaço. Eu o senti como uma onda invisível, um choque de reconhecimento que percorreu minha espinha. Daymon. O nome que sussurravam nas sombras, o nome que tinha se perdido nas lendas e histórias proibidas.
O ar entre nós parecia vibrar, e embora seu tom fosse casual, cada palavra era um lembrete claro de quem ele era — um rei imortal, um ser cujos caprichos podiam decidir destinos inteiros. O silêncio que se seguiu após sua apresentação era opressor, como se o próprio quarto estivesse aguardando a minha resposta, mas a única coisa que eu conseguia fazer era tentar controlar o medo crescente que se enraizava em meu peito.
— Rei Daymon — falei, tentando manter a compostura, mas sentindo meu coração bater acelerado contra o peito. Cada fibra do meu ser gritava para que eu fugisse, mas algo me impedia, como se estivesse preso naquele momento, atado a uma força invisível e implacável. Para minha surpresa, ele se ajoelhou diante de mim, um gesto tão inesperado que o choque me deixou ainda mais confuso. Um rei se ajoelhando? Aquilo não fazia sentido.
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Livro dos ocultos
FantasiaTeodoro Vinro tem um segredo peculiar e assustador envolvendo espíritos: desde que ele se lembra, foi constantemente perseguido por esses espíritos. Recentemente descobriu que sua falecida avó havia passado para ele o livro dos ocultos, que contém o...