Capítulo Quinze

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Theodoro Vinro:

Quando finalmente senti meu corpo um pouco menos pesado, Fred se aproximou, sua expressão enigmática. Ele estendeu a mão, um convite silencioso para que eu o seguisse. Sem uma palavra, apenas assenti e caminhei ao seu lado, o som de nossos passos ecoando suavemente pelo corredor vazio. Enquanto seguíamos em um silêncio quase palpável, Fred me devolveu a mochila, o gesto carregado de uma espécie de simbolismo que eu ainda não compreendia completamente.

— O Livro dos Espíritos, criado por Ophelia, é mais do que apenas um objeto — Fred começou, sua voz baixa, mas firme, reverberando com um mistério antigo. — Ele é uma extensão dos próprios poderes dela. Quando Ophelia morreu, o livro não desapareceu, mas ficou oculto, escondido dos espíritos. Ele aguardou, em um sono profundo, até que o momento de seu despertar total chegasse.

As palavras de Fred eram cheias de enigmas, carregadas de um peso que eu sentia nas profundezas do meu ser. Minha curiosidade foi imediatamente atiçada, e minha mente começou a formar perguntas e suposições.

— O que quer dizer com 'despertar por completo'? — perguntei, minha voz soando mais ansiosa do que eu pretendia.

Fred não respondeu de imediato. Em vez disso, continuou a caminhar, me guiando por mais alguns passos até que chegamos a um quarto amplo, suas paredes altas e decoradas com tapeçarias antigas que pareciam contar histórias de eras passadas. No centro do aposento, uma pequena esfera de cristal repousava em uma coluna de mármore, irradiando uma luz suave e etérea que preenchia o ambiente com uma sensação quase sobrenatural.

A energia no ar era palpável, e eu podia sentir cada fio de cabelo na minha nuca se arrepiar. Aquele lugar, aquela esfera... tudo ali parecia conter segredos que transcendiam o tempo e o espaço. O silêncio que se seguiu parecia carregar a expectativa de algo monumental, algo que estava prestes a ser revelado, mas ainda permanecia fora do meu alcance.

Fred me observou com uma intensidade que parecia atravessar a alma, antes de finalmente falar, com a voz baixa e carregada de gravidade:

— Antes de mais nada, vá até o centro e peça para que a profecia do Rei de Scrapbooks seja revelada.

Suas palavras, embora sussurradas, ecoaram pelo quarto como uma ordem inescapável. Senti um calafrio percorrer minha espinha enquanto absorvia o significado do que ele acabara de dizer. Sem questionar, mas com uma mistura de apreensão e determinação, caminhei lentamente em direção à esfera de cristal que repousava no centro do aposento, o brilho suave agora quase pulsando, como se estivesse ciente da proximidade de algo grandioso.

Cada passo que eu dava parecia arrastar uma corrente de ansiedade e expectativa, enquanto o silêncio ao nosso redor se aprofundava, tornando-se quase tangível. Quando alcancei a esfera, estendi a mão com hesitação, sentindo a estranha energia que emanava dela. Coloquei minha mão no cristal, sentindo sua superfície fria sob meus dedos, e murmurei com firmeza:

— Revele a profecia do Rei de Scrapbooks.

Por um momento, o mundo pareceu se segurar em uma respiração suspensa, o tempo congelado em um segundo interminável. O quarto permaneceu inalterado, o silêncio apenas se intensificando. Minha mente começou a questionar se eu havia feito algo errado, quando, de repente, a esfera brilhou com uma intensidade avassaladora, como se tivesse despertado de um sono profundo e milenar.

A luz foi tão forte que tive que fechar os olhos por um instante, sentindo sua força invadir cada célula do meu corpo. O brilho não era apenas luz; era uma energia que parecia vibrar no ar, penetrando cada canto do aposento, e meu coração disparou no peito, em uma mistura de medo e expectativa. Eu sabia que algo estava prestes a ser revelado, algo que mudaria tudo o que eu conhecia até aquele momento.

Livro dos ocultosOnde histórias criam vida. Descubra agora