Theodoro Vinro:
Senti uma pontada de dor latejando em minha cabeça, como se cada lembrança tivesse deixado uma marca profunda. Uma sensação de peso e exaustão se instalou em meu corpo enquanto eu tentava processar tudo o que havia revivido.
— Isso está doendo meu cérebro — murmurei, esfregando as têmporas com os dedos.
Dália assentiu compreensivamente, oferecendo-me um olhar solidário. Ela entendia a intensidade da experiência que acabáramos de compartilhar.
Respirei fundo, tentando afastar a dor e o cansaço. Mesmo que as lembranças fossem dolorosas, agora elas faziam parte de mim, e com elas, uma nova compreensão de quem eu era e do caminho que percorri.
Com um último suspiro, coloquei o espelho de volta em seu lugar, decidido a deixar o passado onde pertencia, enquanto seguia em frente com um novo sentido de clareza e determinação.
— Você vai se acostumar com o tempo, mas tente dormir agora — disse ela suavemente. — Melhor tentar dormir. Amanhã teremos uma longa caminhada — disse ela.
Assenti e me deitei, olhando para o espelho. Dália o pegou e saiu do quarto. Fechei os olhos e, finalmente, adormeci.
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Tive um sonho vívido sobre a minha antiga casa, da época em que morava com minha avó. O ambiente estava escuro e vazio, com a sala de estar envolta em sombras e uma energia assustadora pairando no ar. Um breve olhar para o relógio na parede indicava que eram 3:19 da madrugada.
Flutuei através da sala de estar, passei pela cozinha e subi as escadas. A porta do meu antigo quarto estava fechada; ao me virar, percebi que a porta do quarto da minha avó estava entreaberta. Caminhei pelo corredor e olhei através da fresta. Havia alguém parado ao lado da cama, uma figura alta e magra vestida em tons de cinza e preto. Era um homem, talvez um pouco mais velho que eu, embora fosse impossível determinar sua idade exata. Seu corpo emanava juventude, mas havia uma serenidade nele que indicava uma maturidade perigosa.
Cabelos espessos caíam até os ombros, sem cobrir as orelhas, e observei um medalhão em seu pescoço. Ele não era humano; era um deles, um espírito. Um arrepio percorreu meu corpo, e comecei a recuar.
Então, ele se virou, fixando seus olhos diretamente nos meus. Eu teria arfado se fosse capaz de respirar naquele momento. Seu olhar era gélido, dirigido a mim ou a algo atrás de mim, o que me deixou inquieto. Desviei o olhar para o medalhão e notei uma pequena foto nele.
Decidi me aproximar, mas fui surpreendido quando a figura, que examinava o ambiente, ergueu seus dedos longos e realizou um movimento suave. De repente, uma porta materializou-se diante dele. Com um gesto, ele abriu a porta e adentrou. A porta se fechou suavemente atrás dele, emitindo um discreto estalo, e ele desapareceu.
As imagens mudaram, e as sombras assumiram o controle dos meus sonhos. No entanto, desta vez, as sombras pareciam mais densas e maleáveis, revelando uma intenção de me mostrar algo. Subitamente, me vi diante de uma porta perfeitamente decorada. Enquanto eu tentava abri-la, ouvi murmúrios seguidos de um xingamento, como se alguém estivesse protestando e batendo contra a madeira. Tentei abrir a porta, mas sem sucesso; então, algo agarrou meu pulso com firmeza.
— Dê-me a coroa! — bradou a voz de um homem, cujo tom ecoava pela escuridão. Senti meu pulso sendo submetido a um aperto ainda mais doloroso. — Ela pertence a mim!
A insistência na sua demanda reverberava no ambiente onírico, criando uma tensão palpável enquanto eu tentava compreender a natureza da coroa e a razão por trás dessa disputa obscura.
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Livro dos ocultos
FantasyTeodoro Vinro tem um segredo peculiar e assustador envolvendo espíritos: desde que ele se lembra, foi constantemente perseguido por esses espíritos. Recentemente descobriu que sua falecida avó havia passado para ele o livro dos ocultos, que contém o...