Theodoro Vinro:
O caminho à frente se desdobrava em uma trilha de incertezas, com Madara liderando o caminho e olhando para trás para garantir que não fôssemos seguidos. De repente, percebi as luzes de carros da polícia, bombeiros e vans de jornais passando pela rua na direção oposta à nossa. O ar estava carregado com a energia da noite, e eu podia sentir a presença dos espíritos com força.
Curioso, estendi a mão para tocar uma das auras espirituais e fui subitamente tomado por uma sensação estranha. Simon tentou me puxar de volta, e quando ele atravessou meu ombro, voltei a mim. Era como se eu estivesse sendo libertado de alguma corrente e me sentisse incrivelmente leve. O livro brilhava em meus braços, então decidi guardá-lo com cuidado na mochila, certificando-me de fechá-la bem.
— Por que você está seguindo esse cara? — Simon sussurrou, preocupado. Isso fez Madara virar-se para ele, seus olhos brilhando perigosamente. — Ele pode estar te enganando.
— Eu posso ouvir você perfeitamente, meio-fantasma — Madara retrucou, e Simon o encarou com raiva antes de responder. Isso me deixou curioso, por que ele o chamou de meio-fantasma?
— Eu apenas sinto que ele é confiável, e sei que não vai me machucar. É como uma sensação de nostalgia — expliquei, tentando acalmá-lo. — Temos que continuar, não quero encontrar outros espíritos, ou pior, acabar no noticiário da cidade e ser preso. — Ambos se olharam com raiva. — Eu entendo sua preocupação, Simon, mas acho que precisamos confiar nele por enquanto — acrescentei, tentando dissipar a tensão no ar.
Simon olhou para mim com dúvida, mas acabou assentindo, parecendo concordar com a minha avaliação da situação.
— Tudo bem, Theo. Mas vamos ficar de olho nele — respondeu, ainda mantendo um tom cauteloso.
Assenti em concordância e continuamos seguindo Madara.
— Devo dizer que sabe usar as palavras ao seu favor. Até parece... — Madara disse, balançando a cabeça com um ar misterioso, o que me deixou ainda mais atento. Seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade enigmática. — Esqueça, vamos. O tempo não vai ficar do nosso lado. Está quase na hora do restante deles voltarem para o reino dos vivos.
A maneira como Madara falou aquelas palavras, carregadas de significado oculto, fez meu coração disparar. Ainda mais quando ele ficou sem reação no restante do caminho.
Madara nos conduziu por vielas escuras e ruas desertas, afastando-nos do olhar curioso das pessoas. Devo dizer que ele era surpreendentemente ágil, seus passos silenciosos ecoando como os de um felino na noite.
À medida que avançávamos, o cenário ao nosso redor começou a se transformar. O ar estava impregnado com uma energia espiritual, e eu sabia que estávamos nos aproximando do território dos espíritos. A sensação de estar em um lugar entre dois mundos era palpável, e minha inquietação crescia a cada passo que dávamos.
— Madara, o que aconteceu na escola? Por que o diretor se transformou daquela forma? — perguntei, a ansiedade me consumindo. — Sei que espíritos podem possuir as pessoas, mas ele foi transformado por completo.
Madara lançou-me um olhar penetrante, seus olhos verdes felinos pareciam ler minha alma.
— Aquele espírito foi consumido pela própria ira e, sem o nome que deveria ter, fez um péssimo acordo, quebrou sua relação com o contratante anterior. É como se fosse uma casca vazia para as trevas. O livro que você possui, Theo, é onde estava originalmente o nome daquele espírito, assim como de vários outros. — Madara disse com calma, apontando para minha mochila. — Meu nome estava no livro dentro dela, pois fiz um contrato com sua avó, assim como aquele espírito, mas, diferente dele, mantive minha palavra.
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Livro dos ocultos
FantasyTeodoro Vinro tem um segredo peculiar e assustador envolvendo espíritos: desde que ele se lembra, foi constantemente perseguido por esses espíritos. Recentemente descobriu que sua falecida avó havia passado para ele o livro dos ocultos, que contém o...