Capítulo 4

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Capítulo 4
Clara
3949 palavras

Minha mãe está servindo a xícara de chá de meu pai, sentada ao lado dele da cadeira.

- Bom dia – comprimento, me sentando à frente de minha mãe encarando seu cabelo cacheado e sua pele negra recebendo o brilho do sol matinal.

- Bom dia – responde meu pai, logo me laçando um aceno de cabeça amigável.

Me sirvo com uma xícara de chá de ervas do quintal e de algumas torradas com um pouco de geleia cítrica que minha mãe preparou.

Forço um sorriso amistoso antes de morder uma das torradas.

- Como disse, querida – meu pai se vira para minha mãe - Como chegarei mais cedo, vou aproveitar e levá-la para conhecer a nova família que entrou nessa vizinhança. E Clara – ele se vira para mim com suas sobrancelhas erguidas -, prepare seu melhor vestido e por favor, não se atrase, marquei este jantar faz alguns dias e não quero que chegue do mesmo horário de ontem – assinto enquanto
engulo um gole de meu chá.

- Querido, você me lembrou muito bem o que deveria dizer a essa mocinha – minha mãe apoia a mão na mesa e me encara com seus olhos escuros – Por que chegou atrasada ontem?

- Tive compromissos que não poderia deixá-los para mais tarde – respondo sentindo minha palma sendo perfurada pelas minhas unhas embaixo da mesa.

- Então, esses compromissos foram tão cansativos que não conseguiria nos dizer o que aconteceu e ainda por cima dormir no chão de uniforme, Clara?

Engulo em seco, sem saber o que lhe responder.

Certamente isto poderia acontecer já que não é a primeira vez em que lhes respondi com essas mesmas palavras. Não é a primeira e não será a última que entrei em casa sem lhes responder suas perguntas ou dizer uma palavra a eles.

Meus pais certamente não sabem o que acontece comigo nos dias em que chego atrasada, pelo menos não sabiam.

Não quero causar outros constrangimentos para meus pais, por mais que eles me defendem de tais pessoas que me acusam de ser uma “bruxa”, por exemplo já é uma grande vergonha para eles na sociedade.

Eu não quero mais, mais problemas para eles. Eu os amo e amar não é trazer problema, não é trazer mais vergonha para família.

Esse é um dos motivos pelo qual eles não sabem.

Além do mais, eu nunca teria voz para me defender dos três garotos que brincam comigo, não
enquanto eu preciso aceitar meu lugar.
- Responda a sua mãe, Clara – meu pai pede enquanto me encara.
- A exaustão me consumiu, mamãe - me viro para ela, mas suas sobrancelhas se erguem e eu sei
que nada a fará convencer quanto a verdade. S UN uspiro, pensando em uma solução que me faça com que eu saia ilesa daqui, mas que mais tarde não tenha outras soluções para desvendar.

- Querida, eu sei muito bem que está mentindo para mim, não sairá desta mesa até me responder devidamente.

Me levanto na mesa, trazendo comigo meu prato e minha xícara.

- Não tenho o porquê de mentir para os senhores, eu estou lhes contando a verdade – olho para janela e vejo a posição do Sol – E hoje, eu vou irei chehegarem cedo e vou estar preparada para tal jantar, mas agora preciso ir para a aula.

- Ainda acredito que esteja mentindo – responde minha mãe se levantando também - Mas vá para sua aula e se chegar atrasada mais uma vez, eu não sei o que vou fazer com você, Clara.

Assinto e me movo para colocar o meu prato junto na pilha de louça que se acumula ao lado de um balde cheio de água.

Encaro minha cesta com meu lanche e a pego.

OS QUATROS ELEMENTOS, A MULHER E A COROA Onde histórias criam vida. Descubra agora