Capítulo 14

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Capítulo 14
Clara
814 palavras

Os corredores continuam vazios e o barulho dos alunos conversando no refeitório ecoam por eles.

Ando rapidamente, por mais que eu possa correr, porém iria fazer muito barulho e meus passos são bem mais leves quando eu consigo senti-los.

Viro a primeira curva do corredor, mas então paro brutalmente, recuando, mas bato minhas costas no peitoral de Drake.

Milo vem na minha direção e Grannus surge ao meu lado. O garoto em minha frente sorri, ergue a mão e envolve meu pescoço.

Eu continuo tentando recuar, mover meu pescoço, mas o aperto se intensifica e as mãos de Drake envolvem minha cintura fortemente, me mantendo parada.

- Nós só queremos brincar, criancinha – Milo tira o cabelo ruivo da frente de seus olhos – Nada demais.

Meus olhos correm pelo local, não tem ninguém aqui, no meio de um corredor acontece isso comigo, mas, ninguém sabe disso.

- Fique quietinha – Drake sussurra ao meu pé de ouvido e sinto um tremor passar pelo meu corpo.

De novo não.

Não.

Não.

Não.

Não.

A mão de Milo afrouxa e meu pescoço se liberta de sua mão.

Ela passeia pelo contorno de meu rosto até pousar na minha boca.

Meus olhos não encaram os seus, porque certamente eu estaria encarando meus piores pesadelos, mas sim eles olham, a espada que se encontra em seu quadril.

Os homens com a partir de dezesseis anos tem total liberdade de se locomover com uma espada ou qualquer arma de defesa. E esse trio não é diferente.

Os toques deles se intensificam, em um pleno corredor sinto as mãos de Drake passearem por todo meu corpo enquanto Milo me encara, sussurrando palavras malfeitoras para mim.

E quando percebo que eles vão me levar para outro local, para uma sala próxima dali eu
desembainho a espada de Milo e o empurro.

Ele corre em minha direção, tentando com brutalidade apanhar a sua espada de minha mão.

Com impulso, eu o impeço de finalizar seu ato quando a espada curta e polida corta a pele de sua mão, causando um longo e fundo corte pela metade de sua mão.

Um grito estridente sai do fundo de sua garganta quando ele recua passos para trás, como seus amigos.

Meu corpo todo treme, mas a espada continua firme em minhas mãos.

- Maluca! - grita Milo – Essa maluca me cortou!

- E cortarei de novo se continuar gritando como um bobo – respondo rispidamente.

Isto foi bom.

Satisfatoriamente bom.

Não é nem um terço do que ele já fez comigo, mas parece que não algo que eu devesse abaixar a cabeça por isto. Parece algo que eu deveria me aplaudir, não me beliscar a noite por isso.

Eu sinto uma rebeldia crescer dentro de mim quando eu me viro para encarar os três que
olham furiosos, curiosos e assustados.

- Quem você pensa que é para fazer isso comigo?

- A garota que não vai aceitar mais isso – respondo mirando a espada para ele – E, para sua segurança, eu recomendaria que o cavaleiro permaneça longe de mim.

Os alunos que saíram do refeitório, em direção as suas próximas aulas começaram a aparecer.
Escuto gritinhos agudos, múrmuros e exclamações. Milo se faz de vítima, tornando a cena parecer muito mais vitoriosa para seu lado, do que para o meu.

As pessoas me encaram com medo e não precisa de muito tempo para que crie uma multidão em torno de mim e do trio.

- O que está havendo aqui? - a voz do diretor ecoa pelas vozes agitadas. As pessoas se espremem uns contra outras para abrir um pequeno vão para que o homem passe. O cenho do diretor se franze e ele precisa de alguns minutos para ter certeza de que o que estou segurando é realmente uma
espada – Srta. Aldrich, como ousa machucar um aluno dessa forma?

- Diretor... - tento me explicar, mas escuto outra voz se sobressaltando nessa perturbação do corredor.

- Deixe-me passar, por favor – Scott agora está ao lado do diretor, também com o cenho franzido – Clara?

- Ela me agrediu com esta espada! Os senhores não conseguem ver isto? - Milo diz, choramingando.

- E por qual motivo ela fez isso, Meyer? - Eduardo Eno surge ao lado do príncipe, parecendo ligeiramente cansado, como se tivesse corrido para chegar aqui.

- Porque é maluca, é claro. Qual outra alternativa poderia ser?

Passo a ponta de meu dedo pela espada, sentindo-o deslizar fracamente.

- Precisa afiar melhor sua espada, teria sido muito mais trágico se ela estivesse corretamente arrumada – digo para Milo e estico a espada para ele, ele a pega com hesitação.

- Diretor – Scott pigarreia – Vou conversar com a Clara e dou a resposta dela por ela, caso queira já indo interrogar os outros alunos...

- Claro, alteza – o diretor toma um breve sorriso falso, antes de mandar todos para suas devidas salas - Vocês três me sigam – ele aponta para o trio com amargura e eu não sei o que sentir mais nesse momento.

OS QUATROS ELEMENTOS, A MULHER E A COROA Onde histórias criam vida. Descubra agora