Capítulo 6

3 0 0
                                    

Capítulo 6
Clara
977 palavras

- Certo- o professor diz em resposta a minha resposta. Ele anda de um lado para o outro, tocando seus dedos uns nos outros ansiosamente- Acredito que todos tenham compreendido o básico dos elementos e suas características no corpo de cada homem - ele faz uma pausa simbólica antes de continuar: - Bem, como podem ver criei duplas, onde, em cada par é uma dama e um cavalheiro – ele pigarreia e em seguida faz um movimento com a mão indicando a sala – Quero que vocês, damas, observem o elemento de seu par e façam um texto. No mesmo quero que explique os movimentos, as consequências que eles trazem, o que o seu par expressa... bem, tudo – pressiono minhas unhas contra a palma de minha mão quando escuto a
parte teórica - Não precisa ser na sala de aula, podem ir para o pátio, no ar livre é, na minha singela opinião, melhor. Me entreguem no final da primeira aula.

Olho para a minha dupla, suspirando, querendo se possível que o chão aos seus pés desmoronasse e ele caísse nele.

O Eno começa a se levantar.

- Quero fazer lá fora – anuncia, porém, faço uma careta – O quê? Você deve ter escutado o professor ou você também tem problemas de audição?

Me levanto, pegando o meu livro com raiva.

- Não, Eno, eu escutei muito bem - digo encarando-o -, mas sinceramente, acredito que quem não escutou foi você, já que o professor disse: trabalho em dupla, não individual. Então eu também tenho direito de não querer sair da sala de aula.

Ele ergue uma das sobrancelhas, um sorrisinho de canto aparecendo nos seus lábios.

- Porém, o trabalho é para você escrever sobre meu elemento, então quem entende onde é melhor executá-lo sou eu – contraio a minha mandíbula.

Estou pronta para recuar, cansada e enfim fazer o que ele pede quando, o professor é mais rápido e me interfere:

- Srta. Aldrich – ele me chama, me viro para ele. O professor indica a sala vazia -, não faça pose, se ele quer ir, é para fazer como todas as meninas: ir. Andem.

Eu não penso em sair da sala o mais rápido possível.

É irritante, irrita-me a forma que por mais que eu fosse fazer o que ele havia dito que, ainda assim, é injusto, mas ele tem certa razão já querendo ou não, ele realmente deve saber o que é melhor para seu elemento, mas eu sou obrigada a ser chamada a atenção por querer ficar em um lugar confortável para mim?

Me viro, sentindo-o do meu lado.

- Onde o cavalheiro pretende fazer o trabalho? - pergunto, descontando a minha raiva na palma de minha mão, as unhas afundam nela, mas mesmo assim não sinto cortando-a.

Ele não me responde de imediato, na verdade me ultrapassa e continua andando pelo corredor vazio. Andamos até chegarmos à porta que vai para o jardim.

Poucos alunos se encontram ali, mas Eduardo segue até o final do jardim, onde se encontra uma única árvore e alguns ramos de flores.

- Ali, senhorita, naquele canto, poucas pessoas passam – ele se encaminha para o lado da árvore.

Vou caminhando lentamente. Quanto mais tempo longe dele, melhor para que eu consiga me controlar o suficiente.

Me sento, apoiando as costas no tronco da árvore.

- Vai demorar muito para que comece a fazer o prometido? - pergunto colocando um pergaminho em cima do livro.

Ele tira do bolso uma caixa de fósforo e dela tira um palito. Ele o acende, a chama se espalhando pela ponta do palito. Minha mão começa a movimentar a pena quando ele olha bem profundamente para o fogo, deixando a chama maior, fazendo com que o palito se transforme em cinzas.

O fogo cai em cima da pedra em minha frente, a chama controlada por sua mão se manifestando em pequena porção antes de se chocar contra pedra e se tornar maior. Os olhos de Eno estão fixados profundamente para o fogo que está na sua frente.

Não é suficiente para que tal professor fique totalmente satisfeito.

Ele começa a fazer alguns movimentos estranhos com suas mãos, enquanto meus dedos da minha mão direita lutam contra minha observação para captar tudo enquanto tento escrever perfeitamente.

- Faz mais alguma coisa – peço- Isto não é muito extraordinário para que eu escreva neste pergaminho - resmungo, mas ele nem percebe.

Ficamos nesta apresentação por alguns minutos, nada de muita maravilha, mas eu não posso deixar de admitir que quando ele fez algo interessante, meus dedos doeram enquanto eu escrevia contra meus olhos para enxergar tudo: o fogo se espalhando pela grama, subindo pelos ramos de flores, mas aparentemente não causando nenhum dano e logo sumindo com estalar de dedos.

Corrijo alguns erros de escrita repassando tudo que escrevi para outro papel e quando o Eduardo se senta ao meu lado eu coloco as coisas em seu colo.

- Cuide-se agora sozinho se não tiver nenhum problema – digo, já estou indo me levantar, se não fosse uma mão segurando meu pulso – O que você quer, criatura que acaba com toda a minha paciência? - solto de uma vez e meus olhos se arregalam para minha frase.

- Você me chamou do quê? - pergunta, piscando freneticamente.

- De cavalheiro, Eno acredito que agora quem está com problema de audição é o senhor –
respondo, e novamente me surpreendo com minha frase – Por favor, me dê licença.

Puxo meu braço com toda a brutalidade possível, me afastando dele.

- Acreditava que princesas encantadas não fossem tão brutas como... você. Talvez na outra vida você possa usar essa brutalidade pra alguém do seu nível.

Pego a primeira coisa na minha frente: lama, encho meu punho e quando me viro para ele o mesmo não tem tempo para desviar da lama em sua testa.

Saio de lá com medo, medo dele contar algo para alguém, mas algo no meu interior dizendo que foi o merecido para o mesmo.

OS QUATROS ELEMENTOS, A MULHER E A COROA Onde histórias criam vida. Descubra agora