Capítulo 16

1 0 0
                                    

Capítulo 16
Clara
2043 palavras

Acredito que a coisa mais complexa que eu tive em toda a minha vida não são os duelos ou negações de uma mulher, mas sim tudo que eu falei para dois homens.

Eu fui abusada. Abusada de meu corpo; abusada de meu próprio autocontrole; abusada de brincadeiras; abusada por ser mulher; por ser inferior, para eles.

Contar agora tudo que eu sofri desde o início não vai ser fácil. Eu vou ter que contar algo para alguém que não sabe o que é voltar para casa suja de terra, com manchas no corpo, com dores e sangue.

Para homens, na sociedade, nós mulheres não somos nem consideradas um humano. Um objeto deveria ser o termo melhor para dizer quando eu penso nas mãos dos três em mim.

Cada toque, cada marca, cada lágrima que eu já derramei por conta de cada toque, por cada
marca, por cada toque e cada marca, por cada trauma, cada lembrança, cada lucidez em momentos que eu pensei que fosse loucura, enquanto nada me salvou.

- Estava me defendendo – digo encarando o príncipe - Eles iriam me levar para uma sala próxima do corredor, para fazer certas atitudes que acredito que seu amigo já saiba que são, já que nos disse que escutou a conversa dos cavalheiros no refeitório, certamente sabe do que trata, então, com todo respeito, alteza, se queira saber o que é, peço que pergunte a ele.

- Isto eu já havia imaginado, Clara – Scott passa a mão no cabelo novamente, o desarrumando totalmente – Mas o que lhe levou a fazer isso? Eu preciso de uma boa justificativa se a senhorita quiser que eu lhe defenda para diretoria.

- Quando vossa alteza for rei, peço - engulo em seco, me lembrando completamente de quem eu estou a minha frente -, por favor que crie uma palavra que defina quando uma pessoa tem relações que normalmente são executadas por casais já casados, relações que dizem ser de amor, porém contra sua vontade.

Encaro a testa de Scott se franzido e parada súbita de olhar que Eduardo estava fazendo na rachadura sobre nossos pés.

- Eles não fariam isto com você, não mesmo – Eduardo diz, agora me encarando nos olhos.

- E por que acredita que não?

- Porque eu iria os matar se desconfiasse que eles estavam fazendo isto com você - meu cenho se franze tão rapidamente e o pigarreou do garoto parece mais alto do que o costume – Quando eu quis dizer você, quis dizer qualquer mulher, isto é um ato de covardia.

Assinto, desviando meus olhos dos dele.

- Eduardo está certo – Scott se levanta – Bem, certamente não precisa me dizer mais nada, não vou invadir mais sua privacidade – ele nos encara - Vá para casa de Eduardo, se não for incomodo, é claro – ele dá uma piscadela para o amigo.

- Ir para casa dele, alteza? - pergunto confusa.

- As pessoas irão te questionar, se não quiser, pode continuar aqui, mas caso prefira ir, eu vou até lá e lhes dou notícias.

Ele sai pela porta, sem dizer mais nada e eu custo para encarar o garoto loiro do outro lado da sala.

- Melhor irmos logo, aproveitar que agora minha mãe está na casa de alguma dama – ele oferece o braço para mim e eu não o aceito.

- Desculpe, mas eu não irei para sua casa.

- Eu não lhe perguntei nada, Aldrich.

-|-------

O Sol quase não esquenta a minha pele por conta dos ventos que sopram pela estrada de terra.

Seguimos caminho diferente, passando pelo castelo e seguindo a trilha até a casa dos nobres.

OS QUATROS ELEMENTOS, A MULHER E A COROA Onde histórias criam vida. Descubra agora