Capítulo 8

4 0 0
                                    

Capítulo 8
Clara
1219 palavras

Sinto o peso da espada em minha mão.

Logo depois que o intervalo acabou, fomos informados que o professor que nos daria a próxima aula havia, infelizmente, decidido que não iria dar aula neste dia, então fui dispensada mais cedo.

Estou agora, aproveitando este tempo que tenho antes do jantar para treinar com um espantalho feito de tronco de árvore e alguns galhos.

Pela primeira vez, meu pai, que já estava em casa quando cheguei, permitiu que eu usasse a espada que ele utiliza em seu trabalho, na verdade ele não a utiliza, mas a maioria dos homens saem de casa com uma espada na cintura.

Ela é fina, mas grande. A sua lâmina já é gasta, mas bem afiada. Por mais que eu sempre lute com espadas de madeiras ou facas, para postura ou golpes, modos de defesa ou de autocontrole, é bem inovador segurar uma espada de verdade.

Eu tento me basear nos poucos livros que consegui no escritório de meu pai, mas são tão antigos que, forço tanto meus olhos que prefiro me basear nas aulas de esgrima que vejo escondida.

Duas vezes na semana os garotos da escola têm aulas de esgrima, para já ter o certificado militar que pode manusear uma espada, mesmo que, nunca os questionem se tenham ou não.

Eu fico em cima de uma árvore, encarando o salão pelo a janela. Como é a noite, nunca me viram anotar em meu diário dicas, golpes, posturas, habilidades... por mais que seja algo prático, tudo tem uma parte teórica e mesmo que eu não tenha um profissional para me auxiliar, eu dou meu jeito.

E nisso depois eu treino tudo o que escrevi no papel, no quintal de minha casa.

Estou com um vestido solto o bastante para que eu tente não me atrapalhar nos movimentos de luta, meu cabelo está preso em um rabo de cavalo firme e estou descalça, e o cachecol em meu  pescoço é pelo simples motivo que a temperatura atual que me faz querer espirrar.

Meu oponente é o espantalho, ele tem uma espada feita de graveto e ele balança por conta do vento.

Arrumo minha postura para outro duelo, este é o terceiro e sempre vitorioso.

Coloco um dos meus pés atrás como apoio e...

- Posso duelar com você? - me viro surpresa pela voz de meu pai atrás de mim.

- O senhor? - pergunto abaixando a espada - Não precisa, se não quiser, a espada que me deu é mais que o suficiente para me ajudar.

Ele balança a cabeça e se aproxima de mim.

- Sua mãe não sabe, ela na verdade pediu para que eu a chamasse, mas eu já estava lhe observando pela janela e não posso negar que tem talento para tal coisa – ele tira de seu quadril outra espada, mas não preciso focar muito nela para perceber que é melhor do que a que eu estou em minhas  mãos – Fique com essa e me dê a sua, afinal eu tenho mais experiência - ele inclina a espada para mim – E se por acaso eu perder, não poderá colocar a culpa em mim, como disse eu tenho mais experiência o que significa que tenho mais idade.

Sorrio e pego a espada.

Ela é grande e sua lâmina é maior que a outra, no cabo eu encontro pequenas ondas do mar feitas  detalhadamente.

- Era de meu pai – ele informa e eu vejo em uma fração de segundos um rastro de sorriso passar pelo seu rosto – Ele era um ferreiro e fez essa espada em homenagem a linhagem de homens que seguiu pela família do elemento de água. Clara, essa espada passou pelos meus irmãos até chegar em mim que sou o mais novo e o certo é que eu passe para daqui a alguns anos, se você tiver um
filho com um homem de elemento de água a ele. Mas hoje eu vejo que a minha filha, por mais que não possua nenhum elemento, sabe usar uma espada melhor do que todos que a seguraram.

Assinto, sentindo um calor dentro de mim.

Arrumo minha postura que estava péssima pela minha inclinação para ver todo os detalhes que a espada apresenta, mas com essa certa formalidade que ele fala comigo, não tem como eu não me submeter a ficar apta para tal modo.

- Então o senhor irá me entregar esta espada? - pergunto curiosamente, dizendo as palavras em tom baixo como se alguém fosse me culpar por perguntar.

- Não exatamente, saberá onde ficará guardada, poderá usá-la em momentos de precisão, mas não quero que a leve consigo para lugares aonde vá - assinto enquanto passo meus dedos pela lâmina, sentindo-a deslizar facilmente – Bem, quero ver se minha filha duela tão com pessoas de verdade
quanto com pessoas de madeira.

Solto uma risada abafada pela minha tosse que viera em um momento inapropriado.
É a primeira vez que duelo com uma pessoa de verdade e isso causa euforia dentro de mim, mas também nervosismo, certamente porque é uma pessoa e não uma pessoa qualquer, mas sim meu pai.

Isso pode dar muito certo, mas também muito errado. Porém, o que os olhos veem o coração sente, então significa que, se eu ganhar, meu coração sentirá a vitória e caso eu perder, a derrota também será abraçada da mesma forma.

Meu pai ajeita sua postura, ficando de uma forma séria, entretanto divertida, como se isto não passasse de uma atividade normal que os pais fazem com suas filhas.

Comigo é um pouco diferente. Eu tento levar com leveza, mas uma luta é como uma partida de xadrez: você pode mover um peão errado e acabar perdendo seu rei.

Um passo incerto pode levar ao fim de uma coisa que começou de forma leve como uma pena.

Meu pai estende sua mão e eu a aperto.

- Boa sorte, minha filha – no segundo seguinte eu o vejo me atacar.

Faço da espada de um escudo, o barulho do metal se chocando contra metal ressoa por todo quintal.

Ele não é nada piedoso, e eu não culpo por isso, eu também não sou, não neste sentido.

A luta é ensinada como uma forma de defesa, não como uma arte, então eles ensinam da forma mais bruta, da forma que você ganhe, mesmo que seja da forma mais cruel.

Estamos nos movimentando aos poucos, passos curtos, ou para defesa ou para golpes bem-sucedidos.

O ataco na lateral de seu corpo, mas tenho tempo de virá-la para que não o corte. Não seria nada racional cortar meu próprio pai, no meu primeiro duelo de verdade e algumas horas antes de para que aconteça um jantar.

Ele devolve, tentando acertar meu ombro, mas sou totalmente rápida o bastante para que eu me defenda e sentir a força das espadas contra uma outra, para que entenda o motivo de sua espada voar para longe.

Penso por uma fração de segundos que ele certamente estará aborrecido, não era o certo, era?

Deveria ter sido pior, mais fraca, talvez, e não vencer logo de primeira, ele pode assimilar isto como se eu estivesse sendo esnobe.

Mas então olho para o mesmo, indo pegar sua espada e a colocando no quadril.

- Agora tenho total certeza de que fiz o certo em lhe desafiar – ele me encara curiosamente – Clara, você pode me ensinar estes truques quando voltarmos?

OS QUATROS ELEMENTOS, A MULHER E A COROA Onde histórias criam vida. Descubra agora