Capítulo 3.

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Capítulo 3
Clara.
916 palavras

Acordo junto ao nascer do Sol, a brisa quente invadindo o quarto e me fazendo lembrar que ontem eu acabei deixando as cortinas abertas e que as minhas bochechas ficaram grudentas por conta das lágrimas.

Me levanto do chão certa dificuldade, e a minha primeira visão do dia é o quanto estou destruída.

As marcas em meu pescoço e clavícula são percebidas em meu reflexo no espelho pela gola arregaçada do meu vestido. Eles são de golas altas, mas depois de ter sido puxada a noite elas se bagunçaram.

Puxo a manga longa para cima e tenho uma visão dos hematomas se formando por meio de meus braços e eu a puxo de volta para baixo não querendo mais visualizá-las.

Encaro meu pescoço novamente e a marca de nascença que, no caso está aqui pelo simples motivo no qual eu nasci. Eu nunca pude mostrá-la para ninguém, na verdade meu pescoço ao todo não poderia mostrá-lo, meus pais me informaram que era como se fosse um respeito a mim mesma, por mais que, eu vejo as garotas sem cachecol às vezes, não me importo mais.

Os hematomas que ele tem é uma das questões pelo qual eu não o mostro. Entretanto, a minha marca de nascença é muito meiga, de certa forma. Ela tem um formato de uma flor, uma flor quatros pétalas e mesmo que esteja coberta de marcas que não são por minha própria vontade, eu
diria, eu ainda consigo enxergá-la.

De qualquer forma, isto não tem mais importância.

Eu não vou responder as perguntas do porquê eu estou com hematomas, bem, é constrangedor.

Mulheres que mostraram seu corpo para homens que não seja seu marido é melhor a morte do que a vida que você terá que enfrentar.

Eu já vi casos, casos horríveis de mulheres saindo deste reino, com uma mala na mão, dignidade, não existindo mais enquanto pessoas batiam palmas para sua atitude, atitude de fuga.

E mesmo que eu saiba, eu compreendo que eu sou a vítima dessa história, eu não tenho o que fazer, eu não posso fazer nada contra e é isso.

O tempo terá que ser suficiente para me ajudar.

Me viro contra o espelho e encaro o cachecol na cadeira próxima a mim, eu não hesito em pegá-lo e cobrir meu pescoço.

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A água fria em minhas costas me faz estremecer.

Tive a sorte de ter dois baldes cheios de água aqui no banheiro e eu não ter que precisar descer para o jardim, para coletar a água no poço e ter a chance de minha mãe ver que dormi com o uniforme que, agora está escondido embaixo da minha cama para que, quando eu chegar, eu o lavar sem que ela perceba as manchas de terra ou algumas de sangue presente nele.

Meu cabelo ruivo, torto, está sendo penteado por mim. Ele é curto, batendo nos meus ombros, o que faz que me olhem estranho já que o padrão de beleza daqui, para as mulheres, são cabelos longos por conta do frio e também dizem que expressa comportamento, amor ao corpo. Mas já o
meu, tem partes mais curtas e outras mais longas, uma infância dolorida, ele apenas é uma lembrança.

Tento não me comover pelas bolhas transparentes de sabão, pelo simples fato que irei me atrasar e não é outra preocupação que preciso.

Saio do banheiro e corro com a toalha enrolada pelo corredor até o meu quarto, onde no mesmo me tranco e encaro o limpo uniforme que se encontra em cima da minha cama, um vestido simples dourado e preto na saia, em quadriculado e uma parte de cima com mangas longas, e tecido quente.

Me seco rapidamente e logo começo vestir o espartilho. Me sinto presa quando começo a vesti-lo e apertá-lo contra meu tronco, sentindo meus seios aumentarem seu volume e minha respiração se prender por um momento, até eu soltá-la com dificuldade.

A primeira vez que eu usei um espartilho foi minha mãe que o colocou, apertando mais do que deveria eu quase desmaie por conta da falta ar que sentira.

Me olho no espelho e ajeito minha postura, meus ombros ficam largos e os cantos dos meus lábios sobem por uma fração de segundos.

Espada.

Socos.

Postura.

Alvo.

Mira.

E golpes.

Por mais que seja proibido, eu amo. Por mais que seja algo que somente os homens podem aproveitar, eu amo.

Eu nunca duelei de verdade na minha vida, mas já enfrentei milhares de bonecos de madeira que coletei dos gravetos que caem das árvores, já enfrentei bonecos de pano e bem, treino quase todos os dias no jardim de casa, com uma espada de madeira que minha mãe iria jogar fora quando meu pai disse que era sua quando criança.

A luta é como um remédio, um remédio que me faz sentir viva. Quando sinto minhas juntas molhadas de suor, minhas costas doídas e meus músculos rígidos mostram que meu final do dia foi o suficiente.

Mas nem sempre é assim e eu tento mostrar o contrário, por mais que não consiga.

Vizinhos me veem lutando e comentam pela vizinhança, eu sou assunto algumas semanas e de causa de olhares contra mim.

Me sinto como fosse errado. Errada por fazer algo que eu goste.

Os homens com seus elementos conseguem tudo e os elementos são da Natureza, e pode não parecer, mas ela deve estar ao lado deles já que está contra nós, tecnicamente contra mim.

OS QUATROS ELEMENTOS, A MULHER E A COROA Onde histórias criam vida. Descubra agora