Enquanto esperava o horário de saída de seu voo, Satoru apenas divagava, não pensava em absolutamente nada. Uma silhueta familiar parou ao seu lado.
- Não me diga que irá para Okinawa comigo?
- Não, mas queria falar com você antes de ir...
- E sobre o que seria, Nanamim?
- Quero saber... o que devo fazer Gojo?
- Eu não sei o que eu devo fazer, como poderia dizer a você o que deve fazer...
- Então eu deveria te contar algo que quer saber em troca de um conselho? – barganhar era uma opção.
- Agora estamos entrando em um tópico interessante...
- O quê quer saber?
- Quero saber o que foi que aconteceu... E que fez você simplesmente afastar-se dela...
Olhou na direção de Nanami, ele estava com as mãos postas ao lado de seu corpo, parado de forma estática como sempre fazia, torcia o lábio em desgosto por ter que contar algo que ele nunca o deixou saber. Decidiu provocá-lo.
- Você sabe que agora mesmo, nesse exato momento, pelo horário – apontou o relógio na parede, 23:45 h – ela deve estar com Sukuna ou Yuuji, talvez com ambos, mas mesmo assim permanece aí com essa cara sendo consumido pelo seu próprio orgulho!
Nanami suspirou, aparentava estar mais cansado do que o habitual. Depois de uns 10 min disse:
- Não se trata de orgulho...
- Se trata do que então?
- Incapacidade... Não sou capaz...
- Capaz do que? – provocou mais.
- Quando eu a conheci, não pensei que houvesse nada de especial nela, nada além de ser uma xamã jujutsu, mas não é bem assim...
- Eu sei que vocês fizeram um contrato, sei que não sabiam disso, não sabiam que podia ser feito assim...
Nanami passou a mão pelos cabelos e parou em sua nuca, depois tirou os óculos e guardou no bolso, deu um suspiro.
- Eu sabia, Satoru... Eu sabia que se dissesse ou fizesse algo com ela relacionado a sexo poderia haver um contrato... Eu... Eu fiz de propósito...
Satoru Gojo gargalhou maldosamente.
- Ora, ora, ora parece que é mais cruel do que eu pensava...
- Não fiz por crueldade... Eu queria protegê-la... Sabe como quando você é jovem e pensa que é o herói? Então, eu pensei. Pensei que se houvesse um pacto eu conseguiria protegê-la, mas...
- Ela não precisa de proteção, não é?
- Não, mas mesmo assim...
- Foi na primeira vez?
- Sim... Eu estava um pouco bêbado – viu Gojo tirar a venda. – Não me olhe assim...
- Não disse nada, mas, um pouco bêbado eu acho difícil, se você tentou acompanhá-la... Sei que ela bebe bastante... – sorriu.
- Pois bem, então eu tinha bebido bastante, o suficiente para perder o senso queme impedia de ir até ela... – deu de ombros.
- Realmente não é algo comum, parece que nem mesmo ao mestre Mugen, li algo sobre as probabilidades para isso, tudo especulação, ninguém nunca havia feito um... O que você impediu com o contrato?
Nanami vacilou, colocou uma mão no bolso, abriu os botões do blazer que usava.
- Domínio Inato... Eu impedi que ela abrisse seu domínio inato, ou melhor, nosso domínio inato...
Gojo pareceu se divertir com a informação.
- Que ela tem um domínio eu já sabia, mas então foi isso? Você selou o domínio dela com o seu? Porque?
- Você a chamou de Persephone, não é? – Gojo concordou com a cabeça – Pois bem... A rainha do Submundo não pode ser nutrida, mantida, protegida ou salva por Adônis... Somente Hades pode supri-la em suas necessidades... Eu não sou capaz...
- Eu estava fazendo uma piada quando disse isso, não era literalmente... – colocou ambas as mãos nos bolsos.
- Mas é verdade. Tudo o que eu podia dar a ela eu dei, inclusive meu domínio inato, fiz por vontade própria... Porque eu queria que ela se defendesse sozinha já que eu não poderia protegê-la em tudo...
- Então você descobriu como os encantamentos dela funcionavam, vulgarmente ela absorve a energia apenas com contato físico, mas se estiver totalmente atraída e presa a essa energia amaldiçoada ela absorve muito mais...
- Sim... Eu esperava que ela ficasse como você, um xamã jujutsu de grau especial que nunca poderia ser derrotado...
- Oi, oi, oi Nanamim oi, oi, oi... Quem disse que eu não posso ser derrotado?
- Você sempre diz isso e acho que, para o seu bem, é melhor que seja verdade ou eu mesmo mato você!
Gojo riu. Nanami riu, uma risada anasalada como não ouvia a anos.
- Que merda... Eu quis ser professor por causa dela... – Nanami balançou a cabeça ao ouvir isso – porque não? Ela me chamou de sensei... Ainda me chama... E eu sou só 2 anos mais velho que ela...
- Eu estou onde estou porque queria proteger ela, mas mesmo a hostilizando ela sempre me olha do mesmo jeito... – concluiu.
- Então ela fez sermos o que somos? – Gojo colocou a mão no queixo.
- Não. Ela consolidou a convicção que tínhamos mas não sabíamos...
Os dois olharam para baixo depois um para o outro. E ao perceberem isso balançaram negativamente a cabeça.
- Céus, estou parecendo com você... – Gojo disse.
- Sabe quem parece com você? – Gojo balançou a cabeça dizendo que não – Itadori-kun...
- Curioso é que eu acho que ele se parece com você! – Gojo apontou.
- Porque?
- Porque você quer proteger as pessoas... Vai ver é por isso que Mari-chan gosta dele...
Nanami o fitou sério.
- Acho que se tivéssemos um filho Nanami, ele seria exatamente como Yuuji-kun – gargalhou colocando a mão na barriga.
- É mesmo? E como teríamos um filho? Você iria ficar grávido? – desgosto.
- Ora, ora parece que está aprendendo a fazer piadas... Mas acho que a mamãe seria você... – riu – Mas realmente vejo muito de você nele...
- Ela me disse isso... Disse que Yuuji-kun se parecia comigo... Eu nunca fui do tipo popular ou alegre e quando Yu morreu eu me senti péssimo por não salva-lo...
- Eu sei bem como é... Então... Tudo bem para você se ela ficar com Yuuji, se ela escolher Yuuji? Ou talvez Sukuna? Sabe... O destino dos dois não é certo... E Sukuna é uma maldição então... – provocou novamente.
- Sei que a culpa é sua Satoru Gojo, você é a escória do xamanismo ancestral jujutsu... Estava usando ela como um dos seus estudos... Como pode ponderar que eu deixaria ela com Sukuna?
- Então o que? – debochou.
- Isso era o que eu tinha te perguntado. O que devo fazer?
- Está bem... Vamos lá: Libere ela do contrato, deixe ela se virar sozinha, que absorva toda a energia amaldiçoada que conseguir, se torne a deusa do submundo, que devore as maldições...
- E se sair fora de controle?
- Estaremos lá se isso acontecer... Mas eu ainda não terminei... Diga a ela!
- Dizer o que?
- Dizer o que sente! Diga o que sente por ela, não o quê o garoto sentia, o que sente agora!
Nanami o olhou fixamente, virando seu corpo e ficando de frente, suspirou e respondeu.
- Ela sabe...
- Idiota! Ela é mulher, se não disser ela não vai acreditar, mesmo dizendo elas não acreditam...
- E desde quando você se tornou tão experiente nisso?
- Ela mostrou as partes feias dela para você? Se fez isso é porque queria que você a amasse...
Nanami cruzou os braços.
- Que eu a amasse? Satoru... Ela está nos braços de outro... De outros...
- Ah! Até que enfim vai admitir que isso te incomoda! – bateu a mão na própria coxa.
- Claro que me incomoda! – descruzou os braços e apertou os olhos com os dedos. – Não sei como ela não fez isso com você...
- Se eu fosse ela estaria fazendo exatamente a mesma coisa! – Nanami bufou para ele – Se quer, deve dizer porra! Se o Sukuna, que é uma maldição, é capaz de dizer que a quer!
- A quer? Quer fode-la... Quer usá-la... Quer devorá-la... E vai me perdoar mas, não conheço ninguém que não queria isso...
Gojo ajeitou sua faixa, como de costume, vendou seus olhos.
*Passageiros com destino a cidade de Okinawa, embarque pelo portão 4!*
A voz da controladora de acesso ressoava por todo saguão.
- Você pediu um conselho e dei, mas sei que só queria me contar o que te apertava, se acha que a culpa é sua, engula ela e morra, quem sabe assim não tenha arrependimentos... Nos vemos quando eu voltar de Okinawa, se precisar de algo me ligue. Bye, Bye Nanamim!
Gojo não esperou uma resposta, apenas virou as costas e saiu em direção ao portão 4.
Se Nanami queria se lamentar, então que se lamentasse até sua morte.