Capítulo 20

1.2K 83 45
                                    

Para tornar a experiência melhor, leia o capítulo ouvindo "Heaven" 


Não conseguia tirar a Ana dos meus pensamentos, porra como eu nunca percebi? Sempre esteve na minha cara, hoje mesmo quando ela disse que nunca havia reclamado das meninas que ficava, o rosto sério, os braços cruzados, a perninha impaciente batendo no chão, tudo isso deixava tão evidente o ciúme, como eu fui burro. Como mesmo me amando ela ainda me ajudava com as garotas que eu tinha interesse? Como ela tinha sido tão forte de permanecer ao meu lado por todos esses anos nutrindo esse sentimento, sem me dizer nada.

Tinha tanta coisa passando pela minha cabeça, que só percebi que estava em Londrina quando chegava na frente do prédio dela. No silêncio do meu carro, fiz uma prece silenciosa a Deus, pedindo que ele colocasse as palavras certas na minha boca, eu não queria mais magoar a Ana, não depois de uma vida inteira de amizade e mágoas que com certeza ela guardava, por eu ser tão desligado e nunca ter percebido seus sentimentos por mim. Minha entrada era liberada no prédio dela, cumprimentei o porteiro e entrei no elevador, sentindo minhas mãos suarem e o coração disparar, eu estava nervoso. Cheguei na porta do apartamento e toquei a campainha, uma Ana sonolenta abriu a porta pra mim, com um pijama que eu conhecia bem, pois havia trazido de presente pra ela de uma das viagens que eu havia feito. Ela estava linda, aliás, ela era linda, mas igual aconteceu no churrasco, ela não olhava nos meus olhos

Ana: Entra Gu - disse baixinho e eu entrei vendo ela fechar a porta atrás de nós - tá tudo bem? - ela perguntou

Gustavo: Está sim e com você? - perguntei olhando pra ela que mexia em suas mãos, deixando claro seu nervosismo

Ana: Tudo - respondeu e olhou pra mim pela primeira vez desde que eu tinha chegado

Gustavo: Vem cá - chamei ela pra sentar ao meu lado no sofá

Ana: O que aconteceu que você quis vir aqui essa hora? - ela me questionou

Gustavo: O recado no canto do convite - respondi baixinho e ela abaixou ainda mais a cabeça - Ana - chamei, erguendo o rosto dela com meus dedos - olha pra mim Ana - pedi mais uma vez - Eu não tinha visto o convite, vi quando cheguei em casa hoje, você acha que eu não me importaria com o que você sente por mim? - perguntei

Ana: Nunca se importou e muito menos percebeu - disse dando de ombros

Gustavo: É verdade então? - perguntei sentindo meu coração disparar - o que você escreveu no convite, é verdade? - ela não me respondeu, continuava com a cabeça baixa, porém quando ergueu seus olhos, algo dentro de mim se quebrou, ela tinha seus olhos cheios de lágrimas não derramadas

Ana: Sim, é verdade - disse derramando as primeiras lágrimas, levei minha mão ao seu rosto, enxugando-as - acho que você foi o único que nunca percebeu

Gustavo: Desde quando Aninha? Por que você nunca conversou comigo sobre isso? - falei indignado

Ana: Como colocar uma data se nem eu sei, acho que me apaixonei por você desde que nos conhecemos ou talvez foi na vez que você segurou minha mão porque o médico precisava dar pontos no meu braço e eu estava com medo, talvez tenha sido nas inúmeras vezes que você me defendeu de algo ou talvez quando você cuidou de mim na minha primeira cólica menstrual, com chocolates e carinhos - disse com ainda mais lágrimas escorrendo pelo rosto - Como eu ia conversar com você, se a cada semana você estava apaixonado por uma garota diferente, se toda vez que você falava do seu sentimento por mim era pra se referir a mim como sua irmã? Desde que eu percebi que esse amor todo que eu sinto por você ultrapassou o de melhores amigos, eu venho tentando deixar ele escondidinho, por saber que nós nunca daríamos certo, você quer curtir, quer aproveitar sua vida, você ainda é novo e eu queria alguém pra formar uma família - disse passando a mão pelo meu pescoço, onde havia uma marca da última garota com quem eu sai - você é de todas, ao mesmo tempo que nunca vai ser meu - Antes que ela conseguisse tirar a mão do meu pescoço, eu a segurei no lugar.

Gustavo: Não fala assim Ana, eu sequer imaginei que você pudesse nutrir outro tipo de sentimento por mim - disse olhando pra ela

Ana: Por que você quer conversar sobre isso agora Gu? Eu só não queria me casar sem que você soubesse ao menos. Esquece isso, o que eu escrevi não vai mudar nada, eu me caso em 20 dias - ela disse tentando tirar sua mão das minhas, mas não permiti

Gustavo: Não fala desse jeito Aninha - segurei ainda mais firme sua mão entre as minhas - faz umas semanas que eu venho percebendo um sentimento diferente por você, que também não é de melhores amigos - falei fazendo com que ela arregalasse os olhos

Ana: Você ta doido - disse negando com a cabeça

Gustavo: Não tô - me defendi - Larga o Felipe e nós podemos ir tentando Aninha, por favor - disse praticamente implorando

Ana: Você só está confuso Gu - disse soltando a mão das minhas e passando no meu rosto, fazendo um carinho gostoso que só ela sabia - você está com medo de perder sua melhor amiga que estava aqui sempre, é só isso - disse sorrindo triste

Gustavo: Não é isso Ana - respondi indignado - eu saberia se fosse e jamais falaria isso só por falar - disse torcendo para que ela acreditasse em mim - você me conhece Ana Flávia

Ana: Justamente por te conhecer Gu - sorriu triste - você está desesperado, ainda mais agora que descobriu o que sinto por você, viu nisso uma oportunidade pra me fazer desistir de um casamento que você não concorda

Gustavo: Você consegue se ouvir Ana? - perguntou indignado - você nem ama esse cara, está casando por segurança? Desiste disso, por favor, você mesma disse que me ama -falei ficando desesperado

Ana: Eu amo, nunca escondi isso de você - respondeu séria - mas e você Gu? Você me ama? - disse me deixando mudo - ta vendo? - sorriu carinhosa - eu não posso desistir de algo certo, de alguém que tem certeza que me ama, por alguém que ainda precisa descobrir o que sente por mim, a gente não daria certo Gu, temos objetivos diferentes

Gustavo: A gente pode tentar Ana, podemos fazer dar certo - pedi, quase implorando

Ana: Não podemos Gu, eu te conheço e você também se conhece - disse sorrindo carinhosa - você só está confuso - disse da forma carinhosa que só ela tinha, colocando a mão no meu rosto e fazendo um carinho - eu não estou te culpando por ser assim, você é solteiro, tem todo direito, eu te entendo você querer curtir sua vida - ela disse fazendo um desespero crescer no meu peito - não quero que você se sinta culpado por nunca ter percebido, eu te prometo que vou casar e ser feliz no meu casamento, e vou ser a melhor amiga que eu posso pra você - fungou com as lágrimas caindo de forma abundante no seu rosto - eu vou arrumar o quarto de hóspedes pra você, tenho certeza que você nem dormiu antes de pegar a estrada, dorme um pouco, descansa e depois você volta pra São Paulo - ela levantou me dando as costas e indo em direção ao corredor.

Fiquei um tempo ainda na sala, tentando assimilar tudo que ela havia dito, eu até podia estar tentando entender o que sentia por ela, mas eu sabia que descobriria se ela me desse a chance, fui em direção ao quarto que eu nunca tinha ocupado, pois sempre que estavamos juntos dividimos a mesma cama. Olhei ela toda cuidadosa arrumando a cama pra mim, me lembrando de tudo que ela sempre fez pensando no meu conforto e preocupada com a minha felicidade, eu precisava fazer ela desistir desse casamento, nós dois precisávamos tentar ao menos, meu corpo e minha mente imploravam por isso. Ela olhou pra trás sentindo minha presença, com os olhinhos inchados de tanto chorar, sorriu de lado, vindo em minha direção, mas antes que ela conseguisse sair do quarto, a abracei fazendo carinho no cabelo dela, quando ela se afastou minimamente de mim, segurei na base dos seus cabelos de forma leve, dando um beijo na testa dela e em um ato impulsivo, roubei um selinho daquela que vinha me tirando o sono a semanas e virando meu mundo de cabeça pra baixo.

Seu lindo sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora