Capítulo 19. Conforto

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Continuaram tomando café enquanto conversavam sobre coisas totalmente aleatórias, porém bem divertidas.
Ray não conseguia parar de achar a presença de Sand reconfortante; se sentia abraçado por alguém que poderia colocar sua confiança e suas inseguranças, pois sabia que não seria julgado por ter medo de coisas tão estúpidas mas, que o afetavam tanto.
Seus traumas sempre o impediram de fazer muitas coisas por medo de ser abandonado ou rejeitado, porém agora sentia coragem para falar sobre coisas que tanto o amedrontam. Sentia coragem para falar sobre seus sentimentos mais ocultos com Sand, o cantor do bar que saiu apenas por uma noite, mas que conseguiu capturar sua atenção e seu coração também.

A atenção de Ray em seus pensamentos foi roubada quando Sand se levantou pegando os pratos e talheres que estavam sobre a mesa, os levando até a pia. Ray o seguiu ainda jogando conversa fora. Gostava de conversar sobre coisas totalmente sem sentido com Sand.

- Você tem certeza de que você não tava bêbado o suficiente pra esquecer seu celular no bar da P'Yo? - perguntou Sand rindo enquanto lavava um prato.

- Quase não tinha bebido naquele dia. Era quase impossível eu esquecer por estar completamente bêbado que nem das outras vezes. - respondeu encostado na bancada ao lado do maior.

- Outras vezes? Então é recorrente de você esquecer das coisas. Você é um homem barbado e ainda tem que ter uma babá pra cuidar de você?

- Se eu quiser posso contratar uma. Mas acho que não seria justo, já que elas cuidaram de mim minha infância quase inteira.

Essa frase fez com que o clima descontraído de antes, desaparecesse como vapor. Sand parou o que estava lavando e olhou para Ray que tinha um sorriso triste no rosto enquanto olhava para o chão.
Ray não queria olhar para cima e se deparar com os olhos cheios de pena de Sand. Tinha medo de que a primeira vez que ele falasse mais sobre seus sentimentos, fosse assustá-lo e fizesse Sand se afastar.
Depois de alguns segundos em um completo silêncio, ouviu o barulho do prato ser deixado dentro da pia e sentiu seu corpo ser envolvido por Sand em um abraço.

- Eu não sei pelo o que você passou, mas você tem permissão pra ser fraco, pelo menos comigo. - disse Sand abraçando Ray.

Ray não respondeu. Apenas sentiu as lágrimas descerem por seu rosto ao ouvir as palavras de Sand. Sentiu raiva por ter mostrado seu lado mais fraco tão rapidamente para o garoto que havia ficado apenas por alguns dias. Não conseguia conter suas lágrimas apenas sentia elas rolarem por seu rosto, molhando o ombro alheio. Porém sentir Sand o abraçando era totalmente reconfortante, era quente e ele podia se sentir acolhido.
Um abraço que não recebia desde do suicídio de sua mãe. Um abraço de conforto.
Sand não sentia pena de Ray. Sentia que Ray era do jeito que era, não por erro dele, mas por medo da rejeição. Não sabia exatamente pelo o que ele tinha passado, talvez nem precisasse saber, porém queria mostrar para o outro que ele estava ali independente do que acontecesse.
Sand levou sua mão até a nuca alheia fazendo carinho na mesma, como uma forma de consolo.

Passaram um tempo abraçados em silêncio. Eles não precisavam falar, apenas queriam sentir aquele momento.
Ray, agora, continha melhor suas lágrimas e sua respiração, que antes era cheia de soluços entre alguns arfares. Se sentia mais leve, talvez as lágrimas fossem um grande peso em seu corpo.

- Seu abraço é realmente reconfortante. - Ray falou quebrando o silêncio, ouvindo uma risadinha baixa de Sand. Aquela pequena risada fez com que Ray se sentisse ainda melhor. Apenas sentir que poderia fazer o outro rir mesmo estando totalmente quebrado por dentro, parecia valer a pena.

- Para de ser besta. Quebrou o clima totalmente. - disse Sand dando dois tapinhas leves nas costas alheias. - Já que você já está melhor, deixa eu terminar de lavar essa louça.

- A louça você pode lavar depois. - retrucou Ray apertando mais o abraço.

- Aí! - reclamou Sand após sentir o aperto em suas costas que ainda doíam por conta dos arranhões da noite passada.

- Desculpa, desculpa! - disse Ray se afastando do outro quase que de imediato olhando para ele com preocupação. - Te machuquei? Foi mal esqueci que suas costas estavam doendo. Quer que eu faça um curativo? Deve ter alguma caixa de primeiros socorros por aqui.

- Não precisa. Só dói um pouco, é suportável. - respondeu Sand olhando para o outro que parecia realmente preocupado. - Não sabia que você se importava comigo.

- Claro que me importo! Agora que você já entrou na minha vida, não vou deixar você simplesmente ir embora. - falou Ray em um tom pretensioso porém carinhoso, Sand não conseguiu identificar muito bem.

- Que isso? Uma declaração de amor? Esse tipo de cenário me lembra os filmes americanos clichês dos anos 90. - retrucou Sand rindo. Não era como se ele não quisesse descobrir se Ray tinha interesse, não somente em seu corpo, como também por seu coração.
Talvez ele estivesse se iludindo? Provavelmente, porém era mais fácil pensar na primeira possibilidade do que sofrer antecipadamente pela segunda.

- Para de ser besta, eu acabei de chorar na sua frente e você fazendo piada. - Ray balançava a cabeça com um sorriso no rosto. - Mas eu falei sério. Eu realmente quero saber mais sobre você, mesmo que a gente se conheça a pouco tempo, vamos dizer assim. Eu me sinto confortável com você, sinto até que poderia começar a ter algo sério com você, se você quiser, claro.

- Hum, não sei. Você nem é tão bom assim. - falou Sand com um tom sínico na voz, cruzando seus braços e desviando o olhar do outro que não desviou os seus nem por um momento se quer.

- Eu sou perfeito. - respondeu Ray sarcástico.

- Mesmo assim... Não tenho certeza.

- Qual é a dúvida? Pessoas matariam para ter um homem como eu. Sou rico, bonito e ainda bom de cama, mas essa você já provou ontem. - falou Ray com um sorriso provocador enquanto rodeava com seus braços a cintura alheia afim de o trazer para mais perto.

- Não sei se você é digno de me ter como seu namorado. - disse Sand olhando nos olhos alheios, sínico.

- Nada disso! Eu sou muita areia pro seu caminhão, por isso você tá em dúvida. O que é isso? Não vai conseguir me aguentar?

- Não acho que esse seja o caso, mas sim o contrário já que foi você quem veio até mim primeiro... - retrucou Sand sorrindo, se inclinando para mais perto do rosto de Ray.

- Pode até ser, mas acho ainda que o seu caminhão é extremamente pequeno pra minha areia.

Os dois continuaram abraçados discutindo sobre quem era mais areia para o caminhão de quem. Era completamente engraçado o rumo que aquela conversa tão séria havia tomado. Eles estavam felizes e era isso que importava, apenas.

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